Capítulo 64

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Gatilho











  

  O local da lanchonete não parecia de forma alguma o mesmo de ontem. Antes de realmente entrar no lugar, Harry olhou para porta umas duas ou três vezes, lendo e relendo a placa que indicava o "recanto dos expositores". Ele estava surpreso e não era para menos. Gostaria de poder tirar uma foto da feição de Harry, um misto de desagrado, chateação e choque.  Foi engraçado. Mas não o julgava. Eu ainda não podia acreditar que aquele lugar calmo e silencioso de ontem, estava simplesmente cheio de pessoas conversando e rindo. Crianças correndo e gritando  na área de recreação feito loucos. Eram muitas vozes ao mesmo tempo, era muita animação,  e aquilo foi algo no qual eu rapidamente pude me acostumar. Mas eu não  podia dizer o mesmo a Harry.

   Ele não queria ficar ali. Acho que aquilo podia ser demais para um homem que parece ter uma preferência absurda por silêncio e calma. Ele já comentou na feira o quão pessoas demais lhe deixava sufocado, e que era por esse motivo que quanto mais pessoas atendendo, mais rápido a multidão diminui. Mas não achava que poderia existir outro lugar mais confortável e com menos pessoa na feira, do que aqui. Eu tive que insistir e correr para uma mesa em busca de um lugar para nós dois, não lhe dando muita escolha.

   Esse claramente não era o plano que Harry tinha para nós.  A sala de descanso provavelmente estava cheia, o horário em que chegamos era o de almoço e não eramos os únicos querendo um colchonete pra tirar um cochilo. Ele não parecia muito confortável e eu sabia disso. Mas eu já estava contente só de estar ali e com ele.

—  O que vamos pedir?—  chamei sua atenção,  mostrando o cardápio. 

  Harry desvia os olhos do salão a nossa volta. Ele estava com seu rosto fechado mostrando mal humor, e isso era o que eu já esperava.

—  E você  acha que vamos ser atendidos?—  ergue a sobrancelha, soltando o ar impaciente.

 
   Era óbvio que ele estaria irritado, a garçonete pareceu fingir não nos ver erguer as mãos. E quando nos olhou, ignorou completamente indo para o outro lado do salão. Não julgava a Harry, errado ele não estava.

    Mas não queria focar na nossa ideia frustrada de ter um almoço tranquilo e calmo, e sim no fato de que  estavamos juntos, e de alguma forma sozinhos. Milagrosamente de bem um com o outro. Eu só queria aproveitar a companhia dele, já que eu não negava gostar bastante. Queria que Harry sentisse mesmo.

    Sorri levando meus olhos até os dele, mordendo levemente o canto de meus lábios. Com cuidado escorregando pelo banco, pude ficar mais perto do homem, abrindo o cardápio para nós dois escolhermos juntos. Tirar sua atenção de toda aquela bagunça era minha intenção, e pareceu dar certo.  Harry apenas se ajeitou de forma que eu pudesse ficar mais confortável, colocando seu braço sobre as costas do banco. Ainda de mal humor.

—  Vamos, Harry, o que você quer? Olha quantas opções. 

  Ele solta o ar,  passando os olhos pelo cardápio sem muito animo, mas logo aperta os olhos quando um grito infantil tomou conta do lugar. Ele pareceu estressado, buscando paciência.  Reprimi minha vontade de lhe dar um peteleco na cabeça,  virando  meu corpo para ele, deixando de lado o cardápio e cruzando levemente os braços.

—   Você vai ficar assim, com essa cara?—  ergo a sobrancelha fazendo um breve drama.

   O homem a minha frente afastou seus olhos, dando uma volta por todo o lugar, bufando assim que voltou para mim.

—  Eu sei que você quer ficar aqui. Mas todas essas pessoas...todas essas crianças.  Realmente não me sinto confortável. 

  Mesmo que uma parte de mim achava que Harry era simplesmente mimado demais, e que aquilo tudo era apenas o mesmo bravo pelas coisas não serem como ele quer... eu realmente pude enxergar incômodo em seus olhos. Eles estavam a todo momento fugindo da área cheia de crianças e a cada grito que podíamos ouvir, sua careta era evidente. 

As cores em você |H.S| 🦋Onde histórias criam vida. Descubra agora