Capítulo 15

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This is a way that I’m learning to breathe I’m learning to crawl I’m finding that you and you alone can break my fall

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This is a way that I’m learning to breathe I’m learning to crawl I’m finding that you and you alone can break my fall.
Switchfoot, “Learning to Breathe

Quando cruzo o portão, corro para a casa e, assim que fecho a porta da sala, me encosto nela, sem ar. O que estou fazendo? Eu devia estar só preocupada com o meu irmão, não com o coração disparado por alguém de quem sei tão pouco. Nem conversar direito nós conversamos. Meu Deus!

Nem sei como cheguei até o quarto. Tiro o tênis e sento de pernas cruzadas na cama, olhando para a cortina branca, como se uma resposta pudesse sair dali.

Penso em César e no que estou sentindo. Preciso conversar com ele. Acertar as coisas ou ir cada um para o seu lado. Meu pai odiaria isso, mas ele não está mais aqui.

Eu me deito na cama, e o cheiro da jaqueta de Bailey me faz perceber que ainda a estou vestindo. Abraço meu corpo, e, ao virar o rosto, a gola cai sobre meu queixo. Couro e perfume se misturam. Ainda me surpreendo ao lembrar como Bailey é perfumado. Um cheiro que ainda está comigo e, por mais que eu queira, não consigo tirar a jaqueta. Talvez isso mostre que eu não quero coisa nenhuma.

Levanto rapidamente e apago a luz. Não sei se vou conseguir dormir até meu irmão chegar, mas quero ficar no escuro. Deito de novo, pensando que deveria colocar o pijama de uma vez, quando o telefone toca.

Estranho, porque não é o som do meu aparelho. Começo a procurar até perceber que o toque vem da jaqueta. Tem um celular em um dos bolsos. Fico sem saber se atendo ou não. E se for o primo de Bailey? E se ele estiver com problemas? E se o meu irmão estiver com problemas?

— Alô — atendo em voz baixa.

— Oi, morena. Parece que alguém ficou com o meu celular — Bailey responde tão baixo quanto eu, como se soubesse que estamos brincando com fogo.

— Nossa... Eu devia ter te devolvido a jaqueta — digo, mas um frio na barriga me diz que fiz bem em ficar com ela.

— É quase dia já. Quando dormir, vou capotar. Vou acordar perto da hora de trabalhar, então só vou ter tempo de pegar depois de amanhã. Pode ser?

— Pode. Ou então, quando o meu irmão aparecer, posso pedir para ele te levar. — Eu me arrependo da sugestão assim que a faço. A jaqueta e o celular são minha única certeza de contato.

Não — ele diz, e ouço sua respiração profunda. — Prefiro buscar.

— Ok. Depois de amanhã, então.

Depois de amanhã.

Silêncio. Estou deitada na cama, olhando para o teto, pensando se ele está deitado ou sentado e em como sou tonta por me importar.

Vai conseguir dormir? — ele pergunta.

— Antes do meu irmão chegar? Duvido.

Você sabe que não precisa se preocupar tanto com ele, não é?

— Saber eu sei...

— Mas não consegue evitar.

— É... — Aperto a colcha sob mim.

Mais silêncio. Acho que ele está se preparando para se despedir, mas diz:

Quando o meu pai morreu, quatro anos atrás, as pessoas achavam que eu ia saber lidar bem com a situação, porque eu sempre fui um cara divertido e pra cima, mas eu sumi por uns tempos. Deixei minha mãe e minha irmã, e não foi porque eu não amava ou não me importava com elas. Eu só precisava de espaço, precisava entender o que estava acontecendo e precisava tentar diminuir a dor.

— E você conseguiu diminuir a dor? — Quando percebo, estou abraçando a jaqueta, como se isso pudesse lhe transmitir algum conforto.

Sei que ele não esperava essa pergunta. Provavelmente quis que eu entendesse os sumiços do Lamar, mas a tristeza de suas palavras me tocou.

Não.

Quero dizer que sinto muito, que gostaria de poder ajudá-lo, mas isso não seria possível. Então, como ele se abriu, me abro também:

— Quando o meu pai morreu, eu quis fugir. — Encaro os adesivos de estrelas no teto, que ainda conservam um pouco do brilho pelo tempo que as luzes ficaram acesas. — Mas prometi a ele que viveria como ele me ensinou, buscando sempre a felicidade. — Suspiro. — Acho que estou mentindo pro meu pai. Não consigo ser o que ele esperava de mim.

Estou longe de ser o que o meu pai esperava. Não dá para viver de acordo com as expectativas dos nossos pais, somos pessoas diferentes. A verdade que ninguém diz é que a gente muda com a morte, porque é o único jeito de sobreviver a ela.

— E se eu não quiser mudar? E se estiver com medo?

As estrelas vão se apagando e me sinto assim também, ao me lembrar de quando as colei com meu pai, aos sete anos. Sei que nunca terei coragem de tirá-las dali.

Se você está com medo, é porque já está mudando. Mudar assusta. Você sabe que não é mais a garota que corria sempre para junto do seu pai. Você sabe que não pode ser essa garota, mesmo que queira.
Então se tornar outra pessoa às vezes é melhor que querer algo que nunca mais vai acontecer.

Estou chorando. Ninguém nunca falou tão abertamente sobre a morte comigo, nem mesmo a terapeuta. Acho que ele pode me ouvir, porque solucei. Não consigo segurar.
Ele está quieto, apenas ouvindo.

Durante muito tempo, chorar é tudo o que faço, enquanto Bailey está do outro lado da linha. Sem me julgar, sem dizer palavras que não podem curar ou mentir sobre um futuro sem dor. Ele fica ali, em silêncio, e mesmo assim sinto que não existe ninguém que me compreenda como ele. E, ao som de sua respiração, aos pouquinhos vou recuperando o controle.

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“Este é o jeito que eu estou aprendendo a respirar/ Aprendendo a engatinhar/ Estou descobrindo que você e só você pode interromper minha queda.”

As Batidas Perdidas do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora