Capítulo 26 - Outras suposições.

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"São difíceis de aceitar, os casos que vêm ocorrendo. Mais um vez um grupo específico de jovens sofre ataques. Após uma latência de três anos, mais ou menos. Eu nunca havia literalmente encarnado minha persona jornalística, além do nome assinado em cada matéria, e nos e-mails correspondentes. Mas, dessa vez, tive de fazê-lo, haja vista que a situação demandava uma coleta empírica de dados psicológicos e comportamentais desses jovens. Uma análise que somente poderia ser feita por quem conviveu por anos com o antigo grupo, e poderia identificar, facilmente, os traços que podem levar o assassino a escolher suas vítimas. E assim, auxiliar nas investigações e procedências.

É preciso lembrar que, antes, a polícia já havia recolhido dados, através de interrogatórios com os jovens. Desses interrogatórios, tomei a liberdade de fazer recortes no documento, de partes que me pareceram interessantes, pois algo na forma como eles falavam, me parecia familiar aos antigos conhecidos. Dessa forma, estudei incansáveis vezes cada um desses recortes, procurando as informações nas redes sociais dessas crianças. Para que no dia das entrevistas, eu pudesse ter uma ideia de quem era quem, e o que eu deveria esperar de cada um. Desse modo, encarnei quem deveria ser Arlene Palladino. Uma mulher de cabelos lisos e pretos, escorridos pelo busto. Óculos de armação escura com diversas formas triangulares estampadas pela armação redonda. Batom marrom escuro, e sombra vibrante nos olhos. Usava um conjunto de roupa social azul marinho, camisa branca aberta até parte dos seios e um grande colar brilhante. Nos pés, saltos finos, vermelhos. E uma postura altiva, com voz calma e assertiva.

Arlene tinha em mente que não poderia falar apenas com algumas pessoas da turma. Portanto, esperou, ansiosamente, para que as pessoas selecionadas viessem para as entrevistas organizadas, em apoio com a direção da escola e dos pais. A diretora, Cícera Garcia, via essa futura reportagem como propaganda positiva, "A escola não é perigosa, a vida das vítimas era totalmente tranquila, um infeliz acabou com isso, e a escola não tinha culpa alguma". Os pais viam essa reportagem como uma tentativa de acabar com os comentários de "Certeza que se isso tá acontecendo é porque esses adolescentes tão fazendo alguma coisa errada". As pessoas da sala se dividiam entre não aguentar mais toda essa atenção, e gostar dos holofotes. E isso refletia nas suas posturas diante de Arlene Palladino. A jornalista estava de frente para a porta, e a cadeira, onde se sentavam, ficava de costas para a saída, a qual ficava fechada durante as perguntas. Entre eles, uma pequena mesa com um celular gravando, copos, uma garrafinha de café e um pote com açúcar, e pequenas espátulas em outro copo.

As perguntas base eram bem simples. (i) Como é o seu dia a dia?; (ii) Como era seu dia a dia?; (iii) Como você se sente com os ocorridos, e como se sente com toda essa pressão? Essas perguntas despertavam várias reações do grupo, como pode ser acompanhado melhor no arquivo de áudio. Nessa minha análise, irei colocar somente minhas impressões quanto cada uma daquelas pessoas, portanto não acho relevante uma transcrição das conversas. Comecemos, então, pela bailarina Giannina.

Se formos seguir pela ordem dos assassinatos das primeiras ocorrências, Giannina e Regina compartilhavam essa característica primária. E, analisando mais a fundo, é possível perceber que ambas compartilham de uma personalidade calma, polida, porém tempestuosa, quando necessário. Em alguns momentos, percebi que para sua visão ser reconhecida, ela não pouparia de formas para se impor. Então, pensando nisso, fiquei com o seguinte questionamento, porque Laísa foi quem morreu primeiro?

Se formos levar em conta que Regina era irmã de Sabrina, a qual era do meu círculo íntimo de relacionamentos. E Aline era prima de Melina. Então, podemos supor que as primeiras vítimas teriam que, necessariamente, ter um vínculo sanguíneo com alguém do grupo-alvo dos assassinos. Mas, devo lembrar que, as mortes seguintes foram causadas pelo Monstro, quando ele matou a família de Denis e Camila. Só que quem morreu primeiro, foi Laísa.

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