Capítulo 24

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Tinha sido um acidente. Ele ia pedir apenas uma maldita flor. Mas então se lembrou da expressão desanimada de Dulce, de como ela parecia triste quando saiu do carro. E pediu mais algumas. Enquanto conversava com o florista, foi como se ele tivesse perdido totalmente o domínio sobre a própria boca.

E quando o homem lhe perguntou o porquê de ele estar enviando flores, bem... foi naquele momento que tudo saiu do controle. Porque ele não conseguiu evitar que sua mente criasse imagens da expressão do rosto de Dulce ao chegar ao trabalho e ver a mesa coberta de flores. Estava convencido de que ninguém nunca se dera o trabalho de fazer alguma coisa legal por ela. Podia apostar a própria vida nisso.

Tudo bem... Tinha sido um pouco excessivo.

Talvez muito excessivo.

Mas era uma oferta de paz. Quem foi que disse que ofertas de paz não podiam ser excessivas? Ele queria que ela se sentisse bem.

Missão cumprida.

Até que viu o rosto dela outra vez.

Realmente, precisava parar de se encontrar com Dulce. Trazia à tona sentimentos indesejados, que faziam, por exemplo, com que ele se sentisse vulnerável ou estúpido.

E ela o estava olhando daquele jeito de novo: o olhar que as mulheres fazem quando estão começando a se apaixonar. Normalmente, ele odiaria isso. Mas não desta vez. Agora, ele ansiava por ver nela aquela expressão. Dulce o estava arruinando aos poucos. Ele não sabia se devia fugir ou se devia beijá-la e acabar logo com isso tudo. Porém, o mesmo medo irritante ainda bloqueava todos os pensamentos lógicos e o faziam repensar cada decisão.

Sabia que era um babaca e que não a merecia. Também sabia que era provável que ele estragasse tudo e que ela passasse a odiá-lo. E tinha ainda seu passado com as mulheres. Somando isso às coisas vergonhosas que fizera com Anahí, Christopher não tinha certeza se podia confiar em si mesmo, quanto mais deixar que outra pessoa confiasse.

Com um suspiro, ele olhou para o cardápio e tentou encontrar o que pedir.

Tudo parecia embaralhado, nada parecia gostoso — nada além dela.

E, por mais triste que fosse, Dulce não estava no cardápio. Talvez conseguisse encontrar um pedaço de giz, e então poderia escrever o nome dela e pedir com delicadeza.

E depois, com delicadeza, empurraria tudo para fora da mesa. E, com bastante delicadeza, tiraria as roupas dela.

E, ainda com delicadeza, a possuiria...

— Christopher? — Dulce interrompeu seus pensamentos. — Seu rosto está vermelho, está tudo bem?

Claro que não. Não estava nada bem.

Ele apertou as laterais da cadeira e deu um breve aceno de cabeça.

— Só estava pensando.

— Se importa de dizer o quê? — Dulce riu. — Seus pensamentos parecem interessantes.

Ah, se ela soubesse!

O garçom surgiu do nada.

— Prontos para pedir?

Droga. Se Christopher estivesse olhando para o cardápio de verdade, conseguiria responder, mas sua mente estava vazia, e ele estivera mirando a boca de Dulce como um homem faminto. Perfeito. Estava ficando louco. Vovó ficaria feliz.

— Vou querer a salada do chef com batatas fritas.

Christopher riu e apontou para Dulce.

— Eu também.

Ela tomou um gole de vinho e fechou os olhos.

Com a boca completamente seca, Christopher a assistiu saborear o vinho tinto e engolir.

Teria sorte se conseguisse sair do restaurante sem morrer de excitação.

Pigarreou e conseguiu desviar os olhos.

— Batatas fritas e salada, é?

— O melhor dos dois mundos — respondeu Dulce.

Pelo canto do olho, Christopher reparou que o cálice da tentação, mais conhecido como taça de vinho, estava de volta à mesa. Suspirou e conseguiu recuperar um pouco de autocontrole quando seus olhos encontraram os dela outra vez.

— Então, vamos comer. — Dulce mordeu o lábio inferior. — Depois pegamos os bonequinhos do bolo, e aí só vai ficar faltando uma tarefa, não é isso?

— Isso.

— Deve ser fácil.

— Vamos terminar rápido. — Christopher deu uma piscadela.

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