Izumi pediu para que Victor o levasse até a Gypsy, e agora estava frente a frente com Rian. O rapaz tinha emagrecido ainda mais, exibia olheiras e, pelo balançar do corpo, não parava de chacoalhar as pernas enquanto evita olhar para ele. Era visível que estava sendo consumido cada vez mais pela culpa, e se ele achava que Izumi poderia o redimir, estava enganado. Izumi não o perdoaria porque não cabia a ele o perdão, e isso era definitivo. Não tinha como Rian ser perdoado por Laísa também. Ela estava morta. Mas ainda faltava uma pessoa que precisava ouvir um pedido de desculpas e poderia conceder perdão.
Ahm... Por que você me chamou aqui?
Eu me sinto mal pelo que disse, e pelo que fiz... Você me pediu ajuda, e parecia realmente arrependido, e eu te dei as costas... Me desculpa.
Tudo bem... Eu fiz merda, e ela tá morta. ㅡ O garçom veio sorridente, os cumprimentou, entregou os cardápios, instruiu a chamá-lo quando estivessem prontos e saiu.
Mas a Val não morreu. Acho que vocês deviam conversar. ㅡ Os olhos de Rian congelaram brevemente.
Ela não quer olhar na minha cara-
Cê já tentou falá com ela? ㅡ Rian deixou um riso chiado escapar.
Sabe como a gente terminou? Ela me bloqueô em tudo...
E você não foi atrás dela? ㅡ Rian baixou as pálpebras debochado.
Ela não quer me ver, ponto.
Mas também... Você traiu ela com a Laísa-
Ela não quer me ver Izumi-
Você não quer que alguém te perdoe? Ela é a única que pode, ou não, te perdoar. ㅡ Rian retesou a postura e começou a olhar o cardápio. ㅡ Rian, você tá me evitando... ㅡ O rapaz levantou os olhos para Izumi. ㅡ O que te incomoda?
Eu só não quero ir-
Mas você tem que ir, Rian, se não-
Se não o quê, Izumi? Ela não vai me ouvi-
Você tem que tentar, ou já passô a sua culpa? ㅡ Rian se ajeitou na cadeira.
Tudo bem, eu vô tentar.
Ótimo.
Izumi o acompanhou lendo o cardápio. Pensava no que iria pedir, mas tudo parecia tão caro... Talvez ele pediria o mesmo que Rian. Era estranho. Depois de tanto ódio, ele estava pensando em pedir o mesmo que a pessoa que ele odiava. Sim, "odiava", no passado. Era um momento diferente, aquele momento tinha uma energia diferente... Paz. Então isso que era perdoar... Mas a paz durou pouco.
A porta da lanchonete foi empurrada. Junto do ar abafado com o calor do concreto, entrou aquela figura, no mínimo, peculiar. Cecília o olhou diretamente nos olhos. Fazia tanto tempo que ele não a via. Ela tinha aquela cara de brava, ou ela estava brava? Ela costumava andar rápido daquele jeito, ou ela estava dando passos rápidos e pesados por conta dele? Por que ela o olhava tão profundamente?
Preciso falar com você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Anamnese.
Mystery / ThrillerO jogo de morte dos assassinos Veneza e Monstro, de três anos atrás, marcou para sempre a vida de quem vivenciou os casos. Agora, com a morte de uma adolescente, todos se perguntam se os horrores do passado estão voltando para os assombrar.