Capítulo 9

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Cause perfect didn’t feel so perfect Trying to fit a square into a circle Was no life I defy

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Cause perfect didn’t feel so perfect Trying to fit a square into a circle Was no life I defy.
— Hilary Duff, “Come Clean”

Eram por volta das oito da noite quando Lamar saiu e me avisou que não tinha hora para voltar. Fui até o quarto da minha mãe, que já dormia.
Tentei assistir à televisão, mas, como nada me prendeu, agora estou esperando César passar para me buscar. Preciso sair um pouco. Os empregados já estão dormindo, e a casa parece ainda maior no silêncio da noite.

Às quinze para as onze, passo pelo segurança no portão, que me lança um olhar de “essa casa virou uma zona”. Ele tem razão, o que posso fazer?

Vovô ainda tenta pôr ordem, vovó passou alguns dias conosco, mas não é nos pressionando que as coisas vão voltar a ser o que eram; quer dizer, elas simplesmente não vão voltar.

Estou vestindo preto dos pés à cabeça, com direito a gola alta e um gorrinho que dá um toque delicado a tanta escuridão. Sou eclética em meu modo de vestir — posso ir do gótico a princesa da Disney em dois segundos.
Provavelmente foi isso que me levou a cursar moda na faculdade, embora eu não veja mais sentido nisso e esteja pensando em trancar por um semestre, pelo menos.

Às vezes me pego pensando no motoqueiro. É difícil não pensar, já que Lamar passa mais tempo com Krystian do que em casa.

César estaciona o Audi A3 prata e desce para me dar um beijo rápido nos lábios. Ele é uma antítese para meus pensamentos atuais. A calça social bem passada e a camisa listrada de mangas compridas da Lacoste são o oposto da calça jeans rasgada e da camiseta preta justas que insistem em surgir em minha mente cada vez que fecho os olhos.

Ele abre a porta do carro, espera que eu entre e a fecha. Sempre o mesmo ritual. Não existe ninguém mais educado que ele. Namoramos desde que eu estava no segundo ano do ensino médio. Ele é primo do Maurício, marido da Sina. Aliás, foi através dele que ela o conheceu. Tem vinte e três anos e já está estagiando na área de contabilidade de uma multinacional, por isso não pôde ir ao enterro, fato que ainda não perdoei completamente.

Meu pai o adorava; meu avô, se pudesse, o adotaria. Ele é o típico garoto brilhante e inteligente. Mesmo sendo novo, sugeriu muitos investimentos rentáveis à minha família. Por ele, nos casaríamos amanhã, assim como Maurício e Sina, mas não me vejo casada tão cedo. Gosto dele, gosto muito, só não sei se estou pronta para um passo tão grande. E não sei explicar direito, mas nós nos distanciamos durante o tratamento de meu pai.

Às vezes eu converso mais com Noah, que está em outro continente, do que com César. Aliás, fiz algo que talvez não devesse ontem. Liguei para
Noah e disse que não gosto das novas amizades do Lamar.

O que posso fazer? Não gosto mesmo. Meu irmão tem voltado de madrugada para casa e muitas vezes cheirando a bebida. Não que ele fosse um exemplo de comportamento quando meu pai estava vivo, mas está ultrapassando todos os limites. Tentei conversar com minha mãe e o máximo que consegui foi que ela espera que essa fase passe um dia. Já foi muito ela ter falado.

Meu namorado entra no carro e liga o rádio antes de partir. Como sempre, na Antena 1. Seguro um resmungo. Não que eu não goste dessa rádio, mas ela só toca música antiga e me sinto com cinquenta anos, sem contar que era a preferida do meu pai. Então, qualquer intenção de tentar me distrair se perde.

— O que deu em você para me ligar tão tarde?

— Senti sua falta.

Não é completamente verdade, mas não vou contar sobre Lamar para César. Ele contaria ao meu avô e ainda diria que foi com a melhor das intenções.

— Bom saber. — Ele dá um meio-sorriso enquanto dirige, e observo os cabelos loiros perfeitamente penteados. Se um fio ali sair do lugar, é provável que César arrume imediatamente. Ele é todo certinho.

Então me pego pensando que gostaria de bagunçar alguns fios, só para ver como ficam, e, sem poder me conter, faço isso.

— Já experimentou deixar os cabelos assim? — pergunto, mas sua mão arrumando o que baguncei me dá a resposta antes mesmo que ele diga.

— Não. Vamos deixar as experimentações para você. É coisa de adolescente. — Ele lança um olhar rápido para as minhas roupas. — Prefiro ser sempre o mesmo.

— Isso é chato. — Cruzo os braços e levanto o queixo, agindo exatamente como a quem odiei ser comparada: uma adolescente.

Viro para o lado ao mesmo tempo em que um motoqueiro passa a toda velocidade. Droga!

— Motoqueiros... — César bufa. — Tem algo mais inconveniente?

— Não, não tem — respondo no automático, sem saber o que ele vê de tão inconveniente em um motoqueiro, mas aí me lembro do óbvio. — O Lamar também anda de moto. — Minha irritação é evidente na voz.

— Um costume que vai passar com o tempo. Também é coisa de adolescente.

— Você só é cinco anos mais velho, César.

— E cinco anos dão muita maturidade. Sei que foi isso que chamou sua atenção. Minha maturidade e minha capacidade de cuidar de você.

— Posso cuidar de mim sozinha.

— Ih... Se está de mau humor, por que quis sair?

Porque eu não estava?, penso, mas não digo, afinal quem fez o convite fui eu.

— Deve ser TPM.

— Deve mesmo. — Ele dá uma risadinha, enquanto embica o carro para entrar no motel. — Vou te acalmar já, já.

Homens... Se a gente falar toda semana que qualquer motivo de irritação é TPM, eles acreditam. Não é possível que não saibam contar!

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“Porque o perfeito não me pareceu tão perfeito/ Tentar encaixar um quadrado dentro de um círculo/ Não era vida/ Eu desafio.”

As Batidas Perdidas do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora