Anamnese.

Capítulo 36 - Uma chamada de partida.

Dirigir naquela velocidade era algo raro para Martins. Mas aquela era a primeira vez que em anos que eles eram mandados para uma emergência tão assustadora. Miranda ainda não tinha voltado a se falar com o parceiro, mas depois dos acontecimentos daquela noite ela não sabia como consertar as coisas. Eles não se falavam mais, e depois que Ítalo foi preso, as coisas no quartel pareciam ter voltado ao estado normal, porém essa ligação que receberam mudava tudo.

Entraram no condomínio e seguiram para um lugar que ela conhecia por fotos. Foram recomendados a entrar armados, e assim fizeram. Era uma casa gigante, e maior ainda era o gramado na entrada. De uma janela no alto ela pôde ver Renata e Maya, em uma janela do lado os pais de Maya. Olhavam assustados. Se tivesse alguém na casa, essa pessoa poderia estar os observando. As luzes da viatura giravam nas sombras da noite. E que noite estava sendo aquela.

Logo que começou a escurecer, Ricardo ligou para Carvalho avisando que Marie tinha tentado cometer suicídio, e perguntava se isso tinha a ver com os novos casos e a última visita na delegacia. E agora eles estavam entrando na casa em que as meninas foram avisadas pelo próprio assassino que ele logo atacaria. Martins abriu a porta e deu um salto para trás. A casa toda estava iluminada, e tudo estava quieto.

Percorreram todos os cômodos da parte inferior, e decidiram se separar para que um checasse a parte de fora, e outro a parte de cima. Martins escolheu a área da piscina, ele daria passos mais largos e logo se juntaria a Miranda na parte superior. Lá em cima a policial abriu as portas de cada um dos quartos e banheiros, até que decidiu ir avisar que estava tudo bem. Do quarto em que estavam, Renata, Maya e seus pais saíram aliviados.

As meninas assim que a viram trouxeram os celulares mostrando uma foto perturbadora. Luciano e Murilo estavam deitados no que parecia ser um terreno abandonado, ambos com a garganta cortada, fazendo parecer que usavam uma camisa de gola alta vermelha. Miranda sabia exatamente de quem era a autoria daquilo.

Depois de três anos e a suspeita de que ele tinha voltado, agora era certo que o Monstro tinha voltado. Ainda que a morte de Laísa tenha se dado por Ítalo, e a morte de Aline permanecia sem um autor. Aquela foto que ela agora observava poderia ser a afirmação de que o Monstro voltou, e já fez mais duas vítimas. Mas isso não tirava o fato de algo inédito, ele fez uma ameaça. Ele estava mais confiante, tão confiante que agora tinham dois corpos perdidos por aí.

O jogo recomeçou e a teoria de Marie valia a pena ser estudada. Naquele momento Miranda já tinha saído para a beira da escada para que Martins a visse que estava tudo bem. Enquanto descia pelos degraus Carvalho a atendeu. Ela já tinha sido notificada da ligação das meninas, mas Alessia decidiu que ligaria para ela, aquilo dizia respeito a Sandra e a equipe de investigação. Era a vez de colocar o seu plano em ação.

Major? Então, é certeza que ㅡ Ela abaixou o som da fala. ㅡ é o Monstro.

A imagem mostra dois meninos degolados, do mesmo jeito que ele fazia-

Não, não acho que seja um copiador-

Calma-

Me escuta, pelo o que eu sei, quando um assassino em série faz isso, é porque ele tá mais confiante...

Entendido.

Miranda olhou para as pessoas atrás de si. Estavam assustados. Martins os acalmava, dizia que pediria permissão para ficarem de guarda na casa. Ele parecia ter total controle, mas ela sabia exatamente como ele estava por dentro. Um Martins interior deveria estar com o mesmo rosto assustado daquela montagem do dia da morte de Laísa. Mas provavelmente ele não o mostraria para ela. Não eram mais tão íntimos, e o momento não permitia lágrimas.

Pode deixar que eu tô indo até o rádio, eu pergunto. ㅡ Ele assentiu para ela.

Chegando até a viatura ela percebeu que o rádio não parava de procurar por viaturas disponíveis. Chegando mais perto ela percebeu que a situação estava pior do que ela imaginava. Assim que entrou e se sentou ela teve a confirmação de que a noite seria movimentada.

Atenção, soldados Martins e Miranda. Estão na escuta? Câmbio.

Afirmativo. Aqui é a soldado Miranda. Câmbio.

Qual a situação de vocês? Câmbio.

Nenhum sinal do suspeito, mas querem que fiquemos de guarda aqui. Podemos ficar? Câmbio.

O suspeito fugiu ou não apareceu? Câmbio.

Não apareceu. Câmbio.

Seguinte, temos a localização de quatro vítimas de sequestro do mesmo suspeito. Dois deles foi vítima de homicídio enquanto vocês estavam aí. Vocês não podem sair daí? Estamos com pouco pessoal. Câmbio.

Vou aconselhar eles a irem para o quartel e já estou saindo com Martins. Câmbio.

Entendido. Câmbio.

Qual a localização? Câmbio.

Talvez o suspeito tenha fugido pelo riacho. Câmbio. ㅡ Espera, o quê? Era exatamente isso que Leone tinha dito no rádio naquele dia... Esse era o código? O que Martins tinha respondido mesmo? Alguém da polícia estava realmente envolvido? Quem manteria reféns lá, se era um lugar secreto?

Indo vigiar a área. Câmbio.

Indo cobrir a área, soldado Miranda. Câmbio. Desligo.