Capítulo 9

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— Precisamos de mais, a um enorme  pedido no Delivery e as rodelas de cebola acabaram - o indiano de péssimo humor coloca ao meu lado mais um saco de cebolas - Pode por favor fazer uma pausa e Almoçar mais tarde?

— Dessa forma a menina vai acabar jantando. - Adeline, uma das cozinheira olhou para meu chefe, usando seu tom nada contente.

  Hoje todos estavam com os sentimentos a flor da pele. Não pensei que os dias de promoção eram assim tão agitados, e lidar com isso pareceu ser um pouco difícil para mim. Mas tudo o que eu não queria era confusão, ou climas desagradáveis. Essa manhã não houve gargalhadas na cozinha, nem sequer uma conversa referente a outros assuntos que não fosse molho shoyu e salpicão. Ouvir a discussão de meu chefe com uma das cozinheiras tornou o dia completamente chato e desconfortável. E eu não queria que isso acontecesse mais uma vez e por minha causa.  Estava com medo de ser repreendida.

— Tome conta do caldo da sopa, não quero uma carne dura! - o senhor Ragi aponta para a panela de forma zangada, o que deixou a mulher claramente mais irritada. Ele logo olha para mim, claramente questionando se eu tinha problema em deixar de lanchar, mas neguei.

  Engulindo o pequeno pedaço de sanduíche que  havia começado a comer, afastei o alimento colocando no potinho, sorrindo de forma gentil para o homem, apenas confirmando ao agarrar o saco de cebola. Ele se vira e eu logo agarrei minhas luvas, segurando minha vontade de simplesmente cair para trás. Tinha que me preparar para    chorar mais um pouco, massagear meus olhos e fazer uma breve oração, porém meu chefe voltou a ficar em minha frente. Travei. Não podia fazer meu drama com ele ali.

— Me desculpa Willou - seus olhos seguem para minhas mãos - Mas a quanto tempo está usando as luvas?

   Olhei para minhas mãos confusa e voltei a encarar o homem.

— Comecei hoje. - sorri largamente ao me lembrar que quem havia me dado — Protege minhas mãos da faca e meus dedos não ficam com um cheiro desagradável.

   O senhor Ragi se abaixa ficando a minha frente, segurando uma das cebolas. A forma séria na qual ele me olhava me fez desmanchar vagarosamente meu sorriso.

— Você já viu algumas das meninas usando algum tipo de luva?

  
  Neguei com a cabeça.

— Sabe por que?

Neguei mais uma vez.

— Luvas tem uma maior concentração de bactérias, é por isso que não usamos. - joga a cebola no saco mais uma vez - Preciso que você tire a luva. Todo ato precisa de prática para ser bem feito. Continue cortando as cebolas que uma hora você sequer irá precisar de luvas,  curativo nos dedos e muito menos fazer uma pausa de dez minutos por causa dos olhos ardendo.

     Olhei para minha mão sem graça, apenas confirmando com a cabeça. Mesmo falando pausadamente, o seu tom de voz claramente sem paciência. Tudo que eu não queria era escutar seus gritos irritados como hoje de manhã, foi apenas isso que consegui pensar. Sabia que provavelmente o dia estava sendo exaustivo, todos estavam estressados, conseguia compreender. Buscava não levar seu jeito grosseiro de hoje para o coração, tentando repetir para mim mesma que nem todos os empregos são um mar de rosas.

    Meu chefe se levantou e seguiu porta a fora da cozinha, me fazendo suspirar.

— Você está sem comer desde manhã e logo o dia vai acabar, não seja boba Willou! - uma das mulheres balança a cabeça me olhando - Você precisa impor seu horário de descanso ou ele vai abusar de você. Conselho de alguém que já passou por isso!

As cores em você |H.S| 🦋Onde histórias criam vida. Descubra agora