Capítulo 10

585 75 10
                                    

Come as you are, as you were As I want you to be As a friend, as a friend, as an old enemy Take your time, hurry up Choice is yours, don't be late

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Come as you are, as you were As I want you to be As a friend, as a friend, as an old enemy Take your time, hurry up Choice is yours, don't be late.
- Nirvana, "Come as You Are"

A rotina de dar de cara com Lamar Morris Paliwal, ao chegar em casa tem se repetido pelo menos dia sim, dia não. Decido que vou dar apenas mais uns dias para meu primo e depois exigir que ele arrume um emprego. Que mundo é esse em que, com vinte e três anos, de repente virei babá?

Outro dia disse aos moleques que, se quisessem ficar aqui, pelo menos deviam manter o apartamento em ordem. Aí chego e encontro tudo impecavelmente limpo. Elogio e eis o que ouço:

- Posso pedir para a faxineira vir toda semana, se você quiser - Lamar oferece do sofá, enquanto olha fixamente para a televisão.
Esse garoto pensa que dinheiro compra tudo na vida. É uma péssima companhia para krystian.

- Não quero que você gaste seu dinheiro aqui. Quero é que não faça bagunça.

- Vixe, Bailey - Krystian finge uma careta de desespero. - Então nem abre a geladeira.

Abro.

- Que merda é essa?

Nunca vi tanta opção de comida diferente. Não tem um espaço vago, e é provável que algo estrague.

- Ué, se eu como, eu compro comida
- Lamar responde, apertando os botões do controle como se sua vida dependesse disso.

- Não quero seu dinheiro.

- Não lembro de ter perguntado.

- Moleque... - Arranco o fio da televisão da tomada. Ainda mando aqui.

- Ah, cara, eu não tinha salvado ainda... - Lamar resmunga.

- Meu, a gente estava nessa fase há horas - Krystian endossa.

- A questão é exatamente essa. Vocês dois estão desocupados demais.
Acabou a palhaçada.

Olho para os dois, que incrivelmente se calam, como se esperassem por isso, como se quisessem que alguém lhes dissesse o que fazer. Aperto a testa. Não é bem o que eu queria para mim, mas cansei de achar argumentos a cada vez que a vida me ferra.

Sento na mesinha de centro, de frente para os dois perdidos, refletindo sobre o que diria a mim mesmo quatro anos atrás, quando perdi meu pai, larguei tudo e fui morar sozinho. Branco... Não sei o que eu diria. Se soubesse, não seria eu. Então começo pelo básico.

- Por que você passa tanto tempo aqui? - pergunto para Lamar, e ele responde com uma facilidade incrível.

- Minha mãe passa os dias trancada no quarto e eu não sei o que dizer.
Minha irmã fala do meu pai o tempo todo e eu não sei o que dizer. Meus amigos querem saber o que estou sentindo, querem me ajudar de alguma forma. Não sei como lidar com essa situação, então eu venho porque o Krystian não faz perguntas. Ele sabe. Ele não vai me julgar se eu rir. Parece que às vezes, se eu sorrio, é como se eu estivesse matando meu pai outra vez. Mas eu não quero sofrer pra sempre. Não tô a fim de me afundar como a minha mãe nem de falar o tempo inteiro como a minha irmã. Só quero ser normal de novo. - Ele puxa o fôlego quando termina, como se tivesse permitido que uma avalanche saísse.

As Batidas Perdidas do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora