Alessia havia passado algumas horas investigando com Marie e Sandra. Mas depois de um tempo sem conseguir achar nada relevante, elas comeram um pouco e cada uma foi para o seu canto. Estava um pouco tarde, principalmente para alguém que levanta extremamente cedo. Então Alessia decidiu tomar banho. Não antes de dar uma arrumada no apartamento. Recolheu o lixo, lavou a louça, que já fazia um tempo que estava precisando, ajeitou as almofadas no sofá, e só então foi para seu quarto.
De certa forma, ela não achou que nenhuma das outras duas fossem usar o banheiro, então deixou a porta fechada e sobre a cama sua farda, com seu cinturão e arma. Também, caso elas fossem ao seu quarto, não haveria problema algum. Sandra era policial de certa forma, apenas fazia a parte investigativa, Marie era uma garota que ela tinha certeza que quanto mais longe ela pudesse ficar de armas, ela ficaria. Então, se Marie visse a arma, certamente ignoraria e usaria o banheiro, e voltaria sem nem comentar.
Alessia foi, pegou algum pijama qualquer do seu guarda-roupas e se dirigiu para o banheiro. Trancou a porta, hábito esse que cultivava desde muito nova, e então se despiu. Ela tinha usado roupas mais esportivas para esperar as, possíveis, novas amigas, então estava de leggin e top, com seu cabelo preso em um nó acima da cabeça. Desatou o coque e balançou os cabelos crespos e ondulados enquanto se admirava no espelho. Esse era um dos dias em que ela se olhava e pensava, "Valeu a pena ter me empenhado tanto". Ela se sentia completa e linda. Respirou fundo quando algumas memórias tentaram vir à tona, e assim as prendeu, por um tempo, pelo menos.
Girou o registro do lado de fora do box e esperou a água esquentar. Aquela não era uma noite muito fria, mas também não estava muito quente, portanto, ela tomaria um banho fervente. E realmente, a água estava muito quente, cada gota que batia em sua pele, ela sentia como se agulhadas a acertassem. Quente demais. Ajustou a temperatura. Agora sim, quente, mas nem tanto. O vapor tomava conta do banheiro. As ruas estavam silenciosas, os outros apartamentos também. Ela só tinha o chuveiro e o som do seu corpo sendo lavado. Passou o sabonete em seu pescoço, seus braços em seu peito, em sua barriga, nas pernas e pés. Enxaguou. Depois alcançou sua bucha para lavar as costas, e então terminou todo o resto. Ainda assim, ficou mais um tempo pensando nas coisas que envolviam o novo caso. Pensou em Renato e o quanto ele estava abalado, mesmo alguns dias tendo passado. E, por fim, pensou em si.
Enquanto se enxugava, Alessia decidiu que era hora de pensar em outras coisas, talvez adotar algum animalzinho. E assim começou a passar a toalha com água gelada no espelho. Quando começou a ver as sardas em sua pele negra e clara, decidiu que era o momento de escovar os dentes, e assim fez. Seu corpo quente contrastava com a temperatura do cômodo, então seus poros estavam todos arrepiados, e ela gostava dessa sensação. Era como se seu corpo pulsasse e ela gostava de sentir essa vida correndo em suas veias. Talvez por isso tinha decidido ser policial, não apenas por influência de Carvalho em sua vida. Estava para colocar seu pijama quando escutou a porta da sala bater.
Por um momento seu coração estourou em uma pulsada. O silêncio que se seguiu a fez capaz de ouvir o sangue em seus ouvidos, e até mesmo o latejar em sua cabeça. Ficou olhando para a porta e escutou passos. Lentamente destrancou a porta enquanto a empurrava. Segurou a maçaneta a empurrando, também, enquanto abria a porta. Da fresta da porta de seu quarto não viu nada do que ocorria na sala. Mas ouviu a porta da geladeira se abrir. Nesse instante saiu do banheiro e na ponta dos pés pegou seu cinturão com sua arma. Enquanto voltava, andando de costas, para o banheiro, ouviu os passos se aproximarem. Uma ansiedade começou a desaguar de seu peito, ela não conseguia se segurar, quase que bateu a porta sem querer, o que seria ruim. Muito ruim. Encostou a porta e se sentou no vão entre o armário da pia, e a parede atrás da porta.
Sentia sua pele sendo pressionada contra o chão gelado. Sentia como se não piscasse fazia muito tempo, e sentia que seus olhos tinham crescido. Seus lábios estavam levemente abertos. O suficiente para diminuir o som da respiração. Escutou a porta do quarto ranger. Os passos estavam se aproximando. Olhou em direção ao espelho e percebeu que só conseguia ver o topo da porta. Isso era bom, de certa forma, pois se ela não o visse, ele não a veria. A maçaneta girou e a porta lentamente se abriu. A mão enluvada tamborilava os dedos na dobra da porta. Alessia estava com o dedo na trava e pronta para mirar. Os dedos pararam. Podia ouvir a respiração ofegante. A luz foi apagada.
Alessia fechou os olhos e respirou fundo. Dentro de seu corpo, seu coração ecoava em brutas pulsadas. Ouviu a porta da sala se fechar. Aguardou por mais um tempo. Para ela se passaram muitas horas, mergulhada naquela escuridão. Tentava a todo custo tentar escutar algo no apartamento. Mas reinava apenas o silêncio. Ela tentou alcançar seu pijama e de algum jeito se vestiu sentada. Levantou e destravou a arma. Prendeu a barriga o máximo que pôde, assim como se levantou na ponta dos pés. Quando sentiu que estava de frente com a porta, seguiu à passos lentos até sua cama. Ainda estava tudo silencioso.
Acompanhou a cama com a palma da mão correndo sobre a colcha, sentiu sua farda, e procurou seu celular. Com a luz baixa da tela encontrou a porta do quarto. Fechou. Girou a mão na chave, e foi para sua cama. De lá ligou para a emergência. Leone a atendeu. Alessia contou o que havia acontecido. Ele ficou com ela ao telefone, até que escutou duas vozes familiares entrando em sua casa. Eles eram barulhentos, e eles estavam falando muita merda. Eles só podiam ser Rogério e Bernardo.
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Anamnese.
Misteri / ThrillerO jogo de morte dos assassinos Veneza e Monstro, de três anos atrás, marcou para sempre a vida de quem vivenciou os casos. Agora, com a morte de uma adolescente, todos se perguntam se os horrores do passado estão voltando para os assombrar.