Capítulo 18 - Confissão.

11 1 11
                                    

Rian combinou de ir embora com Izumi para sua casa após os funeral de Aline. Ele precisava conversar com alguém, o que tinha acontecido com Leila estava vindo. Vindo como uma dor que crescia, e se alastrava, e criava videiras em seu cérebro. Ele precisava ver o que mais pessoas achavam. Aquela mulher na delegacia ecoava em sua mente. Ele podia ter impedido a morte de La. Aguentar a Val seria, infinitamente, mais fácil. E Izumi aceitou conversar com ele. Mesmo parecendo não querer muito. Sandra, iria buscá-los e os levar até o apartamento de seus pais. Assim como os outros pais do grupo, ela tinha começado a levar e trazer Izumi todos os dias, em todos os seus compromissos. Rian já tinha avisado para sua mãe não se preocupar em ir buscá-lo. E ela ligou para a mãe de Izu para confirmar. Aquilo estava sendo comum já. Inclusive, quando eles organizavam alguma reunião na casa de alguém, sempre tinham que ter cuidado com a bebida. Parecia que tinham 14 anos novamente.

Sandra esperou os meninos entrarem no condomínio. Como se eles fossem cruzar a porta para fora, e isso não era, realmente, uma boa ideia. Em silêncio, os dois pegaram o elevador até seu andar. Rian gostava da vista de entrada. Toda a cidade podia ser vista, assim como o enorme rio que a cortava. Ele sentia falta de quando todos combinavam de ir nas casas que alguns deles tinham na represa, mas agora isso não era cogitável. Nos primeiros casos, dois meninos escaparam de serem mortos quando se mudaram. O que custou para suas famílias uma séria investigação, até que pudessem comprovar sua inocência e conseguirem ficar em paz. Ninguém sabia onde estavam, a não ser a polícia. A partir disso, nenhuma família alvo saiu da cidade, até ser decretado fim do caso. E para irem para aquelas casas eles precisariam fazer isso.

Izumi olhava para baixo na varanda. Lembrou-se dos comentários de Laísa quanto a altura daquela sacada, mas não fazia ideia do quanto era mesmo aterrorizante. A sensação do corpo sendo engolido para o chão, fez ele ir para trás. Por breves segundos, ele podia escutar seu cérebro pedindo para ele imaginar a experiência que deveria ser cair daquela altura. Rian se aproximou, engoliu em seco. Apertou os punhos, seu coração gritava um sonoro, "Não fala nada, deixa isso pra lá.".

Então... Izu... ㅡ Izumi se virou.

Ele podia imaginar sobre o que o pedido de Rian poderia ser. E pediu a ajuda de Victor, um irmão da ordem, que já tinha ficado em sua situação antes. Nos primeiros casos. Não exatamente a mesma situação, ambos foram feitos de alvos. E como Victor já era de maior idade, poderia aconselhá-lo. Certamente ele já tinha passado por situações semelhantes. Na verdade, ele sentia como se Victor e ele fossem muito próximos. Gostavam muito das mesmas coisas. E não foi de grande surpresa quando Izu se abriu sobre Melina, e Victor deu alguns conselhos. Em menos de uma tarde eles tinham se tornado realmente próximos. Izumi nunca tinha passado por isso.

Pode falar. ㅡ Rian olhava para fora. Algo realmente o incomodava.

Eu... Eu preciso te contar uma coisa... Sobre aquela noite na casa da Maya. Você e eu nunca fomos próximos, mas... ㅡ A garganta de Rian começou a enfraquecer, seus olhos se enchiam conforme, seu peito batia. Devia desconversar. Do que aquilo adiantaria. Laísa estava morta. Ponto final. ㅡ Eu preciso de um conselho seu. Eu vi como você ajudou a Mel... Você é bom nisso. A gente pode se sentar? ㅡ O mundo parecia crescer, e ele diminuir até ficar compressado. Aquilo já tinha acontecido algumas vezes. Respirar também era, ainda mais, difícil quando ficava em pé.

Claro, claro. Quer ficar aqui fora? O vento não tá tão forte, acho uma boa. Tomar um ar, sei lá. ㅡ Izumi nunca tinho visto nenhum dos meninos chorarem antes. Ele estava ficando assustado. O que teria acontecido?

Então... Sobre aquela noite. Tudo bem se eu não olhar pra você?

Tudo bem, só... Só desabafa...

Naquela noite, na casa da Maya. Quando eu subi com a La no quarto... A gente... Ficou. ㅡ Okay, então eles realmente ficaram. Mas a La tinha dito que não tinha mais vontade de ficar com homens... Tá. ㅡ Daí, ela de repente mudou de ideia, e eu achei que era só um charme, sabe? ㅡ Izumi estava começando a ficar tenso. O peito de Rian começava a arder, as lágrimas apenas escorriam. ㅡ E eu insisti mais... Mais agressivamente... E eu lembro do olhar dela... Ela sentiu tanto medo... Ela me acertou com a sandália, quando eu tentei segurar ela, enquanto ela colocava a roupa... ㅡ Izumi cerrava os punhos. Sentia uma vontade crescente de atacar Rian. Era tudo culpa dele. ㅡ E ela saiu... ㅡ Rian se encurvou com as mãos no rosto. Ele soluçava audivelmente. Seu rosto estava vermelho. Ele fungava. Parecia não conseguir respirar. Izumi ficou petrificado. Rian não parava. ㅡ Os... Os olhos dela... Eu não consigo tirar da cabeça... E-eu... Eu não acredito que fiz isso... ㅡ Rian tirou as mãos do rosto, e olhou para Izu. ㅡ Me ajuda... Eu sinto que vo morrer. Isso tá me assombrando. Não tem se passado um dia sem que eu não fique rememorando essa cena. Por favor, fala alguma coisa...

Eu... Eu não sei o que te falar. Digo... Olha essa situação... Logo depois ela morreu... E-eu... Rian... E-eu... ㅡ Izumi se levantou. O vento secava suas lágrimas. Seu corpo tremia. ㅡ Por quê? Me diz... Por quê?

Eu só queria uma despedida, sabe? Relembrar das coisas... Ela tinha sido a melhor coisa que me aconteceu... E depois quando ela começô a ficar com aquela menina... Sabe? Eu... Eu me senti um bosta... Ela preferia uma mulher a mim! Você via os meninos me zuando... Foi horrível, sabe? Eu nem me sentia um homem mais...

E por isso você tinha que tentar estuprar ela?... Me diz? Cê tinha esse direito, Rian? ㅡ Victor tinha aconselhado Izumi a ficar calmo e escutar o colega. Mas aquilo era completamente inaceitável. Laísa morreu, principalmente por causa desse moleque que se debulhava à sua frente. Izumi sentia que era pouco, essa culpa que ele tava sentindo.

Por favor... Me ajuda...

Eu não sei nem como ainda tô olhando pra sua cara. Quer ajuda? Vai se tratar... Eu to indo embora. Boa sorte. ㅡ Rian o olhava catatônico. Era isso que Laísa queria dizer com ele se afogar? Izumi não queria saber. Saiu pela porta, e seguiu para a entrada onde esperaria sua mãe vir. Rian tinha cometido o erro que fez tudo girar, ele era o culpado, e Izumi não iria o perdoar. Se estava sofrendo, não era o suficiente, mesmo que se desmanchasse de remorso, o que ele fez não tinha perdão, e mesmo que tivesse, quem teria que perdoar não era ele. Laísa estava morta.

Anamnese.Onde histórias criam vida. Descubra agora