Capítulo 14

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 Harry






         Ignorei mais uma chamada de Matteo antes mesmo que o toque do celular invadisse o quarto. Meu amigo insistente  queria falar sobre problemas, e nesse momento queria estar longe deles, ainda mais quando esse problema levava o nome de Hugo, meu ex sócio.


 Minha cabeça estava doendo quase insuportavelmente, o sol brilhou forte esta tarde e não estava nem um pouco preparado com meus óculos.  Tive que sair para um almoço com bons clientes, eles resolveram comer  ao ar livre e não consegui contestar. Estava frio, jantar ao sol era algo que os dois acharam interessante. Negar aquilo seria uma boa opção, estava estressado demais e lidar com um casal meloso falando de mil assuntos menos o que realmente me importava, ultrapassava o nível diário de minha boa educação e paciência. No entanto, não estava lidando com minha empresa, minha loja. Tive que usar o bom ânimo.

   Tudo o que eu gosto é de objetividade, não sou a melhor pessoa para conversar, dessa forma, ser direto,  para muitos é levado como grosseria. Não podia fazer nada, e para ser sincero eu realmente não me importo. As pessoas  podem interpretam o que quiserem do que digo, no fim das contas é isso que elas fazem. Não importa o que diga ou  o que faça, as pessoas te veem apenas da forma em que elas querem. E eu já havia me acostumado assim. Dizer apenas o necessário, o que realmente é preciso e o que eu penso. Já tentei  ser aberto a assuntos, mas dizer certa coisas me fez notar o quão havia desaprendido. Manter distância das pessoas era algo que eu realmente havia me afeiçoado.


  E eu nunca pensei que isso seria um problema, até Rebecca aparecer. 


 Chegar em casa cansado, com dor, estressado e com a moça sorridente me esperando, era tudo o que eu não precisava e muito menos ela.  Olhar para seus olhos diminui a dor em minha cabeça, mas ainda estava desacostumado. Passei o dia todo com dor, e lidar com ela irradiando as cores que a anos não as via, me deixava ainda pior. Todos os tons nela, ainda sendo explorados por mim, me traziam uma sensação de excitação e melancolia. No mesmo instante em que podia enxergar um pouco de esperança, me lembrar do que me deixou assim, me fazia querer continuar como eu estava. As cores significavam vida e eu sentia que desde aquele dia, já não existia isso em mim.

     Era complicado me comunicar com Rebecca.  Ela era  diferente e eu sequer sabia dizer se era  por estranhamente a garota, ser colorida ao meus olhos. Era abusada e irritantemente teimosa. Me sinto em um campo minado quando a vejo, nunca sei se vou ser recebido, com um vaso na cabeça ou vomito nos pés. Ela tinha alguns problemas com sua cordeação motora e claramente tinha deficit de atenção. Parecia que trajava uma roupa neon, chamando a atenção dos problemas.  

   Conversar com ela era difícil. Dizer o que penso parece não ser algo em que as pessoas gostavam e em especial, Rebecca. Ela se irritava fácil e eu mais ainda. Ser paciente com ela era algo no qual eu tentava ao máximo, mas como havia dito, o silencio era o melhor que eu podia oferecer, mesmo que  ela parece despertar a minha vontade de simplesmente falar.

—  Harry.

 Coincidentemente, pensar nela a fez aparecer.  As três batidas na porta   junto a voz calma de Rebecca romperam o silencio do quarto, me fazendo respirar fundo.   Estava sentado a cama ainda sem camisa com a toalha nas costas, talvez havia demorado demais em meu banho. 

As cores em você |H.S| 🦋Onde histórias criam vida. Descubra agora