Capítulo 03

1.7K 98 18
                                    

Carma. Ah, como ele odiava o carma! Era isso que estava acontecendo com ele. Afinal de contas, um cara só pode galinhar pelo mundo até certo ponto: alguma hora Deus começa a castigar, a matar ou, no caso de Christopher, a lançar a praga das mulheres sentimentais.

— Eu não... — Christopher limpou a garganta e continuou, em um sussurro: — Não foi um acidente. Esta mulher aqui é que me atacou. — Ele apontou para Dulce.

A comissária de bordo olhou para os dois:

— Com o quê, senhor?

— Água — respondeu vovó no lugar dele. — Ela jogou água nele.

— Hã... — A moça se remexeu, nervosa. — E por acaso o senhor... Quer dizer, o senhor quer apresentar queixa?

— A quem? — Dulce riu. — A que autoridade? E o que ele vai fazer? Usar uma arma de choque em mim, por eu ter jogado água na parte do corpo favorita desse senhor? — Ela apontou para a cara de Christopher e riu. — Sério!? Não é como se eu tivesse dito “bomba”.

— Ah, droga! — Pressionando o ponto entre os olhos, Christopher se pôs a ouvir enquanto a palavra “bomba” era repetida aos murmúrios nas várias poltronas atrás dele. Em pouco tempo, como se literalmente atingido por uma bomba, todo o avião ficou imerso em caos.

— Senhora! — A comissária de bordo ergueu as mãos diante de Dulce. — Fique calma. Preciso que a senhora fique calma. Por acaso está com uma bomba?

— O quê? — Ela pareceu confusa. — Por que eu estaria com uma bomba?

Bom. Ao menos Dulce tinha o bom senso de parar de falar quando...

— E se eu estivesse com uma, acha que seria idiota a ponto de ficar gritando isso por aí?

Alarme falso. Aquela mulher não tinha bom senso, nem fazia o menor sentido. Como ele pôde esquecer? Estava falando de Dulce. Ela adotava cachorros cegos e chorava durante os comerciais idiotas da cantora Sarah McLachlin sobre resgate de animais. Estava claro que bom senso não era um de seus pontos fortes.

— Senhora! Preciso que pare de gritar. — A comissária de bordo gesticulou para alguém atrás de si. Em questão de segundos, surgiu um homem de jeans e camisa branca. Bem, não parecia justo chamá-lo de homem, apenas, já que era bem provável que o cara comesse criancinhas no jantar. Até Christopher se remexeu na poltrona, pouco à vontade, e evitou contato visual com o desconhecido.

— É você que está dizendo que vai bombardear o avião? — perguntou o— É você que está dizendo que vai bombardear o avião? — perguntou o homem.

— O quê!? — Dulce olhou para Christopher, pedindo ajuda. E, para ser sincero, ajudá-la parecia ser a coisa certa a fazer, apesar de tudo.

Mas aquela mulher tinha acabado de jogar água nele e de acusá-lo de ter sofrido um “acidente”.

E teve também aquela vez, ainda no ensino médio, que ela espalhou o boato de que Christopher não praticava esportes porque tinha medo de que, quando estivesse nu no vestiário, alguém descobrisse que ele tinha partes íntimas femininas.

Então talvez ele não estivesse muito propenso a ajudar.

— Christopher! — Dulce acertou-o no ombro. — Ajude aqui!

Com um sorriso maldoso, ele ia começar a responder, mas vovó tapou sua boca antes que desse tempo de falar.

— São esses dois. Os dois têm bombas. — Assim que disse isso, vovó Nadine começou a chorar.

Lágrimas de verdade.

No instante imediato, Christopher teve as mãos atadas por um lacres de segurança e, na sequência, viu-se forçado a comer amendoins, que lhe foram dados por um homem cujas mãos eram maiores que seu rosto, porque ele quase desmaiou. Ah, que ótimo, um colapso nervoso! Este era só mais um acontecimento a somar aos que deviam estar sendo os piores meses de sua vida!

O Desafio Onde histórias criam vida. Descubra agora