Anamnese.

Capítulo 15 - Entre a chuva.

Marie se divertia, conversando com as amigas que estavam no banco de trás. Algumas coisas que aconteceram na escola e algumas coisas sobre informações que chegaram a ela. No banco de trás estavam Mirtho e Sabrina. Valquíria definitivamente gostava mais de Mirtho do que da outra menina. Sabrina claramente a invejava no balé. Uma vez que Valquíria era a dançarina destaque há anos, e ela nunca alcançava seu nível. Sempre ficando de segunda opção e choramingando para os outros dançarinos pelos cantos do estúdio.

Aquele início de chuva estava se dissolvendo em uma tempestade, e as ruas do condomínio eram tomadas por correntezas gigantescas nas calçadas. Marie, Mirtho e Sabrina tinham decidido que iriam da aula direto para a casa da última. E como chovia, Valquíria se prontificou de levar as meninas. Seus pais estavam muito ocupados ou cansados, então a melhor opção era a irmã mais velha de Marie. Sabrina tinha uma irmã gêmea, que também fazia balé, Regina, a qual decidiu que sairia com seu ficante, aproveitando que seus pais não estavam em casa, o que foi o mesmo motivo de Sabrina ter combinado com as meninas de assistir e comer algo naquela noite.

Sabrina era uma menina de porte médio, com cabelos dourados, em um corte da altura do maxilar. Ela tinha os olhos verdes e uma voz que parecia sempre estar embargada. Sua pele era clara, ainda mais que a de Marie, contudo ela não tinha tantas sardas. Ela sempre se vestia como se estivesse em um catálogo atualizado das últimas tendências e não se importava de por salto para qual fosse o motivo. Mesmo ela não sabendo muito bem como usá-los. Sua casa era um pouco distante da casa dos Azevedo-Barbosa, mas não tão distante da dos França. Era uma casa com portões de ferro horizontais e brancos, que constituíam o muro também. Sua cor era marrom clara, e combinava muito bem com as portas de madeira, e suas maçanetas prateadas. Quando chegaram, Sabrina se comprometeu em sair antes para ir abrindo a porta, assim, Marie e Mirtho só teriam que correr quando ela desse o sinal.

Quando terminar, se ainda estiver chovendo, ou você ver que vai recomeçar, você me ligue, fechado? ㅡ Marie olhava para a janela, sua amiga tentava achar a chave e dava pulinhos quando alguma gota gelada caia.

Fechado.

Mirtho, não dexa elas fazerem muita bagunça. E quanto a ir embora, se quiser, eu posso te levar também. ㅡ A menina estava como Marie, mas quando chamada se virou.

Pode dexá, se meus pais não puderem me buscar eu vo com vocês. ㅡ Sabrina se virou e começou a balançar o braço chamando elas.

Se cuidem. ㅡ Marie e Mirtho saíram, mas não antes de Marie dar um beijo na bochecha da irmã.

Fica tranquila.

Talvez Marie achasse que a irmã era muito ocupada com seus deveres e afazeres. Talvez percebesse o esforço que Valquíria fazia para demonstrar algum sentimento de importância com a família, e isso a enfurecia. Desde sempre Marie teve amigos. Desde sempre Marie tinha sido a princesinha da mamãe. Mesmo dançando balé muito bem. Mesmo sempre tendo notas ótimas e elogios dos professores, a única que importava era Marie. Valquíria até havia sido convidada para participar de um processo seletivo para continuar sua formação em balé clássico, mas sua mãe barrara. Evelyn era o tipo de mulher que gostava de exercer poder. Desde que Valquíria se lembra, ela não gostava desse aspecto da mãe. Ela sempre saia pela tangente, e isso enfurecia Evelyn.

Quando as mães se juntavam, Evelyn nunca conseguia falar o quanto a filha mais velha era popular, ou o quanto ela era apaixonante, tendo cada mês um namorado, ou algum drama adolescente. Ela só podia falar do desempenho de Valquíria, era isso o que ela tinha a oferecer. Ao contrário de Marie, que era um combo do ideal que ela tinha para seus filhos, e um ótimo desempenho escolar para se gabar. Às vezes, Evelyn até esquecia que tinha uma filha mais velha. Seu mundo girava em torno de Marie e Carlos. Valquíria era de seu pai.