Capítulo 35

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A brisa fria da noite soprava sobre o rio Columbia enquanto Christopher tomava um gole de cerveja. A vista da casa da árvore sempre fora a favorita da família. Eles a construíram pensando no rio: ela era bastante alta, chegando a permitir que a vista alcançasse além das árvores, mas não alta em excesso, a ponto de arriscar uma fatalidade, caso alguma das crianças - Christopher, Alfonso e Anahí - caísse de lá.

Dulce já tinha ido lá uma vez, talvez duas.

Ela estava com sete anos quando Christopher a viu pela primeira vez. Dulce foi direto até ele e o socou no nariz. Quando o sangramento parou, duas horas depois, ele perguntou por que ela fizera aquilo.

A resposta?

Ele estava olhando para ela de um jeito estranho.

Irritado, Christopher gritou com Dulce e disse que não a olharia tanto se ela não fosse tão feia. Ela chorou, e foi assim que começou o relacionamento conturbado dos dois nos primeiros anos da escola.

No ensino fundamental, as coisas mudaram. Dulce tinha começado a virar uma garota bem bonita, mas uma garota bem bonita que não queria nada com ele.

Até o sexto ano. Ele tinha escrito um bilhete durante a aula, perguntando se ela queria passear com ele no intervalo.

Ficaram inseparáveis depois daquilo. E tudo por causa de um Twinkie, aquele bolinho amarelo, que, como reza a lenda, resistiria a um ataque nuclear, se isso viesse a acontecer. Sério, seria a comida que os alienígenas encontrariam em bom estado depois de um milhão de anos. Sem mofo. Amarelo como sempre.

Ele sempre odiou Twinkies, mas, naquele dia, decidira pegar alguns. Nunca disse a ela que os odiava. Só fingiu que os guardaria para depois e ficou observando enquanto ela comia o dela. Ela era tão bonita! O cabelo era bem mais escuro naquela época. Mais preto que castanho.

Os castanhos faziam um contraste tão bonito com o cabelo escuro que ele teve de encará-la outra vez. Dessa vez, ela não o socou. Apenas corou e desviou o olhar.

Naquele momento, soube que tinha uma tremenda queda por ela. Sentiu até vergonha de contar aquilo a Anahí, que, na época, era a melhor amiga dele.

Nem cogitava em contar a Alfonso, que odiava todo o mundo. E Christopher sempre sentia que era comparado ao irmão, quando criança. Então guardou aquilo para si.

Assim como a coleção de Twinkies.

Todos na casa da árvore.

A lembrança o fez rir, e ele ficou se perguntando se alguém, em algum momento, encontrara os bolinhos e ficara tentando entender por que ele os estocara como se fosse um esquilo faminto.

Refletindo sobre o passado, não conseguia lembrar o que tinha acontecido entre os dois - Dulce e ele. No ensino médio, ela simplesmente parara de falar com ele. Ele até havia comprado uma caixa de Twinkies e colocado no armário dela, com um bilhete.

Sabia que ela havia recebido o presente, porque a vira sorrir ao ler o bilhete e abrir a caixa. Mas aquilo tinha sido no primeiro dia de aula. E no ensino médio ele vivera seu ápice. Era difícil conversar com Dulce, que estava sempre indisponível. E o restante das garotas era ridiculamente disponível, então ele se aproveitara daquilo. Depois da escola, Dulce virara apenas uma conhecida, e depois um caso de uma noite só. E agora... agora ela era apenas... uma grande confusão.

Uma confusão na qual ele queria se meter. Na qual ele queria dar um jeito.

Só que, de alguma forma, tinha sido ele a causa de tudo. A coisa mais inteligente a fazer - e também a mais certa - seria perguntar o que havia acontecido. Mas o passado era passado, e ele precisava seguir em frente. Quando fora que sua vida tinha se tornado isto de que ele não sentia nenhum orgulho? Ele recebera todas as coisas de bandeja, mas, de alguma forma, conseguira estragar tudo. O próprio irmão não o queria como padrinho! Como ele não tinha percebido isso?

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