capítulo 31

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Beautiful girl May the weight of the world resign You will get better

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Beautiful girl May the weight of the world resign You will get better.
— William Fitzsimmons, “Beautiful Girl”

Se eu achava que encontrar minha mãe inconsciente era o pior, encontrá-la amarrada quase acaba comigo.

Eu me aproximo da cama devagar. Tem medicação injetada em seus braços. As gotas descem devagar, e sinto como se o quarto tivesse um eco de desespero tão grande que me faz ouvir cada uma delas pingando e descendo até encontrar o ponto de contato com o corpo de minha mãe.

Aparelhos fazem bipes cadenciados. Olho para eles e só vejo números que não compreendo, os quais indicam que ela ainda está entre nós.

As gazes dão apoio às amarras que a prendem na cama. Toco o tecido devagar, como se pudesse rasgá-lo. Meu olhar anda a passos lentos, apavorado com o que vai encontrar quando chegar ao rosto.

Ela geme baixinho e não consigo mais evitar. Aperto uma mão na outra ao ver que é possível ficar ainda mais pálida do que ela estava quando a encontrei. Seus olhos estão muito fundos. É como ver meu pai indo embora mais uma vez.

Quando ela nos vê, tenta se mexer e percebe que está presa.

— Me soltem — ela mostra as mãos.
Dou um passo para obedecer.

— Não, Shiv — Lamar me impede.

— Se não me soltarem, quando meus filhos chegarem, eles vão me soltar. — Sua voz é pausada e meio grogue.

— Somos nós, mãe. — Toco seu rosto, sem conter as lágrimas.

— Não, não são. Eles me soltariam.

Ela não nos reconhece. Sinto o chão sumir debaixo dos meus pés. Nossa mãe não sabe quem somos.

— Você vai melhorar, vai ficar bem. Só fica calma — Lamar fala enquanto ela se agita, tentando se soltar.

— Quero sair, quero sair! Meu marido vai me soltar. Ele vai... — ela choraminga enquanto a enfermeira lhe aplica uma injeção. Depois se acalma e para, olhando para o teto.

— É melhor vocês saírem agora — a enfermeira diz gentilmente.

Então saímos. Não sei como consigo andar. Não sei o que pensar. É como se minha mãe tivesse se perdido

Quando passamos pela porta, a enfermeira avisa que as visitas estão suspensas por enquanto, mas que, em algumas horas, minha mãe vai ser transferida para um quarto em uma unidade semi-intensiva e vai poder ter um de nós sempre com ela.

Meu avô toca meu ombro e me abraça. Fico ali por um tempo, depois vou me afastando e paro nos braços de Bailey. Ele não diz nada. Não promete o que não pode cumprir, apenas me envolve e acaricia minhas costas.

Lamar se senta, também desolado. Eu me sinto dividida entre consolar meu irmão e ser consolada. Sabina coloca a mão nas costas dele e o acaricia devagar. Tio Túlio também está ali. Devem ter chegado enquanto estávamos lá dentro.

Meu avô está visivelmente contrariado e balança a cabeça em minha direção, enquanto César fala algo que não posso ouvir e tio Túlio balança as mãos, como se pedisse calma.

Dr. Matheus retorna. Começa a falar com meu avô e me aproximo, assim como Lamar.

— Recomendo que ela seja internada assim que tiver alta do hospital — ouço o final do que ele diz.

— Como assim? — pergunto, confusa.

O médico inspira e expira profundamente e olha bem dentro dos meus olhos, como se isso pudesse ajudá-lo a se conectar comigo. Não funciona. Reconheço todos os sinais após os dez meses em que praticamente morei aqui. Esse olhar indica que ele vai me dizer algo ruim, muito ruim.

— Sua mãe é uma paciente com tendência suicida. Ela vai passar pelo psiquiatra do hospital assim que estiver consciente e pronta para isso, mas o fato é esse. Ela se viciou nos antidepressivos e, na primeira oportunidade, pode atentar contra a própria vida outra vez. Aconselho a contenção. Ela precisa de tratamento contínuo.

— O que você quer dizer?
Internar minha mãe numa clínica, é isso? Prender ela lá? — Minha voz soa estridente, pela lembrança da visita que tivemos há pouco. — Não concordo. Ela não quer isso. Vai ficar pior.

— Minha querida, ouça o médico — meu avô me adverte.

— Posso cuidar dela. Posso ficar com ela vinte e quatro horas por dia, se necessário.

— Eu ajudo — Lamar diz.

— Não aconselho — dr. Matheus balança a cabeça. — Ela precisa de pessoas treinadas. Um segundo de distração pode ser fatal.

— Então não vou me distrair — insisto, irritada.

— As pessoas se distraem, Shiv... — Bailey se intromete, surpreendendo todos nós. Então se aproxima devagar. — Quanto tempo de internação?— pergunta para o médico.

— Ela precisa passar por um especialista, mas creio que em torno de três semanas.

Bailey toca meu rosto e levanta meu queixo, sem se importar com ninguém à nossa volta.

— Três semanas, Shiv. Três semanas e sua mãe volta pra você. Três semanas e ela finalmente vai começar a viver depois da morte do seu pai. — Ele me acaricia com ternura. Sinto que posso chorar de novo a qualquer momento. — Ela não vai conseguir sozinha. Ouça o médico.

Pisco para segurar as lágrimas e olho para Lamar, numa comunicação muda para saber o que ele pensa. Meu irmão assente para mim. Não é o tipo de decisão que gostaríamos de tomar.

— Tudo bem... — digo, sem muita convicção. Tudo o que quero é que ela volte a ser como antes.

Levanto a cabeça para o meu avô e o vejo lançar um olhar de admiração para Bailey, logo substituído por outro olhar, claramente preconceituoso.

— Seu namorado sabe o que diz. — Dr. Matheus aprova a conclusão a que chegamos e não sei o que dizer. Não quero dizer que Bailey e eu não namoramos, mas também não quero passar a impressão errada.

Meu avô se esforça para não ter uma síncope. Bailey me abraça outra vez, e a frase do médico fica para trás. Isso não importa agora.

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“Garota bonita/ Que o peso do mundo ceda/ Você vai ficar bem.”

As Batidas Perdidas do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora