Capítulo 25 - Alguns conselhos.

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Ela era definitivamente jovem, e definitivamente linda. Victor olhava para a mãe de Izu como uma criança olharia para uma casa feita de doces.

Prazer, sô o Victor. ㅡ Ela apertou sua mão, mas parecia incomodada com algo. Ele estava fedendo a cigarro? Ou era a cerveja no hálito?

Eu... Prazer, Sandra. ㅡ Izumi entrou no co-piloto.

Até mais, mãe! ㅡ Sandra pressionou entre os dedos e a palma de Victor. Em vão, ele tentou puxar a mão.

Sem. Bebidas. E quero ele antes da meia-noite dentro do meu apartamento. ㅡ Os dentes dela eram tão lindos, quanto ameaçadores. ㅡ Fico feliz em te conhecer, Victor.

Sim, você podia conhecer meu pai também. Sei lá, combinarmos algo em casa. ㅡ O sorriso dela tremulou.

Definitivamente. ㅡ Victor entrou no carro e deu uma buzinada ao sair. Pelo retrovisor, viu ela acompanhando o carro com os olhos.

Izumi olhava entediado para a janela. Pelas mensagens ele parecia animado, agora, julgando pelo olhar de desprezo, Victor tinha certeza de que ele estava ansioso. O que tinha acontecido? Alguma coisa mudou no rapaz, ele só não sabia dizer o quê. O menino tomou ar, mas decidiu voltar a se apoiar na janela. Victor teria que fazer o primeiro movimento, e ele tinha medo das proporções que isso poderia tomar. Nunca se sabe o que fez uma pessoa mudar o semblante, mas sabe-se que o que o fez mudar foi significativo o suficiente. Seria por isso que Sandra estava tensa? Ela também não sabia? Interessante...

Eaí, Izu, o que tá pegando? ㅡ O menino virou a cabeça, o lábio inferior para frente.

Aconteceu uns negócio, e agora eu tô pensando se o que fiz foi certo...

Tipo? ㅡ Izu inspirou e se ajeitou no banco.

Foi uma coisa pesada... Não sei se vale a pena falar, nem pra minha mãe contei... Isso tem a ver com a Laísa... ㅡ Merda.

Você quer conversar sobre o que você fez? ㅡ Izumi ficou calado por um tempo.

Não sei se consigo... Isso foi hoje a tarde.

Izumi, tá tudo bem... Eu entendo a merda que tá sendo essas coisas acontecerem... De verdade... Eu tô aqui, justamente pra te ajudar. ㅡ Victor bagunçou o cabelo de Izumi, que gritou em protesto.

É impossível arrumar esse cabelo agora! ㅡ O motorista ria.

É nada, tonto. Aí no porta-luvas tem um pente. ㅡ O menino abriu o porta-luvas, mas receava de colocar a mão dentro. Ah, realmente. ㅡ Fica tranquilo, eu não fiz nada com o pente, isso aí é só precaução. ㅡ Izumi o olhou desacreditado.

Por que você tem isso no carro?! ㅡ Victor riu.

Porque é um carro? E dá pra fazer várias coisas nele? ㅡ Izumi fechou a cara.

Sério? Que romântico você hein...

Antes prevenir do que remediar. ㅡ Continuou rindo da ingenuidade do menino.

Já estavam chegando no bar. Izumi pareceu deixar de lado o que quer que tenha acontecido, para se concentrar no seu cabelo para trás.Victor tinha certeza que o cabelo já devia estar bom umas cinco escovadas atrás, mas era de Izumi que se tratava. De certa forma, o universitário via muito da mãe do menino ali, naquela cena. Ela certamente era uma figura presente em cada ato do menino. Sem pai, certo? Victor não sabia o que era isso, por vezes queria saber, mas era raro. E para ele era fácil pensar isso, ele tinha as duas figuras presentes. Assim que estacionou, os dois desceram e foram direto ao bar. Sentaram-se escondidos nas vezes do fundo. O garçom se aproximou.

Boa noite, já sabem o que vão pedir? ㅡ Izumi o olhou com olhos bem abertos, e Victor se divertiu com o mini-ataque de pânico do garoto.

Bebe suco de laranja? ㅡ Ele assentiu. ㅡ Então pode trazer uma jarra pra nós dois, Felipe, por favor.

