Capítulo 33

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Dulce ia arrancar o próprio braço e comê-lo, de tanta fome. Será que a mãe de Christopher estava tentando torturá-la, sacudindo aquelas batatas com um cheiro delicioso bem debaixo de seu nariz? Já tinha ouvido dizerem que a mulher falava pelos cotovelos, mas não sabia que seria daquele jeito.

A colher ia e vinha enquanto Bets falava. Pairava sobre o prato, e então a travessa; de novo o prato, mais uma vez a travessa. Ela parecia um gato brincando com a presa — devia ser exatamente assim.

Bets riu com Anahí, pegou uma colherada de purê de batatas para servir Dulce, mas foi distraída pela conversa. A colher passou outra vez por cima do prato de Dulce e voltou para a travessa. Dulce podia jurar que Anahí mantinha Bets falando de propósito.

Finalmente, três horas depois — está bem, estava mais para vinte minutos —, todos estavam servidos e comendo, felizes. Se é que “felizes” incluía vovó contando histórias de Las Vegas enquanto Alfonso encarava o frango como quem o estivesse achando muito sensual.

Dulce quase se sentiu mal por ele. Mas Alfonso se casaria em uma semana, então era provável que não fosse morrer, nem nada do tipo.

Jace estava à direita de Dulce e Christopher, à esquerda. Ou seja: é claro que o clima não estava estranho, nem um pouco! Cada vez que o braço de Jace roçava no dela, Dulce se inclinava mais na direção de Christopher, o que a fazia ter calafrios toda vez que a pele dos dois entrava em contato.

Beber água sempre fora uma espécie de tique nervoso. O momento era constrangedor? Um gole d’água. Não sabia o que dizer? Um gole d’água.

Mas não havia água.

Apenas vinho.

O que significava que, se ela tivesse alguma esperança de sobreviver à noite, precisaria esvaziar todas as garrafas da mesa.

Ela já tinha bebido duas taças, e estavam apenas no terceiro prato.

— Então. — Jace lhe serviu outra taça. Ah, maravilha! — Alfonso disse que você é uma repórter famosa.

— Não sei se eu diria famosa...

— É claro que é. — Do outro lado da mesa, Alfonso deu uma piscadela. — Ela é uma das favoritas de Seattle.

— Você seria a minha favorita. — Jace também piscou.

Christopher teve um ataque de tosse. Ela lhe deu uma cotovelada nas costelas enquanto mantinha os olhos em Jace.

— Obrigada. Isso é muito gentil.

Ele deu de ombros de um jeito tão elegante que Dulce teve vontade de vomitar.

— Bem, é verdade.

Dulce desviou os olhos e comeu um pouco de purê. Ao menos a comida estava maravilhosa, apesar de as pessoas ao seu redor a estarem enlouquecendo. Jace disse mais alguma coisa, mas ela já não estava prestando atenção suficiente — não com a perna de Christopher encostada na dela.

Dulce se virou para Jace, que riu e se inclinou para mais perto.

— Desculpe. É só que tem purê de batatas no seu rosto.

A boca de Jace estava a centímetros da de Dulce, quando de repente Christopher praticamente pulou da cadeira.

— Filho da puta!

— O quê? O que houve? — Wescott Uckermann, o pai de Christopher, se levantou da cadeira depressa e olhou ao redor.

— Hã... — Os olhos de Christopher assumiram uma expressão confusa. — Um esquilo. Achei que tivesse visto um esquilo.

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