Capítulo 41 - O luau.

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Aquele era o final do primeiro ano na faculdade em que Sandra estudava, e seus amigos decidiram que ela deveria ir a uma festa na praia com eles. Ficava à uma hora e meia de onde estavam, e seus pais estavam tão felizes com o rumo que a vida da filha estava tomando, que nem se opuseram. Pediram apenas cuidado, e se colocaram a postos para qualquer problema que viesse a ter. A viagem tinha sido tranquila estavam em uma albergue beira mar, iriam dividir o quarto naquela noite e voltariam domingo ao entardecer. Faltavam ainda algumas horas para a festa que seria próximo de onde estavam.

Era, definitivamente, um lugarzinho aconchegante, feito de madeira e com plantas em todos os lugares. Janelas bem amplas, e onde não havia carpete de madeira, ou passarelas, a areia estava lá. O cheiro de maresia e o frescor do vento eram rejuvenescedores. O aroma dos protetores e bronzeadores faziam aflorar a sensação de férias que tinha quando criança. Era de uma alegria pacífica, não haviam preocupações. O mundo era aquela cidadezinha e somente isso.

Pomona e Sandra se conheceram no primeiro dia da faculdade, assim que cruzaram o caminho, ambas perdidas para a mesma aula, e desde então raramente não saem juntas. Talles e Samir eram amigos de infância que entraram em áreas diferentes na faculdade e dividiam um apartamento distante do campus, mas próximo das garotas. Após uma festa em que começaram a conversar, e que decidiram ir embora juntos, a amizade foi crescendo, então sempre estavam grudados, seja na faculdade, seja passando fins de semana juntos, ou fazendo outras atividades.

Agora os três estavam se preparando para ir tomar sol e tomar banho de mar. Sandra queria descansar um pouco. Talvez explorar os arredores. Mas, no momento, só queria deitar um pouco. O depois era depois. Eles, como sempre, insistiram, mas não o suficiente para que ela se irritasse. Ela gostava de aproveitar sua solitude. Sempre que era possível. E eles nunca conseguiram fazer com que ela se sentisse sozinha. Pomona mesmo, sempre encontrava um jeito dela não ficar sozinha, e era sempre bem sucedida.

Agora sozinha, ela aproveitou para deitar na cama, tirar uma soneca, ler algumas revistas que achou escondidas no quarto. Foi para a área comum do albergue, trocou olhares com diversas pessoas, prestou atenção em seus sotaques. A pluralidade daquela festa prometia alguns encontros interessantes, se Pomona fizesse o primeiro contato. Porque Sandra mesmo não tinha tanta vontade de tentar introduzir-se em grupinhos.

Faltavam algumas horas para o início da festa, e o sol já estava descendo do seu pico. Logo o pessoal chegaria e iria se arrumar. Sandra voltou ao quarto, separou suas roupas, dirigiu-se ao banheiro, e tomou a ducha mais fresca e relaxante de toda sua vida. A pressão da água massageava seu corpo, a brisa que entrava pela janela logo acima beijava seu corpo em cada centímetro. Lavou o cabelo, o corpo, os pés. O cheiro do sabonete era adocicado e cítrico, a cada passada era como se seu corpo estivesse mais leve, límpido.

Saiu do box, enxugou-se, colocou a roupa da festa, enrolou a toalha no cabelo, saiu para comer algumas bolachas que trouxe em sua bolsa. Sentada na cama, comeu um pouco. Estava tão fresquinha. O sol ainda não havia abaixado tanto, mas não demoraria até que Pomona, Samir e Talles aparecessem sujos de areia, salgados, e barulhentos. Principalmente, barulhentos. Escovou os dentes, soltou o cabelo, deveria secá-lo, mas só o fato de ter uma cama fresquinha para deitar e aproveitar a brisa praiana, foi o suficiente para ela abrir mão de ligar o, barulhento, e quente secador.

Deitada nos lençóis brancos e gelados, Sandra se permitiu descansar. O cabelo molhava o tecido, mas era uma sensação boa, como tudo à sua volta. Era o descanso que tanto sonhara. Era com se sua alma fosse aos poucos preenchida por uma vitalidade sem fim. Ela podia sentir-se viva novamente, sentir-se livre. Virou de lado, ajeitou os cabelos para que não encostassem em suas costas ou nuca, e adormeceu.

Ouviu a porta se abrir, a luz do banheiro atingiu seus olhos, abriu-os e conseguiu ver Talles dando uma olhada melhor. O quarto estava mais escuro que antes, mas não acenderam as luzes para não a incomodar. Mesmo assim decidiu levantar. O cabelo ainda estava úmido, provavelmente amassado, mas o escovaria e pronto. Afinal, estavam na praia, estavam de férias, chega de tanta preocupação.

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