Capítulo 11

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Mas o que tinha acabado de acontecer? Os dois estavam brincando e rindo, e, de repente, em questão de segundos, Dulce estava falando de vagabundas e batendo a porta na cara dele. O que ele tinha dito? Ela parecia apressada, então Christopher não quis irritá-la fazendo-a esperar enquanto ele pegava o número dela.

Pensou que estivesse agindo como um cavalheiro, ou ao menos tentando ser um.

Mas, segundo Dulce, tinha agido como um babaca.

Mulheres. Será que algum dia conseguiria entendê-las?

Enquanto deixava o estacionamento, refletindo sobre todos os motivos pelos quais beijar Dulce outra vez seria uma péssima ideia, o celular tocou.

- Que foi? - Estava rouco.

- Opa! Dia ruim? - Alfonso riu.

- Tive aula de dança. O que você acha?

- Sinto muito. Espere, você disse que teve aula de dança?

- Não vou repetir - respondeu Christopher, seco. - Ah, aliás, é capaz de vovó não poder ir ao casamento.

- Sério? Por quê?

- Vou matá-la. Hoje à noite. Ou então vou colocar algum tranquilizante nas vitaminas dela.

- Ah! Bem, não use Benadryl. Ela já tem tolerância a esse.

- É, bem, depois do que aconteceu com Anahí, acho que todos podemos dizer que temos tolerância. Posso jurar que usei uma caixa inteira na última vez que tive crise alérgica.

- Fico feliz que ainda esteja respirando. - Alfonso riu.

- Não seja babaca. O que você quer?

Alfonso riu mais uma vez.

- Primeiro me conte mais sobre a dança.

- Dança do acasalamento - corrigiu Christopher, pegando a saída para a loja de smokings. - Foi tudo bem. Dulce salvou a minha pele. Madame, e sim, esse é o nome dela, queria um novo brinquedinho.

- Como é?

- Um brinquedinho, uma distração, um homem com quem brincar e que pudesse vestir como quisesse. Era provável que você nunca mais me visse.

- Assustador.

- Você não faz ideia. De qualquer forma, acabei de deixar Dulce no trabalho e vou tirar as medidas para o smoking.

- Beleza.

A ligação ficou silenciosa.

- Poncho? Está aí?

- Estou. - O irmão ficou quieto outra vez. - Preciso perguntar uma coisa.

- Não, não vou doar um rim para você, peça à vovó.

- Ela só tem um.

- Por isso mesmo.

Alfonso suspirou.

- Não é isso. É...

- Ok, agora você está me assustando.

- Então, você sabe que o papai vai levar Anahí até o altar, né?

Christopher acabara de estacionar e suspirou.

- Sei.

- Ela, hã... - Alfonso soltou um palavrão. - Ela queria saber se teria problema se você... se você fosse com eles.

- Eu? - gritou Christopher. - Por que ela iria me querer ao lado dela? Isso é uma piada? Se sim, não é muito engraçada...

- Pare de gritar! - Alfonso soltou outro palavrão. - Viu? Sabia que você iria surtar. É só que... Você e Anahí foram melhores amigos por tanto tempo, e, mesmo com esses dois anos complicados, você ainda é importante na vida dela. E ela quer homenageá-lo.

Droga.

Christopher nunca chorava.

Nunca.

A última vez que chorara fora quando os pais de Anahí morreram. E, mesmo assim, ele se trancara no dormitório e bebera até esquecer que tinha chorado lágrimas de verdade.

Mas desta vez... sentia uma vontade absurda de chorar até não aguentar mais.

Porque não devia ser ele a levar Anahí até o altar. Nem o pai dele. Devia ser o pai dela. Parte dele, uma parte pequena, se sentia culpada do que acontecera e achava que todos estariam vivos e felizes se fosse possível voltar no tempo e consertar algumas coisas.

- Christopher, está me ouvindo?

- Estou - respondeu, rouco. - Posso... hã... Posso pensar no assunto?

- Claro.

- Certo. - Christopher bateu no volante com uma das mãos. - Preciso ir. Diga oi a Anahí por mim.

- Ok. A gente se fala depois.

Christopher desligou o carro e bateu no volante de novo.

Uma vez não tinha sido o bastante. E bateu de novo, e de novo, até que a mão ficou tão dormente que ele teve certeza de que precisaria colocar gelo depois.

Um dia ele contaria tudo a Anahí. Explicaria que o pai dela tinha... salvado a vida dele.

Sentiu um gosto amargo na boca ao pensar no passado - no passado como um todo. Será que Bill sentiria orgulho dele e das escolhas que fizera? Ou será que faria o que fizera oito anos antes... Que o faria cortar lenha e cavar buracos até que seus dedos sangrassem - até que ele percebesse o enorme erro que tinha cometido?

Praguejando, Christopher saiu do carro e caminhou até a loja de smokings. Precisava pensar naquele convite - pensar na possibilidade de levar Anahí até o altar -, mesmo que isso significasse que não seria ele o homem a esperá-la no fim do caminho. Nunca tinha merecido um amor como aquele e provavelmente nunca o mereceria.

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