Capítulo 31 - O fim de um mistério.

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Mistério I

Eles tinham o modelo do carro, sabiam a cor, e a placa. Só precisavam vasculhar o gigantesco condomínio. Entre casas idílicas de uma arquitetura cara que variava com as tendências da época, e as predileções por portões, grades, muros e ausência desses, a polícia vasculhava atentamente casa por casa. Rogério e Bernardo não eram diferentes. Tudo o que mais queriam era pegar o suspeito, e os investigadores dos casos deram mais ou menos um perfil. Rogério aproveitava que só precisava da visão para resolver seus assuntos pessoais. Bernardo apenas dirigia e olhava para o seu lado da rua. Rogério despediu-se da esposa e desligou o celular. Bernardo:

Aposta quanto que a gente vai achá o carro, e o perfil que aquela investigadora deu não vai chegá nem perto?

Isso se a gente achar né? ㅡ Os dois riram.

Mas como que ela chegou nessa conclusão, né?

Sei lá, esse povo metido a Sherlock Holmes inventa demais...

Como a major descreveu mesmo? É um cara entre vinte, trinta anos...

Alto, com porte atlético, ou mais ou menos forte-

E baseado no que? Nem mensagem tinha nos celular, e a prima da menina que morreu na apresentação falô que ela não tinha contato com um cara assim...

Mas vai saber...

Ei, qual era o carro mesmo? ㅡ Bernardo desacelerou ainda mais a viatura. Rogério olhou pela janela do motorista, apertando os olhos para enxergar a placa.

Se você tá falando daquele ali, é ele mesmo. ㅡ Rogério passou o rádio avisando, eles tinham dez minutos para atualizarem a situação.

A casa era gigantesca, pegava, pelo menos, um quarto de todo o extenso quarteirão, extravasando os limites do terreno de trás. Na frente da calçada com flores mal cuidadas, um pequeno portão e uma rampa moderada, separavam os policiais da garagem. O carro estava lá. Mesma placa, mesmo modelo, mesma cor. Apertaram a campainha. Bernardo percebeu que atrás da enorme parede de vidro, a cortina branca tremulou. Não demorou até uma voz cansada e grossa soar através do interfone.

Quem é?

Somos da polícia, o senhor poderia nos atender, por favor? ㅡ Rogério até que sabia ser polido quando queria.

Claro, já tô indo.

Depois do que Bernardo contou serem cinco minutos, um homem apareceu na porta. Loiro, com um daqueles cortes moderninhos que tremiam a coluna de Rogério. Tinha um sorrisinho nojento de moleque mimado. Se aproximou vestindo só uma bermudinha de surfista. Tinha o corpo de alguém que tinha tempo e dinheiro para frequentar uma academia boa e ter uma dieta equilibrada. Rogério podia sentir que aqueles olhos azuis volta e meia ficavam cercados por um vermelho rosáceo que ele repugnava. Assim que ficaram cara a cara no portão, Bernardo percebeu que eram mais ou menos da mesma altura, porém o garoto podia ser levemente mais alto.

Pois não? ㅡ Ele cruzou os braços e continuou a sorrir.

Boa tarde, sou o soldado Bernardo e esse é o soldado Rogério, poderíamos saber se tem mais alguém na casa?

Não, não... Só eu mesmo.

E o senhor mora com mais alguém? Digo, são três carros na garagem. ㅡ Bernardo tentou sorrir amigável, e o rapaz acompanhou.

Moro eu e a minha mãe, mas ela foi viajar.

Ah sim, entendo-

E, por acaso, você poderia nos dizer o que fazia na madrugada que aquela menina, Laísa, morreu? ㅡ Bernardo percebeu o menino apertar ainda mais os braços contra o corpo. Sete minutos.

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