Capítulo 45 - Um pai, um filho.

2 1 0
                                    

Izumi olhava para o homem à sua frente. Era um reflexo de quem Victor viria a ser algum dia, mas não foi. Sandra os apresentou, mas teve que sair devido a uma urgência no quartel. Assim sendo, Izu ficou aos cuidados de Albert, o pai de Victor e, aparentemente, seu também. Eles se olharam desconfortáveis por um bom tempo. Izumi não se sentia confortável mais no bar. E muito menos se sentiria assim na lanchonete do outro lado. Laísa, Rian, Cecília, Victor, todos eles não paravam de reaparecer em sua mente.

Eu sei que essa não é uma ótima hora... ㅡ Disse Albert cortando o silêncio. ㅡ Mas o Victor gostava tanto de você, e mesmo se acontecer de eu ser seu pai, gostaria de dizer que, para mim, você já é um filho. ㅡ Izumi se assustou com o jeito que ele disse.

Você não acredita na minha mãe? ㅡ Albert riu.

Claro que eu acredito, mas, para fins legais, precisamos provar isso. Eu não estou te adotando, tô te assumindo Izumi. ㅡ Alexandre o olhava com um brilho de surpresa e alegria nos olhos. Albert via em seu olhar um pouco de Victor sendo refletido. ㅡ O que você acha disso? ㅡ ele disse após um período de pausa.

E-eu não sei o que dizer, tio...

Mas temos uma condição... Inegociável. ㅡ Alexandre Izumi engoliu a seco, enquanto olhava a expressão grave de Albert. Mas o homem então sorriu. ㅡ Você tem que me chamar de pai, a partir de agora.

Eu não sei se conseguiria...

Tudo bem, Iz-

Eu tenho uma condição também. ㅡ Interrompeu Izumi o olhando sorrindo.

Pois não?

Você tem que me chamar de Alê, assim como a minha mãe.

Por mim fechado, Alê. ㅡ Albert observou o garçom trazendo uma jarra de suco para os dois. Sabia que Victor tinha pedido o mesmo certa vez. ㅡ Mas me diz uma coisa, por que um nome composto? ㅡ Izumi se ajeitou na cadeira.

Ah... Tem toda uma história... ㅡ Disse olhando para o canto, como se tentasse se lembrar. Mas logo voltou a olhar nos olhos de Albert. ㅡ Quer a versão longa, ou a versão curta?

Acho que temos um tempo considerável até sua mãe voltar. ㅡ Sorriu para o rapaz.

Ah, tudo bem, então vou contar desde... Bom, você sabe, quando ela engravidou. ㅡ Izumi se ajeitou, não sabia se aquela história seria confortável para o seu pai.

Como seus pais não receberam bem a ideia de ela ter engravidado de um desconhecido, e por isso ter largado a faculdade, Sandra achou que o nome de seu filho teria que fazer alguma homenagem às raízes de sua família para eles se acalmarem um pouco e receberem isso como um "pagamento", tanto para ela ter o suporte deles tanto durante a gravidez quanto para que ela conseguisse estudar para se tornar uma investigadora assim que ele nascesse. Mesmo assim eles a torturavam com as circunstâncias de sua gravidez.

Principalmente seu pai. Um idoso que sempre foi um empecilho na vida dos filhos. Nunca um favor que ele prestava a eles, era isento de uma permuta. Sempre tinha um preço. Seu irmão mais novo teve a desagradável imagem de ver seu pai indo em sua casa e olhando a sua moto recém adquirida, e a levando, por uma dívida que tinha conseguido com ele. Assim como sua irmã que teve que desconvidar o próprio pai de sua casa, porque ele tinha ido fazer uma primeira avaliação para hipotecar certos bens dela. Sandra tinha que conviver apenas com eles falando o quanto ela tinha sido irresponsável, e o quanto ela era ingrata por não ser devota deles. E esse já era um preço salgado demais.

