Izumi não iria, de fato, fazer performance alguma nas Apresentações de Fim de Ano que sua escola promovia. Mas ele, assim como alguns outros alunos, decidiram ajudar no que diz respeito aos bastidores. Isso rendia alguns créditos a mais, e ajudava a ocupar a cabeça sobre o que havia acontecido com Laísa. Até aquele momento não tinham sido divulgados resultados, e sua mãe o deixava sair normalmente. Então, realmente, nenhuma pista a mais tinha sido encontrada. E não houve um segundo corpo de alguém da sala dele. Portanto, estava tudo bem. Portanto, ele continuaria com a sua vida, mesmo que com Laísa em mente.
Por enquanto, seu serviço era apenas o de ajustar alguma coisa aqui ou ali. Se não, rever o cronograma com o professor responsável. Izumi não era um aluno que os professores não davam atenção, aliás, nenhum funcionário o cumprimentava por educação, era sempre algo sincero. De fato, ele se sentia querido. Mas nos últimos dias a atenção tinha virado um mar de oferecimentos de ajuda, abraços, convites para conversar (sobre Laísa) e todo o pacote "Pena", que alguém poderia receber.
Ele estava lidando bem até. Por mais que não tivesse dormido os três dias seguintes à mensagem que ele recebera da morte da amiga, ele já estava melhor. Até em casa a relação, antes inabalável, dele com a mãe estava melhorando. Depois do surto que teve por conta de sua mãe ter mentido para ele, Izumi entendeu que sua mãe tinha recebido ordens expressas para não divulgar nada, principalmente para ele, que estava, de certa forma, envolvido. Desde então, eles estavam muito mais atentos um para com o outro.
Tirando toda a atenção sentimental, havia mais uma coisa que não deixava a figura de Laísa evaporar de seus pensamentos por um único momento. Rian também estava ajudando nas montagens. E pior do que todos os olhares de pena, era o olhar dele mirando Izumi de longe. A morte de La também tinha o afetado. Ainda que Izu não soubesse como, Rian tinha sido uma peça central. Val dizia que tinha certeza que eles tinham transado. Maya achava que só deviam ter ficado no beijo.
A figura de Laísa saindo com um de seus saltos na mão, era a última imagem que ele teria dela. A imagem dela despedaçada, e a música de fundo era a voz estridente de Val a xingando de vários nomes e ameaçando ela. Depois disso, Izu não era mais convidado para sair com eles. Pelo o que ele sabia, nem eles saiam juntos mais. Izumi também sabia que os pais entraram em discussões e ameaças de processo, uma vez que os pais de Maya não estavam presentes em uma festa que teve bebidas alcoólicas e uma morte, indiretamente, ligada. Sandra, por mais que fosse uma policial, sabia disso, mas ela confiava em Izu para não cometer nenhuma besteira, e assim ele fez. Os outros, nem tanto.
Inclusive, quem deu o aval para ele tomar os primeiros goles, foi sua mãe. E ele tomou. E ela o ajudou. E depois, ele já não fazia questão de beber tanto quanto os outros. Ao contrário de Sandra, os pais dos meninos todos não ligavam para a quantidade de bebida, desde que isso não ocasionasse em nada sério. E, por muitas vezes, esse algo sério quase aconteceu, até o dia que foi fatídico. Os pais de Maya sempre foram tranquilos, desde que estivessem presentes. A mãe de Renata era como Sandra. A mãe de Val não ligava. A mãe da Laís não podia nem imaginar, mas sabia. Assim como os pais de Gi, Melina e Aline.
Passando pelos camarins, Izumi viu Giannina ensaiando para sua performance de balé. Eram movimentos graciosos. Firmes, e metódicos. O que era irônico. Gi era exatamente assim. No palco, estavam Aline e Melina. Aline tocava seu violão, a cabeça baixa olhando para a partitura, seus cabelos medianos e negros cobrindo metade de seu rosto, enquanto Melina entoava "Hallelujah", que apesar da letra ser totalmente melancólica, sua voz, postura e interpretação reivindicavam um eu-lírico que ainda tinha esperanças. Não que já não tivessem feito isso antes. Enquanto ignoravam totalmente o sentido da letra. Mas ela a respeitava, e só adicionava a leveza de alguém que aceita as perdas que tem, mas espera uma nova oportunidade de ver algo bom acontecer. E Izumi era suspeito para avaliar.
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Anamnese.
Misterio / SuspensoO jogo de morte dos assassinos Veneza e Monstro, de três anos atrás, marcou para sempre a vida de quem vivenciou os casos. Agora, com a morte de uma adolescente, todos se perguntam se os horrores do passado estão voltando para os assombrar.