If we’re ever parted I will keep the tie that binds us And I’ll never let it break ‘Cause I love you.
— Johnny Cash e June Carter Cash, “’Cause I Love You”Deixar Shivani partir, depois de toda dor que eu causei a ela, foi o fundo do poço para mim.
As pessoas dizem que pelo menos o fundo do poço é o limite e nada mais de ruim pode acontecer, mas sempre pode. Paredes desmoronam e você é soterrado. Shivani se foi. Só causei mal ao maior amor que tive na vida. Tem um lado meu que quer se entregar, enquanto o outro me mostra alguém que não pode simplesmente ir embora: Krystian.
Meu primo volta a morar no apartamento, mas quase não fala comigo. Ele me culpa por tudo o que aconteceu e está coberto de razão. Eu tenho dois caminhos à minha frente: me deixar levar por tudo o que perdi ou tentar sair do lugar imundo e desolador em que me encontro.
Quando chego em casa, ele está lá. Sentado no sofá, jogando videogame. Parece o mesmo Krystian de sempre até olhar para mim. Ele não sabe o que fazer, está preso entre a raiva e o compromisso que tem comigo como alguém que ainda me ama.
Eu me sento ao seu lado e pego o controle. Krystian me olha espantado. Nunca jogamos juntos. Ele reinicia o jogo e tenta agir normalmente, enquanto faz um gol atrás do outro.
— Você foi com ela ao aeroporto? —pergunto, entre um movimento e outro.
— Aham.
— Não te pediram pra voltar pra casa deles?
— Pediram.
— Preciso que você vá.
— Tá me expulsando? — Ele pausa o jogo e me encara.
— Não. É que vou passar um tempo fora.
— Vai ficar nessa vida até morrer?
— Não. — Respiro fundo antes de contar a ele minha decisão. — Vou me internar.
Krystian abre a boca e não consegue pronunciar um único som. Chocado, solta o controle sobre o sofá. Seus olhos começam a lacrimejar, e, antes que eu dê maiores explicações, ele me abraça chorando.
❦
No dia seguinte, chego ao escritório de Fernando Morris Paliwal acompanhado de Krystian, que parece criança novamente. Sua fé em mim me surpreende mais uma vez. Ele acha que é simples me salvar. Acho que faz parte do amor cego.
— Eu conversei com ele, Bailey. — Krystian se refere ao avô de Shivani.
— Ele concordou em falar com você. Vai dar certo, cara. Só tenta não estragar tudo — ele pede sem jeito, como se agora eu fosse um cara frágil e pudesse desabar a qualquer momento.
Incomodado, entro no escritório e fecho a porta atrás de mim. Se Fernando já é um homem intimidante, vê-lo atrás de sua mesa, com seu terno e sua pose de matador, potencializa ainda mais sua postura de mafioso.
— Sente-se — ele aponta a cadeira à sua frente. — A Shivani partiu há menos de vinte e quatro horas. Espero que não esteja aqui para me pedir o contato dela.
— Não estou.
— Ótimo. — Ele se ajeita na cadeira.
— Parei de usar drogas quando tudo aconteceu. — Minha voz sai tremida, assim como estão minhas mãos. Estou prestes a ter uma puta crise de abstinência, e não tenho Shivani para me ajudar.
— É compreensível, mas sei que já parou outras vezes.
— Duas vezes.
— E o que muda agora? Por que seria definitivo desta vez? — Seus dedos batem na mesa, parecendo ansioso.
— Eu falhei com a Shivani, mas nunca deixei de amar sua neta. Nunca vou deixar. Ela queria que eu me curasse, então vou me curar.— Estou decidido e falo com firmeza.
— Por ela?
— Não. Quero honrar o que nós tivemos, mas já tentei por ela e não consegui me segurar na primeira crise.
Preciso tentar por mim.— Sozinho? — Tenho a impressão de que ele me faz perguntas cuja resposta já sabe, mas quer ouvir de mim.
— Não dá pra ser sozinho.
— E o que pretende?
— O Pepe me disse que você arrumou uma clínica e que ia me internar na marra. — Cada palavra é um peso. Não tem nada pior para mim do que pedir ajuda.
— Sim.
— Será que eu ainda posso ir, sem ser na marra?
— Pelo tempo que for necessário?
— Pelo tempo que for necessário.
O avô disfarça um sorriso, se levanta e dá a volta na mesa, ficando de frente para mim. Então coloca as mãos em meus ombros.
— Tem algo em você, garoto... Não sei o que é, mas você desperta um instinto protetor nas pessoas. Acho que você sabe, tendo em vista o estrago que deixou pelo caminho. Quando soube o que havia acontecido à sua mãe, eu disse à minha neta que a vida bate em você. Bate mesmo, e bate duro, mas tem algo que você precisa saber: a vida nunca bate mais do que podemos aguentar, e você é mais forte do que imagina.
— Eu não sei se vou conseguir sair. Não quero enganar ninguém. Também não quero que a Shivani saiba que eu tô tentando. Ela pode criar expectativas, pode querer voltar, e quero ela longe de tudo isso.
— Concordamos nesse ponto. — Ele me solta e encosta na mesa, sem desviar a atenção de mim.
— E eu quero te pagar de volta. Não vou conseguir pagar tudo de uma vez, mas cada centavo que gastar comigo, vou devolver.
— Ok. — Não tem como não me lembrar dela.
— Você pode cuidar do Krystian também? Sei que tô pedindo muito e que não tenho esse direito, mas não sei a quem mais pedir. O Pepe tá fodido... — Ele franze a testa, me recriminando pelo palavrão. — O Pepe tá ferrado por minha causa — conserto, contrariado. Ele está me ajudando, e o mínimo que posso fazer é medir a porra das palavras.
— Posso resolver tudo.
— Você fala como se fosse simples.
— Não é, mas, quando se trata da família, você aprende a fazer o que é necessário.
— Eu sou da família?
— Uma parte meio torta e que eu não queria muito, mas é. — Ele balança a cabeça. — Mais alguma coisa?
— Sim, eu preciso ser internado hoje. O mais rápido possível. — A voz sai engasgada quando uma crise de dor me domina. Vai começar tudo de novo.
⏭ ▶ ⏮
“Se alguma vez nos separarmos/ Vou manter o laço que nos ata/ E nunca vou deixar que ele se desfaça/ Porque eu te amo”.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Batidas Perdidas do Coração
FanfictionShivani acaba de perder o pai. Com a mãe em depressão, ela se vê obrigada a assumir o controle da casa com o irmão mais novo. Bailey teve o pai assassinado há alguns anos e agora viu quatro pessoas de sua família, incluindo a única irmã, morrerem em...