Mas como ela ia saber que mesmo sem necessariamente ter penetração, aconteceria uma fecundação? E ela nem ao menos sabia o nome do pai de seu feto, quem dirá se ele era realmente uma pessoa confiável para se ter presente na criação da criança. Às vezes foi até melhor assim. Teve um dia que tiveram a coragem de perguntar do porquê dela não ter feito aborto. Não que ela achasse isso uma atitude condenável. Mas ela sentia-se segura de si, apesar de tudo, para ter e criar um filho. E isso era algo raro em gravidez acidental, pelo o que ela sabia. Mesmo assim, ela não deixou de ter momentos de incerteza durante a gestação. Mesmo assim, ela não deixou de pensar no quanto essa obrigação seria difícil. Até porque os pais dela faziam questão de lembrá-la disso.

Então, assim que chegou o terceiro mês e ela descobriu o gênero do bebê, Sandra conversou com sua mãe, e perguntou o porquê dela e sua irmã não ter um nome que remetesse à raiz nipônica de seu pai, assim como seu irmão, e descobriu que seu pai não queria que as filhas carregassem a sua cultura, já que elas acabariam perdendo o último nome. Mas Sandra não havia perdido o sobrenome, e não perderia, dessa forma perguntou à sua mãe qual seria seu nome, caso fosse um menino. Ela disse que seria Izumi.

Acontece que por ela ser biracial, não sabia ao certo se Izumi teria os traços tão marcados quanto os dela, até porque, pelo o que ela lembrava do rapaz do qual engravidou, ele tinha traços fortemente europeus, assim sendo, achou de bom tom adicionar um nome ocidental ao seu filho, também. Disso ela achou um nome perfeito, Alexandre. E então juntou os dois, Alexandre Izumi Aguilhar Ishikawa.

Seu pai gostou da ideia, sua mãe também, e por um tempo tudo correu bem.Criar uma criança sozinha foi um grande desafio para Sandra. Por mais que seus pais a tivessem ajudado no início dos primeiros meses de vida de Izumi, logo ela teve que se virar. Nesse meio tempo que teve o apoio dos pais, ela começou o curso para ser investigadora. Quando seus pais passaram a bola para ela, o curso ainda não havia terminado, porém ela já tinha um bom emprego temporário como secretária de uma advocacia bem renomada, e Alexandre passou a ficar em uma creche.

Basicamente, é isso, pai. ㅡ Albert parecia perdido em mil pensamentos, até que saiu do torpor e sorriu.

Uma história realmente bem longa. Mas ainda não acabou. ㅡ Izumi o olhou curioso. ㅡ Agora você será Årud Lange também. ㅡ Izumi riu.

Nossa, mas aí meu nome vai parecer uma lista! Imagina, Alexandre Izumi Aguilhar Ishikawa Årud Lange. ㅡ Albert riu junto.

Mas, como vamos mudar toda sua documentação-

Vamos? ㅡ Izumi deixou escapar uma entonação preocupada.

Sim, eu quero muito que você tenha meu nome, ou apenas o Lange, você também pode mudar o nome que sua mãe te deu. ㅡ Alê parou de o mirar e começou a olhar para cima, como se pensasse nas possibilidades.

Acho que precisarei de um tempo com a minha mãe para pensar nisso- ㅡ O celular dele começou a tocar. ㅡ Falando nela... ㅡ O semblante de Alê mudou.

Alô? Cecília?

Eu não te escuto, tá com muito ruído on-onde você tá?

Cecília, sai dessa beirada agora.

Ce-Cecília me es-me escuta-

Ce-

Alê voltou a se sentar. Antes se levantou inquieto, mas agora ficou estático. Atônito. Calado. Albert saiu da cadeira e se ajoelhou à sua frente. Aos poucos os olhos do menino caíram sobre os seus. O homem segurou em suas mãos, elas tremiam frias, assim como os lábios dele, e o seu rosto agora sem cor.

Alê? O que aconteceu Alê? ㅡ Uma pequena e lenta lágrima caiu de seu olho.

Ela caiu...  

Anamnese.Onde histórias criam vida. Descubra agora