Capítulo 50 - Olhos de caçador.

5 1 0
                                    

Tudo estava dando certo para ele. A polícia acreditava que já não havia mais entradas além daquela no quartel, e por isso colocaram Marie em um isolamento inútil. E com isso ele tomou vantagem contra seu rival nesse jogo de carnificina. Ele tirou de jogo Miranda, usando uma última vez da figura de Caeu, aquele viciado quase inútil. Ele gostava de ter sido nomeado Fantasma, pois é isso o que ele era, desde três anos atrás. Um fantasma, uma assombração que sempre pairou sobre eles, mas nunca foi notado. E naquele ponto, era só dar o golpe final. Tinha Marie paralisada como uma presa encurralada aguardando a morte. Até que ele viu aqueles olhos em cólera e também se paralisou.

Era como se estivesse vendo Valquíria lhe mostrando seu planejamento e contando sobre aquela fome que ela sentia. Aquele menino a lembrava em tantos detalhes. O corpo esguio, os cabelos pretos, a pele pálida, os lábios desenhados em um contorno fino, e os olhos. Olhos de caçador. Era como estar frente a frente com o predador mais perigoso do mundo. Ele tinha suas ferramentas, tinha um porte avantajado, uma posição de vantagem, e fome. Muita fome. Em pleno torpor ele podia ver as artérias pulsando no pescoço do garoto. Pura adrenalina. Ele era invencível. E então escutou o estalo contra Marie. O primeiro.

Em uma sucessão de o corpo dela se contorceu. De sua boca anormalmente torta apenas um gemido dolorido e quase silencioso. Quase sem força. A barra de metal produzia baques contra seus ossos e carne. E ele não conseguia fazer nada. Suas pernas eram dois pilares de concreto. Mas conseguia mover os braços, com dificuldade, mas conseguia. Atrás de si escutou alguém se assustar com a situação. Apenas continuou a tirar sua máscara, lentamente. O garoto então parou. Estava ofegante, seu rosto cintilava com o suor. Parecia em pleno êxtase com um sorriso de satisfação. O mesmo de Valquíria. Tinha se alimentado.

Oi, Leone. ㅡ Disse Carlos casualmente. A pessoa atrás dele o empurrou para dentro.

Carvalho, por favor, desça. ㅡ Escutou a voz de Miranda. Em menos de um minuto escutou a porta no início do corredor se abrir. E os passos da major.

Caleb Arthur Leone, você tem o direito de permanecer calado- ㅡ O silêncio se perpetuou sobre a cena. Carlos agora tinha jogado o cacetete para o lado e havia se sentado em frente ao corpo da irmã. Ainda sorria. Suas mãos tremiam e ele ria as observando.

Após se recuperarem, as policiais devidamente algemaram Caleb e Carlos. O quartel tornou-se uma tempestade de pessoas correndo para todos os lados, viaturas sendo mobilizadas, ambulância chegando. A major teve que ser socorrida, assim como Alessia, depois de pouco tempo que subiram os dois. A leve anestesia que o choque as proporcionou logo se dissipou e então a realidade de um trabalho de três anos sendo encerrado as fez serem esmagadas com uma força dantescamente infernal. Elas hiperventilavam, seus olhos lacrimejavam e seus corpos tremiam.

Os olhos de Leone estavam opacos, imóveis. Seu corpo facilmente respondia a estímulos motores para andar, se sentar, mas não dizia palavra alguma. Carlos exibia um sorriso de lábios e parecia mais desinibido do que Martins se lembrava dele. Logo foi a vez do policial ficar atônito. Uma chamada de emergência o colocou a caminho da casa dos Azevedo-Barbosa. Aquela não seria uma noite tranquila. Ele aproveitou para ligar para Sandra e informar que tudo aconteceu como planejado e que podia ficar tranquila quanto a segurança de seu filho. Mas pediu para ela ir direto à casa de Marie, pois o Monstro estaria lá.

Anamnese.Onde histórias criam vida. Descubra agora