Capítulo 30

969 59 5
                                        

Jace era gato. Mais que gato. Parecia o Thor, só que de olhos verdes em vez de azuis. Dulce reparou porque eram emoldurados por cílios tão longos que ela quase se perguntou se eram postiços.

Ele era incrível.

E a pele bronzeada?

Jace era como uma sobremesa, uma daquelas bem gostosas, do tipo que as mães nunca nos deixam saborear sem que antes comamos toda a comida... A sobremesa que faz todas as outras parecerem sem graça. O tipo de homem que as mulheres observam de longe, mas com quem nunca falam.

E ele estava falando com ela.

Sentiu o estômago vibrar de animação, até que olhou para Christopher. Ele parecia muito infeliz. Não queria se sentir mal por ele: afinal, ele passara a noite com vagabundas. Mas ainda assim sentia pena.

Embora o corpo respondesse aos estímulos de Jace, o coração ansiava por Christopher. E isso era um saco. Nem um pouco justo. Pela primeira vez na vida, o cara interessado nela parecia ser tão bom quanto todos diziam que era, mas seu coração tinha decidido que não estava interessado. Como podia ser?

A limusine parou na frente de Uckermann Abbey. Ainda faltava uma semana para o casamento, mas não parecia.

Vans do bufê estavam estacionadas por todos os lados, com decoradores, floristas... Jesus! A casa inteira parecia cenário de uma revista de casamento.

— Dulce! — Anahí correu até a limusine, mas parou de súbito. — Jesus! Vocês atropelaram um gato morto, ou coisa assim?

— Um gato morto. — Jace riu, saindo do carro. — Acho que foi isso, não é mesmo, Christopher?

Gemendo, Christopher saiu do carro e foi direto para a casa.

— Ah, que isso! Casamentos não são assim tão ruins! — gritou Jace, rindo.

Dulce estreitou os olhos. Não estava gostando de ver Jace provocando Christopher. Era verdade que Christopher fizera por merecer, mas isso não justificava a provocação. E aquela atitude de Jace não era atraente. Não para ela.

— Parece que Christopher voltou para a vida de farra, hem? — Anahí cutucou Dulce e segurou-lhe o braço, sem nem reparar que o coração da amiga ficava apertado ao pensar naquilo.

Ele tinha passado alguns dias com ela.

E não tinha sido o bastante para mantê-lo longe daquele estilo de vida. O que mais uma vez provava que ele não valia a pena, porque, no fim, sempre escolhia a si mesmo, as antigas tendências e práticas, o dinheiro. Ele nunca a escolheria.

— Então... — Dulce ignorou a dor no peito. — Jace é muito legal.

— Ele é senador — cantarolou Anahí. — E se formou dois anos mais cedo, na faculdade. É membro da MENSA, aquela sociedade que reúne os maiores QIs do mundo, e sei, por fontes seguras, que ele adota cachorros doentes e abandonados.

— Estão falando de Jace? — Alfonso apareceu e deu um beijo na testa da noiva. — Ele é uma espécie de pornô para mulheres. Sério, se não gostar dele, não há mais esperanças para você.

Dulce não teve chance de responder. Vovó chegou carregando um enorme microfone, coberto de pequenos cristais cor-de-rosa.

— Hã, o que é isso? — Dulce apontou para o objeto ofuscante.

— Meu microfone, para o casamento. — Vovó ergueu a caixa do aparelho para mostrá-la a Dulce. — Faz minha voz parecer a da Mariah Carey.

— Só se a Mariah Carey fosse um esquilo morrendo — completou Anahí, aos murmúrios.

— Eu ouvi isso — retrucou vovó.

— Você não vai cantar no casamento. — Anahí abriu um sorriso. — Então, não faz muita diferença.

Com muito cuidado, vovó guardou o microfone na caixa — que mais parecia uma caixinha de maquiagens para crianças — e a apertou com segurança sob o braço.

— O que você e Alfonso estão planejando é coisa de criança. Eu namorei um Kennedy. — Ela ajeitou a blusa. — Mas já chega. Agora, saiam! Preciso planejar umas coisas. Vamos comemorar hoje à noite!

— Do que vovó está falando? — perguntou Dulce, tentando entender por que Alfonso e Anahí estavam olhando para a avó como se tentassem decifrar o enigma que era sua vida e o modo como ela se comportava.

— Temos o jantar e uns coquetéis para os convidados — comentou Anahí, ainda observando vovó. — Não gosto do tom de voz dela. O que ela sabe que não sabemos?

Alfonso coçou a cabeça.

— Ela só está tentando fazer com que fiquemos preocupados.

— Gente, estou perdida. — Dulce ergueu uma das mãos. — Vocês estão em guerra contra vovó?

— Não — disparou Anahí, olhando para Dulce. — Um confronto de ideias, talvez... Mas vamos ganhar. Vovó acha que sabe o que é melhor, mas, desta vez, está errada. E provaremos isso a ela, o que quer dizer que ela não vai cantar no casamento.

>>•<<

O Desafio Onde histórias criam vida. Descubra agora