Capítulo 11 - Velando.

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O corpo de Laísa havia ficado durante todo o dia para uma melhor averiguação de pistas. E como tinham outros corpos para serem velados, decidiram por adiar em um dia o velório. A cena lá era algo que Izumi só podia descrever com o cenário em si. A maioria dos alunos juntos e quietos do lado de fora. Professores também. Izu e Sandra mal desceram do carro e já sentiam o enorme baque de tudo aquilo. Certamente o pior estava lá dentro. Diversas pessoas da escola estavam presentes, assim como familiares que Izumi só via em fotos. Todos com a tristeza os encurvando. Seus olhares pesados e descrentes. Era a morte de uma jovem. Um jovem que prometia tanto para o futuro. Passaram por entre os zumbidos das conversas e ruído das lamentações. Logo que adentraram o local do funeral, Izu se deparou com a sua sala toda presente. Mas, claro, cada grupinho junto em diversos locais da entrada para o caixão de Laísa. Izumi não sabia se ficava e cumprimentava ou ia diretamente para o caixão da amiga e já dava as condolências para seus familiares.

Sua mãe apoiou a mão em suas costas o incentivando a continuar em frente. Seus passos pesavam uma tonelada. Seu peito era afundado por uma dor que ele até então não tinha sentido. Seus olhos começaram a ficar grandes em seu crânio, a visão turva. Os pulmões não estavam recebendo ar, um soluço doloroso se formava em sua garganta. A mãe de Laísa estava com as mãos no rosto, chorando descontroladamente. Sua irmã estava ao seu lado acariciando o seu braço. Quando a irmã parou de a afagar, a mulher virou-se para a porta e veio em direção à Izumi. Abriu os braços e o prendeu junto a si, ele não conseguiu segurar, os dois estavam se despedaçando. Ela o afastou, os olhos inchados, vermelhos. Dor. Ele podia sentir bem no meio de seu peito.

Filho, obrigada por vir. Ela te adorava, muito obrigada mesmo. ㅡ Ele não conseguiu se segurar depois disso. Simplesmente a abraçou com mais força, enquanto soluçava. Aquilo estava doendo muito em seu peito. Suas pernas pesavam. Sua ficha começava a cair.

Me desculpa, me desculpa, me desculpa. Eu não protegi ela como te prometi, me perdoa, tia, me perdoa. ㅡ Ele poderia ter impedido ela de sair, ele poderia ter evitado aquela briga com Valentina.

Calma, calma, você foi um ótimo amigo. Calma. ㅡ Sandra via aquilo com lágrimas a escorrer nas laterais de seu olho. Ela devia justiça à essa mãe. A enlutada apoiou a mão nas costas de Izumi e o levou até o corpo de sua filha.

Laísa era linda. Seus cabelos ondulados e escuros estavam sobre seu peito. A boca carnuda em um tom avermelhado natural. Os olhos fechados em um sono profundo. Seu sono mais profundo. Parecia até que sonhava. Será que ela estava vivendo um sonho em algum lugar? Ele queria tanto que sim. Ele viu que havia uma gargantilha de renda branca em seu pescoço. Com panos ondulados em cima e embaixo. Aquilo combinava muito com o vestido branco que ela usava. As flores em volta de seu corpo emanavam um aroma mórbido, ao invés de lembrarem os ares primaveris da felicidade. Aos poucos, ao vê-la assim, descansando, sentiu que ao invés da pressão em seu peito, havia apenas o vazio. Suas lágrimas estavam secando em seu rosto, era como se seu corpo se anestiasse da dor.

Preciso toma um ar, tia. Com licença. ㅡ Quando Izumi apoiou a mão no ombro da mãe de La, ela fez um carinho e assentiu, parecia que ela sabia o que se passava dentro dele.

Saindo dali, ele viu o grupinho dos meninos, todos quietos, sentados. Assentiram-se. Do outro lado o mesmo com o grupo das meninas, deram-se um tchauzinho. Ainda em um canto havia o grupo dos mais quietos da sala. Perto deles estava a diretora e o assistente. Ambos conversavam entre si, mas Izumi duvidava se eles realmente estavam falando sobre o funeral. No máximo devem ter comentado, e um assunto levou a outro, e de repente estavam fofocando sobre os presentes.

Cícera o viu, e veio em sua direção em passos largos e pesados que ecoavam no recinto. Ela era alta, seu rosto era uma mistura de intervenções cirúrgicas e idade. Os cabelos eram de um loiro nem um pouco natural, tinha o nariz grande e fino, e seus olhos eram pequenos e castanhos, que Izumi nunca sabia distinguir se eram perigosos ou inofensivos, assim como ela.

Como você tá? ㅡ Sem polidez alguma. Uma graça.

Eu... to bem, tá sendo difícil, mas está tudo bem. ㅡ Ela apertou os lábios, ela queria mais, ela queria informação, e ele não daria tão fácil.

Mas que coisa horrível, uma menina tão linda e inteligente. Você tava nessa festa?

Tava sim, mas não vi o que fez ela sair da casa e entrar naquele carro... ㅡ Ela ajeitou a postura, era um pouco mais alta que ele, ainda mais com aqueles saltos baixos. Seus olhos estavam acima dos de Izumi.

Aposto que tem a ver com bebida. É isso que dá. Você viu como é perigoso? Você viu o que pode acontecer? ㅡ Izumi geralmente não se deixava afetar com coisas assim, e sempre era muito polido, cortês. Dessa vez não, era da Laísa que ela tava falando.

Aqui não é o lugar de falar esse tipo de coisa, a mãe dela tá ali do lado, qual o seu problema? Se ponha no seu lugar, pelo menos uma vez. Com licença. ㅡ Izumi saiu para área externa, procurando sua mãe. E lá estava Sandra, conversando com uma policial um pouco pequena. Parecia ser bem jovem, mas ele já havia a visto em algum lugar. Reconhecia seus cabelos crespos de um cacheado quase perfeito sempre presos em um coque.

Decidiu deixar a mãe em paz, e seguiu rumo à rua. De um carro descia Valentina, com seu rosto de enjôo diário, e sua mãe, uma mulher loira, baixinha e corpulenta. Ela, ao contrário da filha, era sempre acolhedora e muito sorridente, talvez seja por ter sido criada com uma infância de interior, coisa que a filha não teve muito contato, mesmo querendo desde sempre fazer algo na área da zootecnia. Izumi sentiu a cabeça pesar, como se uma mão invisível estivesse tentando espremer seu crânio. Sua nuca esfriou em um calafrio que o fez virar o rosto.

Quase na metade para o final do quarteirão estava uma menina de cabelos loiros caramelo. Usando um moletom fechado rosa pink, leggins pretas, e tênis branco. Ela olhava diretamente para ele. Como se quisesse pular em sua garganta. Podia ver pelo movimento do seu peito que ela estava hiperventilando. Só podia ser ela, Cecília, ex-namorada de Laísa.

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