Capítulo 22 - Recomeçando.

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Marie iria sair mais tarde com Victor. Se ela fosse recomeçar a sair da casa para locais públicos, que ela pelo menos saísse com um amigo, ou quase isso. E esperar o momento certo para se arrumar não era muito fácil. Algo em seu estômago dizia que logo estaria atrasada. Mas sempre que checava o horário, não tinha passado, nem ao menos, cinco minutos. Levando em conta que se encontrariam às 19:30h, e ainda eram 15:47h, caso ela se arrumasse, ficaria esperando por volta de uma, uma hora e meia. O que seria ainda pior, e aí sim ela se atrasaria.

Naquele momento, Marie tentava escrever uma matéria envolvendo os casos recentes, e ainda tentava fazer breves rememorações sobre os casos antigos. Lembrou-se de que Alejandro e Antoni, mudaram-se como forma de proteção contra os incidentes e ela nunca mais os viu. Perdê-los foi tão doloroso quanto ver seus amigos mortos em funerais. Logo que saíram, sem aviso prévio, trataram de cortar laços com todos. Ninguém sabia para onde foram. Apenas sumiram. Lembrou-se da noite em que Melahel e Serena decidiram fazer uma festa do pijama. Serena cedeu a casa. Seus pais estariam lá. A polícia também estaria fazendo uma de suas rondas especiais pelo local. Contudo, uma vez dentro da casa, a polícia recebeu uma chamada de emergência, um caso de agressão doméstica, e outro de roubo à mão armada, e mais um de perseguição a um carro roubado. Como noticiado no jornal, que agora ela trabalhava.

Enquanto digitava, Marie se lembrou dos detalhes. Serena havia a recebido, e todos subiram para a sala de televisão. Sua casa era grande, com as paredes amarelas, e quadros, alguns de paisagens, em todos os cantos. Alguns eram de Valquíria e Evelyn. Ela subiu a escada em carpete de madeira, e chegou ao enorme cômodo com sofás, puffs, um tapete bege e felpudo, assim como uma televisão enorme. Além de Melahel; Gael, Mirtho, e até Victor estavam lá. Exceto Sabrina. Ela recusava-se a, se quer, ficar perto de Marie. Agora ficava sozinha. Seus cabelos foram tingidos de preto azulado, ela usava roupas que nunca antes havia usado. Parecia uma punk fashion. Tinha repicado o cabelo, também. E tinha virado uma pessoa ainda mais amarga do que já era. Mesmo sendo amigas, Marie não deixava de reparar nesse defeito de Sabrina.

Ela lembrou, também, quando a luz da sala apagou. Assim como o resto de todos os cômodos da sala. Usando a lanterna dos celulares, eles procuraram a porta e checaram que o resto da rua estava iluminada. Começaram a procurar pelos pais de Serena. Eles deveriam estar na parte de baixo da casa. Então desceram. Melahel assumiu a dianteira. Procuraram pelas salas debaixo. A casa estava adormecida. Decidiram por procurar eles na parte de trás, na área do quintal e churrasqueira. Lá se depararam com o pai de Serena e sua cabeça calva caída um pouco distante do corpo. Quando foram correr para dentro da casa, uma figura com cabelos loiros e longos, com franja, e o rosto engolido por algo escuro que não mostrava feição alguma. Sobretudo bege, calças escuras e enormes sapatos marrons. Ele segurava a cabeça da mãe de Serena. Correram para o lado que dava para um corredor que levava à parte da frente, a outra única forma de sair da casa. Marie segurava nas roupas de Gael. Mirtho segurava nela. Victor tinha pego Serena no colo, a qual só era capaz de produzir gemidos. Melahel estava na dianteira correndo em suas roupas feitas sob medida, quando tropeçou em uma elevação. Da escuridão, a máscara veneziana apareceu e cravou a faca nas costas do menino. Múltiplas vezes. Gael encontrou uma janela aberta. Melhor que encurralado naquele corredor com o Monstro e com Veneza, era subir para dentro. Rapidamente, em meio a gritos e choros, ele foi colocando, um por um, para dentro. Victor foi o último. Marie abraçava Mirtho. Gael terminava de puxar Victor, que observava assustado a ferocidade daquela criatura de rosto branco esfaqueando seu amigo que nem gritava mais.

Marie sentiu que Serena estava silenciosa. Voltou a pegar o celular, e ainda abraçada com Mirtho, se virou. A amiga não estava mais lá. Soltou de Mirtho e começou a ir em direção à entrada mais próxima. Sentiu que alguém a segurava. Era Victor, que negativava com a cabeça. Gael assumiu a dianteira rumo à escada. Apagou a lanterna do celular e deixou se guiar pela fraca luminosidade da rua. Todos fizeram o mesmo. Victor ficou guardando a retaguarda. Mirtho tentava acalmar a amiga. Chegando à sala onde estavam antes, viram a luz do celular, que só poderia ser de Serena, na varanda aberta que usaram para ver se a rua tinha energia. Conforme se aproximavam, podiam escutar o som de algo vazando e sendo apertado. Também um som que parecia ser de uma lixa. O que ela fazia? Continuaram em silêncio. A varanda fazia uma curva até uma parte que dava visão para o quintal. Lá, eles viram novamente a figura loira. Ela parou e se virou bruscamente, deixando o corpo de Serena cair para um lado, enquanto do outro, eles viram de sua mão, um longo colar prateado embebido em sangue.

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