Seus pais e irmãos tinham ido para a chácara dos Braga Guimarães. Haveria uma grande confraternização da turma de Marie, e Valquíria não fez questão alguma de ir. Ficariam por lá o fim de semana todo. O que garantiria para ela, tempo o suficiente para estudar em paz, fazer seus trabalhos, e ainda receber Caleb em casa. Ficar com ele seria realmente maravilhoso. A casa toda para os dois. Por um fim de semana, quase, todo. Ao menos dormiriam juntos por uma noite.
Após arrumar seu quarto, ela foi checar o ateliê. Ela tinha acabado de terminar uma pintura, e queria ver se estava próxima de secar. Pelo o que conhecia Caleb, ele certamente iria querer tocar. Lembrou-se das tarde iniciais com Evelyn, assim que ela montou o espaço. Valquíria não sabia qual era o motivo da mãe ter montado aquele espaço, assim como não sabia o porquê de só ela poder entrar lá. Mas ela queria quebrar essa regra com Caleb. Enquanto varria o corredor de carpete, que não era coberto com os plásticos das duas áreas de pintura, ela teve uma ideia. Iria arrumar o lugar, colocaria algumas luzes de natal na janela, cobriria o chão com algumas toalhas de mesa, almofadas, para melhor se aconchegarem, e acharia alguns caixotes que seu pai usava para colocar as plantas do jardim. Certamente elas estariam limpas e guardadas. O tempo se passou, e mesmo com as grandes janelas daquele quarto abertas, Valquíria pingava de suor. Deu uma olhada para o todo. As luzes presas com fita nas janelas e parede, o caixote no meio do corredor e das toalhas, um clima realmente romântico, tirando as pinturas banhadas em escuridão. Viu que ainda tinha um tempo até Caleb chegar, então foi tomar seu longo banho.
Vestida com um lindo vestido verde e florido que tampava seu busto, mas deixava os ombros à mostra, ela foi esperar pela mensagem dele na sala. O tecido era confortável, e se acomodava muito bem em qualquer posição que ela ficasse, exceto no pescoço, onde podia incomodar, caso ela não subisse mais a parte da coxa, dando uma folga. Aquela noite seria mágica. A primeira noite juntos. Em metade de um ano haviam acontecido tantas coisas. E ela estava decidida que na outra metade haveriam ainda mais coisas acontecendo. Sua vingança seria bem amarga para Marie, e incrivelmente doce em seu lábios.
As luzes ficariam acesas até o momento que Caleb entrasse no quarto, mas Valquíria queria que ele visse a magia das luzes acontecendo. Por isso ela voltou para cima e se dirigiu àquele quarto. Foi até os interruptores e os apertou. Agora ela apagaria a luz do quarto, que já não cheirava ao odor venenoso das tintas. Fechou a porta, e deixou as luzes de seu quarto acesas. Lá ela tinha uma outra surpresa aguardando por ele. Em seu celular viu que a pizza que ela pediu estava à caminho. Foi para a cozinha checar como estavam as garrafas de vinho. Tinha comprado uma a mais, para seus pais não perceberem que ele havia bebido o dobro no fim de semana. O que seria um problema para Evelyn, e uma preocupação para Ricardo. Alcoolismo não era muito bem visto naquela casa. Mas o tabagismo de sua mãe não era nem comentado. Valquíria até tinha tentado uma vez, quando mais nova, o que rendeu um tapa em sua face. Que doeu bem mais por conta dos anéis, do que pela força.
O entregador chegou, a pizza estava em perfeito estado. Pagou para ele, e deu boa noite. Ele parecia bem maravilhado com Valquíria, ou seria a gorjeta que iluminou seu rosto? Pouco se importou, era Caleb que deveria se maravilhar. Com o tempo ela também achou melhor prender o cabelo, mostrar mais seu rosto. Passou uma maquiagem bem básica para iluminar ainda mais seus traços. Estava perfeita. E Caleb perfeitamente atrasado. A pizza começaria a esfriar em cima do caixote, ela decidiu fechar as janelas, abriria quando ele chegasse. Os vinhos estavam bem gelados, como ele gostava. As taças prontas. Só faltava ele. Onde estaria Caleb?
Não demorou para uma mensagem dele chegar. "Abre a porta ae". Valquíria jogou o celular no sofá e se apressou. Parou em frente à porta. Tentou conter a euforia. Respirou fundo. Girou o trinco e a maçaneta. Lá estava Caleb, em toda forma e conteúdo. Sorridente, com o rosto um pouco inchado. Usava uma camiseta branca com um corvo em seu peito. O animal estava voando. Estava com calças jeans e tênis pretos. Em um de seus braços flores, no outro, uma sacola de papel grande com o símbolo de uma lanchonete.
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Anamnese.
Mystery / ThrillerO jogo de morte dos assassinos Veneza e Monstro, de três anos atrás, marcou para sempre a vida de quem vivenciou os casos. Agora, com a morte de uma adolescente, todos se perguntam se os horrores do passado estão voltando para os assombrar.