Mas o que tinha acabado de acontecer? Os dois estavam brincando e rindo, e, de repente, em questão de segundos, Dulce estava falando de vagabundas e batendo a porta na cara dele. O que ele tinha dito? Ela parecia apressada, então Christopher não quis irritá-la fazendo-a esperar enquanto ele pegava o número dela.
Pensou que estivesse agindo como um cavalheiro, ou ao menos tentando ser um.
Mas, segundo Dulce, tinha agido como um babaca.
Mulheres. Será que algum dia conseguiria entendê-las?
Enquanto deixava o estacionamento, refletindo sobre todos os motivos pelos quais beijar Dulce outra vez seria uma péssima ideia, o celular tocou.
- Que foi? - Estava rouco.
- Opa! Dia ruim? - Alfonso riu.
- Tive aula de dança. O que você acha?
- Sinto muito. Espere, você disse que teve aula de dança?
- Não vou repetir - respondeu Christopher, seco. - Ah, aliás, é capaz de vovó não poder ir ao casamento.
- Sério? Por quê?
- Vou matá-la. Hoje à noite. Ou então vou colocar algum tranquilizante nas vitaminas dela.
- Ah! Bem, não use Benadryl. Ela já tem tolerância a esse.
- É, bem, depois do que aconteceu com Anahí, acho que todos podemos dizer que temos tolerância. Posso jurar que usei uma caixa inteira na última vez que tive crise alérgica.
- Fico feliz que ainda esteja respirando. - Alfonso riu.
- Não seja babaca. O que você quer?
Alfonso riu mais uma vez.
- Primeiro me conte mais sobre a dança.
- Dança do acasalamento - corrigiu Christopher, pegando a saída para a loja de smokings. - Foi tudo bem. Dulce salvou a minha pele. Madame, e sim, esse é o nome dela, queria um novo brinquedinho.
- Como é?
- Um brinquedinho, uma distração, um homem com quem brincar e que pudesse vestir como quisesse. Era provável que você nunca mais me visse.
- Assustador.
- Você não faz ideia. De qualquer forma, acabei de deixar Dulce no trabalho e vou tirar as medidas para o smoking.
- Beleza.
A ligação ficou silenciosa.
- Poncho? Está aí?
- Estou. - O irmão ficou quieto outra vez. - Preciso perguntar uma coisa.
- Não, não vou doar um rim para você, peça à vovó.
- Ela só tem um.
- Por isso mesmo.
Alfonso suspirou.
- Não é isso. É...
- Ok, agora você está me assustando.
- Então, você sabe que o papai vai levar Anahí até o altar, né?
Christopher acabara de estacionar e suspirou.
- Sei.
- Ela, hã... - Alfonso soltou um palavrão. - Ela queria saber se teria problema se você... se você fosse com eles.
- Eu? - gritou Christopher. - Por que ela iria me querer ao lado dela? Isso é uma piada? Se sim, não é muito engraçada...
- Pare de gritar! - Alfonso soltou outro palavrão. - Viu? Sabia que você iria surtar. É só que... Você e Anahí foram melhores amigos por tanto tempo, e, mesmo com esses dois anos complicados, você ainda é importante na vida dela. E ela quer homenageá-lo.
Droga.
Christopher nunca chorava.
Nunca.
A última vez que chorara fora quando os pais de Anahí morreram. E, mesmo assim, ele se trancara no dormitório e bebera até esquecer que tinha chorado lágrimas de verdade.
Mas desta vez... sentia uma vontade absurda de chorar até não aguentar mais.
Porque não devia ser ele a levar Anahí até o altar. Nem o pai dele. Devia ser o pai dela. Parte dele, uma parte pequena, se sentia culpada do que acontecera e achava que todos estariam vivos e felizes se fosse possível voltar no tempo e consertar algumas coisas.
- Christopher, está me ouvindo?
- Estou - respondeu, rouco. - Posso... hã... Posso pensar no assunto?
- Claro.
- Certo. - Christopher bateu no volante com uma das mãos. - Preciso ir. Diga oi a Anahí por mim.
- Ok. A gente se fala depois.
Christopher desligou o carro e bateu no volante de novo.
Uma vez não tinha sido o bastante. E bateu de novo, e de novo, até que a mão ficou tão dormente que ele teve certeza de que precisaria colocar gelo depois.
Um dia ele contaria tudo a Anahí. Explicaria que o pai dela tinha... salvado a vida dele.
Sentiu um gosto amargo na boca ao pensar no passado - no passado como um todo. Será que Bill sentiria orgulho dele e das escolhas que fizera? Ou será que faria o que fizera oito anos antes... Que o faria cortar lenha e cavar buracos até que seus dedos sangrassem - até que ele percebesse o enorme erro que tinha cometido?
Praguejando, Christopher saiu do carro e caminhou até a loja de smokings. Precisava pensar naquele convite - pensar na possibilidade de levar Anahí até o altar -, mesmo que isso significasse que não seria ele o homem a esperá-la no fim do caminho. Nunca tinha merecido um amor como aquele e provavelmente nunca o mereceria.
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O Desafio
Fanfiction[CONCLUÍDA] "Como vai? Quer dizer, faz tanto tempo!" Na verdade, fazia onze meses, uma semana e cinco dias. Mas quem é que estava contando? Não ela. Christopher Uckermann é rico demais, bonito demais e arrogante demais: qualidades que, anos antes, f...