Capítulo 34

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    Eram quase dez da manhã. Estava sentada a mesa da cozinha com uma xícara de café em minha frente e o que era para ser um sanduíche. Mas eu estava sem apetite. Minha Ansiedade e inquietação me fez comer besteira quase a noite toda. Dormi por poucas horas e não consegui mais pegar no sono depois disso. Agora me sentia levemente indisposta, cansada e com muita cafeína bombando nas minhas veias.

   Pensar em quem me deixou assim me causava dois tipos de sentimentos. Ódio e mais raiva.

  Ele não tinha o direito de fazer aquilo comigo. Aquele cavalo não podia  simplesmente sair daquele jeito e me deixar sozinha completamente confusa. Mesmo que no fundo eu soubesse que me sentiria completamente sem saber o que fazer se ele continuasse  em minha frente, preferia que ele tivesse ficado.  Mas não. Ele não fez. Me beijou, e depois parecendo uma criança assustada, saiu andando deixando seu carro para trás. Eu até pensei em ir atrás dele, mas eu estava com vergonha o suficiente para querer simplesmente me trancar no quarto.

     E como deveria me sentir? Ele me olhou como se tivesse feito a pior coisa da sua vida. Eu sequer tinha o que dizer para me consolar diante desse fato. O arrependimento em seus olhos era visível. Ele soltou meu rosto como se tivesse acabado de tocar em algo ruim, sujo. Eu realmente senti o desgosto de Harry, e isso atingiu bem no fundo em meu peito. Me arrependo amargamente por ter lhe dado aquele beijo no rosto. De ter pedido para ele ficar. Me arrependo de não ter lhe dado um chute nos países baixos como meu cérebro havia pedido.

Ele que me beijou. Ele. Por que fez se agiria daquela forma?

Não podia deixar com que aquele acontecido me fizesse pensar coisas ruins sobre mim mesma, já que eu sabia que iria buscar coisas ruins em mim, que justificasse o porquê de Harry agir daquela forma. Sabia que iria me diminuir e me culpar, sobre algo em que o único culpado era aquele cavalo.  Mas do que adianta eu saber de tudo isso, e minha consciência me ignorar? Eu me sentia péssima. Nas duas noites que passaram, as possibilidades estavam a mil.  Pensei que poderia estar com bafo, talvez fedida, provavelmente parecendo um camarão e até coisas piores. Mas o ridículo era ele.

  Harry ontem quando veio buscar seu carro, sequer me olhou. Eu estava ajudando Marina a organizar  a casa. Enquanto eu estendia algumas roupas, ele surgiu parecendo procurar pela morena. Ele ficou em minha frente, e eu até me preparei para lhe cumprimentar, com um sorriso largo e buscando agir normalmente. Mas assim que me notou desviou os olhos e sequer me disse uma palavra. Deu as costas e saiu com seu carro. Me ignorou completamente. E foi assim nas duas vezes em que esteve em casa, sequer me olhou.

  Eu estava bem. Paciente demais. Mas agora eu estava brava. Chateada. Com ódio. Mesmo sabendo que isso não vai durar muito, era só me lembrar de como ele me deixou e já alimentava minha raiva.

— Merda.

   O barulho de coisas caindo e a voz masculina chamou minha atenção. Estava acordada demais para estar ouvindo vozes e logo pulei da cadeira ao reconhecer. Ou do contrário eu podia me considerar desde já, louca. Deixei a cozinha seguindo para a área de serviço. O barulho vinha do armário cheio de trecos e a bagunça apenas continuou.

   Quando confirmei quem era abri um breve sorriso confuso, observando o que o mesmo fazia.

— Miguel?- chamei.

  Ele levou um susto. Se virou com rapidez e isso só resultou em mais bagunça. As vassouras em sua mão caíram e a pilha de baldes também. Ali ficava as ferramentas de jardinagem, e pelo visto algo estava faltando na floricultura.

— O que faz aqui?

— Willou!- ele parecia surpreso - Pensei que estaria trabalhando. Marina me disse que hoje você estaria entregando panfletos. Se soubesse iria te chamar, não entraria dessa forma em sua casa. Desculpa.

As cores em você |H.S| 🦋Onde histórias criam vida. Descubra agora