Capítulo 32

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Though I know I’ll never lose affection For people and things that went before I know I’ll often stop and think about them In my life I’ll love you more

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Though I know I’ll never lose affection For people and things that went before I know I’ll often stop and think about them In my life I’ll love you more.
— The Beatles, “In My Life”

Uma hora depois, a mãe de Shivani é transferida para um quarto particular, mas permanece sedada, e vai continuar assim por um tempo, conforme recomendações médicas.

Parte da família vai embora, já que não há nada a fazer e apenas dois podem ficar no quarto. O avô está possesso, mas o padrinho o leva embora, meio que na marra. Sei que uma conversa entre nós dois não vai demorar.

Lamar e Shivani decidiram se revezar para ficar com a mãe, caso ela acorde e precise deles. Vou ficar aqui até a hora de ir trabalhar, depois a prima vai ficar com Shiv no meu lugar. Por mim, eu continuaria aqui, mas já saí ontem e Pepe não pode cobrir a minha toda hora.

Pela primeira vez ficamos sozinhos no quarto. Estou sentado em um sofá e ela ao meu lado, com a cabeça deitada em meu peito, em silêncio. Acaricio seus cabelos e sinto que poderia ficar assim por muito tempo. Fico procurando o momento em que tudo mudou e ela se tornou tão importante, o mesmo momento em que a intimidade simplesmente explodiu entre nós.

Uma enfermeira entra, mexe na medicação e sai, fechando a porta. Shivani se afasta um pouco para poder me olhar, como se lembrasse algo de repente.

— Como eu te salvei? Por que você disse isso quando chegou? — Ela se ajeita no sofá e arruma a saia, a mais comprida que a vi usando, e ainda assim acima do joelho.

O pensamento me causa um sorriso, que passa quando encaro seus olhos. Ela está preocupada, e me arrependo do que disse mais cedo. Não que ela não tenha de fato me salvado.

— Shiv, vamos deixar essa conversa pra depois?

Não vou mentir para ela. Não vou. Ela tem todo o direito de se afastar quando souber a verdade. Prefiro contar tudo, mas não agora, com sua mãe dopada na cama.

— Me conta. — Ela segura minha mão. — Seja o que for, eu preciso saber.

Não sei por onde começar, então recorro à música.

— Você conhece Johnny Cash?

— Não.

— E Justin Timberlake? — pergunto para fazer graça.

— Esse eu conheço. Adorava ele com a Britney — ela responde, achando que é sério.

Dou risada. O que posso fazer? Ela consegue ser adorável até falando de algo fora da minha realidade.

— Era brincadeira.

— Idiota — ela me dá um tapa de leve, mas não está brava.

— Johnny Cash foi um cantor e compositor americano que fez muito sucesso nos anos 60. Antes disso, ele tinha um irmão, que morreu em um acidente. Cash nunca se perdoou por não estar lá, por não ter impedido, e nunca mais foi o mesmo.
Apesar de todo o sucesso, ele se envolveu com álcool... — Falo baixo, olhando para Shivani. Cada palavra é pensada. Sei que ela percebe a relação, porque se senta mais ereta, um pouco incomodada. — E com drogas. Cada vez que ele tentava melhorar, algo acontecia. Sempre perdia quem amava em acidentes que acabavam com ele, e então ele afundava mais e mais. Aí, um dia, ele conheceu June Carter. E se apaixonou.
Não conseguiu resistir, como se fosse impossível não se apaixonar. Era uma ligação forte, sabe? — Eu me mexo no sofá e toco seu rosto. — Acho que ele perdeu aquela batida que seu pai dizia, e o coração dele se encontrou no peito dela. — Shivani dá um sorriso triste. — Ele queria melhorar, mas nunca era forte o bastante e tinha recaídas, muitas. June e seus amigos nunca desistiram dele. Arriscaram tudo pra trazer ele de volta à razão e o libertar de toda dor que ele sentia. Não foi fácil, ele quase morreu várias vezes, mas um dia, depois de muitos anos de luta e sofrimento, June finalmente conseguiu salvar Johnny Cash.

As Batidas Perdidas do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora