Where were you when I was burned and broken While the days slipped by from my window watching Where were you when I was hurt and I was helpless.
— Pink Floyd, “Coming Back to Life”Dizem que não existe nada pior do que enterrar alguém que se ama. Pois bem, existe: enterrar quatro pessoas que se ama, sendo uma delas um garotinho de dez anos.
Quando o último caixão foi baixado, já não restava nada de mim para ser destruído. Fui enterrado aos poucos, com cada um deles. Meu primo Krystian estava desolado. Apesar de não dizer uma palavra sobre isso, sei que ele se culpa por estar comigo naquela noite e não no carro que levou seus pais, irmão e prima.
Minha mãe está ainda pior do que quando enterramos meu pai.
— Meu bebê... — ela diz quando a abraço.
Ela também enterrou um irmão, uma cunhada e um sobrinho hoje. Se existe um lugar que odeio mais do que hospitais, é o cemitério
Continuo abraçando minha mãe até que os soluços dela diminuem. Sei o que vem por aí. Conheço dona Vanessa como a palma da minha mão.
— Só tenho você agora, meu filho. Preciso de você vivo.
Não respondo. O que posso responder? “Só tem um problema, mãe: há anos que estou morto”? Não. Se solto uma dessa agora, perco minha mãe também, e ela precisa, mais do que qualquer coisa, acreditar que posso ficar bem.
Quando tudo termina, minha tia vem chamá-la para ir para casa. Desde que meu pai se foi, minha mãe se mudou com minha irmã para o interior. Eu não quis ir. Sei que ela espera que eu vá agora, mas não posso. Não posso encarar uma casa sem eles. Não depois de tudo. Então, quando dou um beijo em seu rosto e a coloco dentro do carro, digo:
— Vou pra lá no fim de semana. Consegui folga no trabalho por uns dias, aí conversamos, certo?
Ela apenas balança a cabeça, e meu coração se parte. Entro no carro e a abraço outra vez.
— Consegue segurar até lá, mãe? Só até o fim de semana.
— Não se preocupe, meu anjo. — Ela toca meu rosto devagar e fecho os olhos. Queria ainda ser seu pequeno anjo. O moleque travesso que pulava muros e depois corria para não ter que passar mercúrio nos joelhos ralados.
— Eu me preocupo, mãe. — Afundo a cabeça em seu ombro, sem segurar o choro. Ela é a única que já me viu chorando assim.
Quero ceder e ir morar com ela. Quero ser o garoto perfeito que ela espera que eu seja, mas sei que estou longe disso, então me despeço, coloco o capacete, subo na moto e me afasto o mais rápido que posso daquele lugar. Se eu tiver que voltar ali outra vez, que seja para não sair mais.
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“Onde você estava quando fui queimado e arrasado/ Enquanto os dias passavam pela minha janela/ Onde você estava quando fui ferido e estava indefeso.”
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As Batidas Perdidas do Coração
FanficShivani acaba de perder o pai. Com a mãe em depressão, ela se vê obrigada a assumir o controle da casa com o irmão mais novo. Bailey teve o pai assassinado há alguns anos e agora viu quatro pessoas de sua família, incluindo a única irmã, morrerem em...