Rian levantou-se despedindo da galera da rodinha. Laísa ainda estava falando quando sentiu ele chegar por trás, abraçá-la pela cintura e falar em seu ouvido:
Vamo? ㅡ Aquela era a melhor sensação. Ela sabia que teria que andar bastante ainda, mas já estava bem mais próxima de tirar os tênis e descansar, do que quando teve que ficar conversando com a Valentina logo no início da festa.
Vamo sim. ㅡ Ela se interrompeu ㅡ Gente, to indo, beijo beijo. ㅡ Laísa estava nem um pouco a fim de cumprimentar um por um, então só acenou abrindo e fechando a mão, o que obviamente não impediu Laís de puxar ela e a abraçar.
Miga! Brigada por ter vindo, vão com cuidado, amo vocês!
Brigada você, miga, a gente se fala amanhã, okay?
Indo em direção à rodinha, os dois apenas disseram um "tchau" mais ou menos animado e acenaram, saindo de mãos dadas. Como sempre, era só sair pelo portão externo da área da piscina que ficava logo na extrema direita em direção à rua. Como aquele era um condomínio fechado, não havia preocupação em deixar ou não o portão encostado. Os dois chegando no portão não deixaram de escutar aquela voz de banshee atacando mais uma vez:
Metam bastante, seus gostosos! ㅡ La respirou bem fundo e audivelmente para apenas Rian escutar e se virou, dando de dedo e sorrindo para a amiga de infância.
Ai, mal vejo a hora de tirar esse tênis e deitar, Ri... ㅡ Ele sorriu.
Cê sabe que vai tirá mais que isso, né? ㅡ La, não conseguia aguentar a forma como ele ia de namorado carinhoso a um completo safado em minutos, ela realmente gostava disso nele. Era natural, e ela não sentia-se forçada, na verdade, ele nunca a forçou a nada.
Aproveitaram que já estavam na rua e deram um selinho. Caramba, como era bom sentir essa coisa no peito, esse carinho que fazia-a sentir que o tato não era suficiente para senti-lo, como se uma vontade de esmagá-lo e estraçalha-lo fosse a melhor opção para conseguir satisfazer todo seu afeto por ele. Portanto, ela se restringia a abraçar o braço dele com mais força, e se forçar mais para se aconchegar nele.
A noite era imensa e interminável, diante de sua caminhada. Estava tudo tão quieto que conseguiam ouvir os sutis sons da noite, desde o balançar dos galhos até os veículos ao longe. O condomínio em que o pessoal morava era imenso, e eles não estavam nem um pouco perto da portaria. Passaram pela imensa e amaldiçoada casa dos Azevedo-Barbosa. Local esse, frequentemente visitado pela polícia, ainda mais que as outras casas dos familiares de pessoas mortas nos assassinatos recentes. Essa família recebia atenção redobrada, pois de alguma forma a filha do meio era o centro dos ataques.
Marie era, aos olhos de Laísa, uma menina extraordinária. Antes de tudo começar a acontecer, ela era o centro das atenções. Escrevia muito bem, tirava notas altas, estava constando como a oradora da turma, já havia passado em uma das melhores faculdades de jornalismo do país e do mundo. Namorava o menino, assim como ela, destaque da escola. E, claro, ambos eram conhecidos das festas por serem aqueles que mais aproveitavam do momento, e extravasavam, e mesmo assim não perdiam a moral com os outros, pois eram divertidos, nunca causavam problemas ou coisas parecidas. Laísa esperava ser como ela dali três anos, esperava que ela e Rian fossem o casal de ouro.
Chegaram à portaria, como era de se esperar, o posto estava com a luz acesa, mas o porteiro deveria estar no banheiro da cabine, dormindo. Passaram pelo portão de veículos que estava aberto e seguiram caminho. A avenida que seguiam era ampla, iluminada, e vazia. Completamente vazia. Entraram por uma rua que levava ao centro, depois de algumas quadras. As fachadas das lojas, lanchonetes e cafeterias, completamente vazias, estavam obscurecidas pela luz dos postes. Exceto de uma, mais próxima da casa de Rian. A lanchonete Gypsy era uma das poucas que mantinha-se iluminada com seu letreiro azul e vermelho neon.
Um pouco antes dela havia uma entrada entre as lojas, um pequeno beco. Rian de súbito escapou dos braços de Laísa e ficou de frente com ela. Ele sorria, aquele sorrisinho desgraçado de criança que planeja alguma arte. Ele acenou para o beco com a cabeça, e depois massageou os braços dela enquanto mordia os lábios. La, tentou acomodar a coxa com a pélvis. Quando ele fazia isso, era como se transformasse em uma enorme barra de chocolate para ela. Bem atrás, ela viu uma figura de cabelos loiros e sobretudo bege entrar em outro beco. Fora aquela pessoa, eles não seriam vistos por mais ninguém enquanto se beijavam. Ao invés de fazer qualquer gesto, ela apenas adentrou a escuridão e se colocou de costas para a parede. Rian formou uma quarta parede com seu corpo. Ele a envolveu com o beijo mais doce e delicado da noite toda. Ele a pressionava carinhosamente, seus corpos eram quase um só, e ela queria que fosse assim, queria se unir religiosamente a ele no gesto mais carnal e puro.
Contudo, como era de costume ela se tirou dessa fantasia por um momento, e abriu os olhos. Quando fez isso, passou a ouvir entre os estalos dos lábios, passos inquietos que ecoavam na noite, então viu a figura de um homem alto passar rapidamente pelas luzes dos postes. Isso a tirou completamente do momento, então afastou gentilmente Rian.
Vamos logo para sua casa? Tô com frio... ㅡ Ele sorriu, e selou o combinado com mais dois rápidos toques de lábios.
Claro, já não tamo tão longe. ㅡ Estendeu a mão e seguiram para o caminho novamente.
Passaram pelo outro beco, do outro lado da rua. Ao fundo dele havia uma iluminação mais fraca que a dos postes. De certo, aquela pessoa dos longos cabelos loiros entrou no enorme prédio abandonado, ou por uma porta que dava em outro estabelecimento. Sua casa talvez? De certo, algum dia Laísa descobriria. Atravessaram mais algumas ruas, e viraram para chegarem ao prédio em que Rian morava com a família.
Era um condomínio vertical luxuoso, todas as sacadas eram enormes, assim como os apartamentos. O da família de Rian ficava no décimo sexto andar, portanto, ela não gostava muito da sensação de ver a rua pela sacada. Entraram no apartamento, definitivamente, mais quente que a rua. Mesmo lá dentro seguiram de mãos dadas até o quarto dele. Era um quarto grande. As paredes eram de tonalidades de azul escuro, sendo a da cama, adornada por faixas que colocavam os três tons em destaque. Eles se beijaram e continuaram, como esperado.
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Anamnese.
Mystery / ThrillerO jogo de morte dos assassinos Veneza e Monstro, de três anos atrás, marcou para sempre a vida de quem vivenciou os casos. Agora, com a morte de uma adolescente, todos se perguntam se os horrores do passado estão voltando para os assombrar.