É pra já, seu Victor. ㅡ O garçom, assim como veio, sumiu rapidamente entre as mesas.

Hoje vo te acompanhar no suquinho.

Justo, justo. ㅡ Victor se endireitou na poltrona almofadada.

Izu, o que tá te incomodando? ㅡ O menino desviou o olhar. Seus olhos brilhavam mais do que o normal. Sua boca tremia.

Rian... Ele... Ele... Ele que fez a Laísa ficar tão nervosa aquele dia... Ele tentou... Sabe? E agora quis falá comigo, e ficô lá chorando, pedindo pra eu perdoar, mas como eu perdôo uma coisa que nem comigo foi? Como que eu perdôo uma coisa que a pessoa que passou tá morta? Ele devia ser preso, sei lá... ㅡ Victor esticou a mão por cima da mesa.

Hey, olha aqui pra mim... Pega na minha mão e me conta, no seu tempo, o que aconteceu. ㅡ E o relato foi longo, e doloroso. Principalmente pelas lágrimas do menino. Lágrimas salgadas pelo luto, e pela raiva.

Eu não sei o que fazer... Juro. Eu... Eu não me senti bem de ter feito aquilo, mas olha o que ele fez com a minha amiga, olha onde ela tá agora... Ela tá morta! Morta! ㅡ Victor pegou uma das mãos de Izu enxugando as lágrimas, e fechou entre as suas.

Eu tô aqui... E claro que você não se sentiu bem... Você é uma boa pessoa Izumi, é normal não se sentir bem ao recusar um pedido de ajuda... Mas você também é humano, e o que ele fez com sua amiga, definitivamente, não foi certo... E como você disse, ela tá morta, e quem matou ela não foi esse rapaz... E se ele te confiou pra contar isso, e mostrou estar tão arrependido, então eu acho que você deveria se dar um tempo, e quando estiver pronto, ajudar ele... O que acha? ㅡ Izumi retirou a mão da conchinha e pegou um guardanapo.

É... Eu acho que vou fazer isso... Obrigado, Vi.

Que isso... ㅡ Ambos sorriram. Ambos estavam seguros perto um do outro.

Sabe, eu nunca consegui me abrir com a minha mãe... Digo, eu até pensei... Mas foi antes do amigo dela, o Bruno vir conversar comigo. ㅡ Victor continuava quieto prestando atenção. ㅡ Minha mãe... Ela tem essa coisa de querer sempre saber meus passos, de sempre saber o que eu falei, com quem eu falei e isso... É horrível, sabe?

Hey, sua mãe... Meu pai... É normal eles se preocuparem-

Minha mãe colocou um programa espião no meu computador, eu só soube porque o Bruno me contou... É por isso que eu confio nele... ㅡ Izumi baixou a cabeça. ㅡ Digo, minha mãe escondia isso de mim, mas o que me doeu mais foi ela mentir pra mim que a minha melhor amiga tinha morrido... Sabe, ela me olhô nos olhos e mentiu... ㅡ Victor baixou a cabeça para entrar novamente no campo de visão de Izumi.

E você contou pra ela como se sentiu? ㅡ O garoto deu de ombros.

A gente brigou feio assim que a mãe dela divulgou... Não fazia nem dois minutos que eu tinha dito pra ela que tava esperando a La me responder...

Mas cês tão bem agora, não tão?

Sim... Essa briga foi a nossa primeira, sabe? Mas a gente pediu desculpa um pro outro-

E também ela não podia te contar se foi uma ordem superior a ela que pediu, não acha? Tipo, a gente também tem nossos segredos, e ela não te pressiona pra saber, certo?

Sim, sim, nós conversamos disso... Agora tá tudo bem.

Agora vamos falar sobre você e a Melina...

Não vamos não! ㅡ Victor riu com a reação do menino. Lembrou-se de como era quando se tratava de Marie. ㅡ Se formos falar desse assunto, a gente vai é falar de você e a Marie. ㅡ Victor arregalou os olhos.

Co-como? ㅡ Izumi riu.

Exatamente, já faz um bom tempo que vocês trocam mensagens e eu sei disso desde aquele dia que você apareceu no capítulo...

Seu merdinha! Vou mandar um alô pra essa Melina, cê vai ver só.

Vai o caralho! ㅡ Continuaram a rir, e a conversa a rodar. 

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