Capítulo 32 - O baile.

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Valquíria terminava de por o último adereço de sua fantasia. Aquele era a segunda festa à fantasia de Sabrina e Regina. Como tradição, sua família promovia essa festa em memória de uma figura da nobreza que era de sua família. E como tradição, os anfitriões se vestiam como o Barão Rubro e Helena Bourbon. Valquíria estava ansiosa para ver a fantasia de Sabrina, que em todos os anos insistia em ser a incendiária, e em todos os anos era algo previsivelmente simples, mas caro. Ela terminou de retocar a maquiagem, assim que seu pai parou na porta do quarto. Ele estava todo elegante, com uma cartola generosa em sua cabeça, e a máscara brilhante e cinza que apenas cobria os olhos. Sua mãe passou ao fundo, com um exuberante vestido vermelho e sua máscara preta, semelhante a de seu pai. Valquíria lembrou-se de pegar seu celular. Enquanto isso seu pai a esperava, quieto, mas impaciente. Marie passou atrás dele, com seu vestido preto, cuja parte superior mais parecia um grande sobretudo de couro, esbanjando em seus ombros uma pelagem preta, presa em seu peito por um feixe de ônix. Carlos ficaria com a família de Miguel, que àquelas horas já devia ter passado o pegar.

Vocês demoram demais, viu? ㅡ Valquíria apenas sorriu para seu pai. Era divertido vê-lo saindo do sério. Era raro.

Chegaram ao casarão de campo dos Braga Guimarães. A família de Sabrina e Regina era bem grande, e todos gostavam muito da propriedade, então dividiam-na. Como os pais delas se preocupavam mais em manter a tradicional festa, era deles a responsabilidade de tudo. A família se reunia sempre nessa data. Não seria diferente essa noite. Valquíria esperou para ser a última a sair do carro. Seu pai estava com os convites em mãos. O preço deles era para um fundo de caridade que a festa financiava. Marie colocou sua máscara que era muito similar à dos médicos na idade média. E então Valquíria entendeu a sua fantasia. Julgando pelas mangas brancas de seda que saiam das aberturas da manga do sobretudo preto, e a saia do vestido, de duas camadas do mesmo material, Marie tinha pensado em uma releitura de uma personagem de um livro que ela adorava. Valquíria já não achava ele essas coisas. Do caminho de cascalhos, Valquíria podia ver as irmãs. Nesse ano, Sabrina decidiu seguir com um vestido muito parecido com o de Helena, segundo o registrado em um quadro dos Bourbon. Regina finalmente tinha abandonado a barba falsa e as roupas masculinas, naquele dia ela tinha adotado apenas uma peruca ondulada e preta, com um vestido vermelho todo cheio de adornos dourados, e a tradicional capa do Barão, que não era muito diferente do vestido.

O casarão, só pela entrada, era perceptivelmente gigantesco. Na verdade, ele parecia muito um palacete. Valquíria daria um braço caso ele não fosse inspirado em registros históricos que descreviam o palacete do barão. As gêmeas foram entusiasmadas receber Evelyn e Ricardo, e ficaram ainda mais radiantes ao receber Marie. A reação não foi a mesma com Valquíria. E ela nunca se sentiu melhor em ser tão julgada. Afinal, seu vestido era uma releitura do vestido de Helena. Suas ombreiras que seguiam até o busto eram feitos com diferentes tecidos simulando chamas, assim como a saia que era uma continuação. O espartilho ainda era parecido com o de Sabrina, porém preto. Suas luvas tinham um aspecto chamuscado e não cobriam os dedos anelares. Em seu pescoço uma gargantilha com pontas que também simulavam chamas. Prendendo seu coque, um medalhão em forma de fogo. Valquíria também fez uma maquiagem simulando uma dança de fogo em seu olho, com alguns tons de preto esfumando as extremidades. Como todas as festas, naquela noite teria um concurso de melhor fantasia, e era isso que tinha deixado Sabrina tão desconfortável. Valquíria se provaria melhor que ela em mais uma coisa. Não importava sua colocação, desde que estivesse acima dela.

Dentro do salão, seus pais já tinham se juntado à mesa de Fahari e Ícaro, os pais de Mirtho. A mulher estava vestida como Whitney Houston, com um vestido branco e tira dourada. Seu cabelo também lembrava bastante o da cantora. Ícaro estava com uma máscara azul, que certamente era do Doutor Manhattan, e um terno elegante. Virando o rosto, viu Marie posando ao lado de uma cadeira escura de estofado vermelho, todos os detalhes daquela cadeira eram adornados em formas de ondas. Mirtho estava do outro lado, ela usava uma roupa de tiras verdes que deixavam parte de um ombro à mostra, assim como um dos joelhos e terminava em seus calcanhares. Aquela roupa também tinha uma saia transparente, verde, só que mais escura, a qual parecia sair de dentro das tiras na cintura. Suas tranças faziam curvas desde o topo de sua cabeça, até as laterais. Deviam estar presas na parte de trás. Deixando, ainda, que tranças saíssem desse capacete e caíssem sobre suas costas. Diferente de todos, ela estava descalça. Sentado na cadeira, estava Gael, o namorado de Marie. Com seus cabelos rebeldes e pele escura de sol, usando um terno e uma máscara como a do Fantasma da Ópera. Eles sorriam. Valquíria nunca entendeu muito bem essa relação, uma vez que ele havia terminado com Mirtho, para ficar com sua irmã. Mas ela também não queria saber. Levar e buscar Marie, vez ou outra, era o máximo de contato que ela queria. Das pessoas saindo e entrando do salão, na parte que levava para um jardim, Valquíria viu uma figura que ela conhecia e apreciava a presença. Logo seu rosto floresceu em um sorriso.

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