Capítulo 14

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Dulce levou mais de uma hora para se arrumar. Nenhuma roupa ficava boa, e ela queria estar bonita, já que seria vista andando por aí com uma celebridade. O que deveria vestir? O modo como Christopher a olhara a tinha feito estremecer. Bem, tudo estava confuso demais, o que de repente a fez agradecer a demora de uma hora em ficar pronta, em vez dos vinte minutos habituais. Nesse tempo, precisou ficar lembrando a si mesma que ele devia estar sentindo pena dela. Ele não era assim tão altruísta... Era Christopher Uckermann, pelo amor de Deus! Até os espelhos ficavam enciumados se ele passasse direto, sem olhá-los ao menos uma vez.

Dirigiu o Ford velho até a casa dele, alternando entre o pânico, a vontade de dar meia-volta e a determinação. Era seu aniversário. Ela devia se divertir. Ela merecia aquilo, e a única outra opção que tinha eram os quatro volumes de uma série de livros no Kindle e uma garrafa de vinho.

Se desse meia-volta, pegaria no sono enquanto Jimmy Fallon e Justin Timberlake estivessem apresentando a sétima parte da sequência History of Rap, então acordaria com os devaneios do apresentador Carson Daly às duas da manhã.

Deprimente. Para dizer o mínimo.

Christopher já estava esperando quando ela estacionou em frente à casa.

Dulce ficou boquiaberta. Mas que... Só tinha visto um carro como aquele na TV, e ainda assim ficara duvidando de que ele fosse real.

Uma coisa era certa: aquilo tudo era demais para ela. De repente, parecia errado estacionar o velho Ford ao lado daquela máquina.

Ela pegou a bolsa e saiu do carro.

Christopher usava calça jeans justa, óculos de sol tipo aviador e uma camisa azul clara com os primeiros botões abertos. Uma jaqueta de couro bege completava o visual, e, sinceramente, aquela era uma imagem e tanto. Mas nem assim ela conseguia ignorar o carro, que praticamente a cegava. Era... Era incrível. Não tinha palavras.

— Gostou do carro? — perguntou ele, jogando as chaves para ela. Dulce quase tropeçou quando as pegou no ar.

— É de verdade?

Christopher riu.

— O quê? O carro?

Dulce só conseguiu assentir com a cabeça.

— Não sei. Por que não usa essa chave e descobre?

Louca para entrar naquela máquina de aparência alienígena, ela rapidamente abriu a porta do motorista e se sentou no assento de couro macio. Servia como uma luva. Era como se o carro se moldasse ao seu corpo, como um vestido.

— Que é isso?

— Um Bugatti Veyron.

— É... — Dulce passou as mãos pelo volante e olhou para Christopher, que estava no banco do carona. — É lindo. A gente pode dizer que carros são lindos?

Rindo, Christopher estendeu o braço e acariciou o assento bem ao lado da perna de Dulce.

— Dá para sentir isso?

Ela teria que estar morta para não sentir o calor da mão de Christopher acariciando o couro bem ao lado de sua coxa.

— É costurado a mão. Não é incrível que um carro possa ser sensual? Mas... — A mão de Christopher subiu para a perna de Dulce. — O que eu queria era que você se sentisse sexy no dia de seu aniversário. Aliás, você está linda. Amo vermelho.

Ela decidira usar um vestido vermelho frente única bem justo e sapatos dourados. Isso depois de um furacão ter passado por seu quarto.

— Pronta para ir? — Christopher recolheu a mão. — Pode dirigir se quiser.

Dulce balançou a cabeça e começou a sair do banco do motorista.

— De jeito nenhum. É caro demais. Vou acabar indo a 20 quilômetros por hora na estrada, com medo de alguém bater em mim.

Christopher deu a volta no carro e a ajudou a terminar de se levantar do assento baixo, mas ela acabou tropeçando e caindo em seus braços, desajeitada.

— Desculpe.

— Não precisa. — Os olhos dele se fixaram nos lábios dela por um breve segundo, antes de Christopher dar um passo para trás. — A regra número um dos aniversários: não precisa pedir desculpas. Agora, entre no carro. Temos que encontrar os pais de alguém.

— Christopher, duvido que a gente vá encontrá-los...

— Já encontrei. Ou melhor, vovó encontrou. Eles estão hospedados no primeiro hotel para o qual ela ligou. Vovó disse que é um dos melhores de Alki, então era um bom lugar por onde começar a procurar. Tudo o que fez foi ligar dizendo que estava quase morrendo e que precisava falar com o filho. Ela deu à recepcionista o nome de seu pai e depois... desligou.

— Ela é um gênio do mal.

Christopher ligou o carro.

— Um dia ela vai dominar o mundo. Escute o que estou dizendo. — Ele estendeu o braço até alcançar o cinto de segurança de Dulce e o afivelar. — Segure-se. Só dirigi isso aqui uma vez, e é rápido.

Ele não estava brincando quando disse que o carro era veloz e que só o dirigira uma vez: em alguns momentos, estavam tão imersos na conversa que Christopher nem se dava conta de que estava a mais de 160 por hora.

Pela primeira vez na vida, Dulce se sentia como a personagem de um conto de fadas. Quando mais nova, ela fora a garota por quem Christopher não se apaixonara.

Agora... Olhou discretamente para ele, que mexia no rádio. Era sua Cinderela. Mesmo que fosse por pena, a sensação era muito boa. Alguém finalmente a tinha escolhido.

Ela nunca percebera quanto precisava disso. Até agora.

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