Capítulo 6

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   — Dias ruins existem para todos. Dias ruins existem para todos. Dias ruins existem para todos.

   Era essa a frase que eu repetia para mim mesma a cada passo que eu dava. Estava buscando manter minha calma, tranquilidade e bom humor de sempre, pois do contrário iria surtar mais uma vez. E surtar mais de uma vez em um dia não é saudável, já dizia minha mãe, rainha dos surtos. Sendo assim, repetir essa frase era uma tentativa de fazer com que meu eu acreditasse, mesmo que na verdade eu duvidasse que era impossível existir alguém assim tão azarada quanto eu, que as coisas logo iria ficar bem. Assim como para todos. PRECISAVAM FICAR BEM!!!

    Mas falando sério, COMO PODE?

Não acredito que em um dia tão importante, que usaria acima de tudo para conseguir um emprego, sai justamente de chinelo e tomei um banho de suco. Só podia ser karma e aqueles pesados. Mas me pergunto o que de tão ruim eu fiz para merecer isso? Procurei por todas as minhas lembranças e nada, pelo menos não antes de vir para cá. Seria o fato de jogar água em Harry e sair correndo? Pois para ser sincera, depois daquilo, tudo pareceu desandar. Sempre fui desastrada, mas parece que as coisas só ficaram piores e Harry era o maior alvo. Aquele cavalo!

   Estava agora andando de volta para casa, seguindo o caminho em que me lembrava de ver o ônibus fazendo. Eu sequer sabia como voltar, e se não fosse por aquele motorista sem vergonha, não estaria passando por isso. A uma hora atrás, estava andando em direção ao ponto e vi o ônibus, o meu ônibus. Estava a vinte passos para chegar nele, e assim que o motorista me viu, sorriu perverso. Mesmo correndo, o ônibus passou por mim, com aquele senhor me lançando um olhar vitorioso e isso foi o auge da maldade. Lhe xinguei metade do caminho, mas logo minha raiva passou. Era sempre assim.

Eu só queria me sentar. - choramingando batia em minhas pernas, já que elas doíam demais.

  Gastei dinheiro com uma nova calça, uma nova camisa e um sapato. Não podia deixar meu dia ser tão ruim então entreguei milhares de currículos. Andei demais, mas dinheiro para táxi era um gasto que infelizmente não podia fazer.

   Assim que andei uns passos, avistei um restaurante. Meu sorriso foi largo, precisava de água.  Assim que entrei no estabelecimento podia ver que estava bem cheio. Agarrei uma água e fui para o caixa, esperando alguém para me atender. Dentre tantos papéis colados no vidro, um deles me chamou a atenção. O papel escrito, precisasse de funcionário fez meus olhos brilharem.

— Sim moça, pois não?

  O homem com uma marca vermelha sobre a testa, e chapéu um pouco chamativo, chamou minha atenção. Era um restaurante de comida típica.

— Eu posso perguntar se, vocês ainda precisam de um funcionário? - sorri largamente.

  Ele me analisou bem, de forma desconfiada. Não sabia para o que era o trabalho, mas não estava em condições de negar nada. Um trabalho de meio período era mais do que suficiente para que eu juntasse dinheiro, e que nesse meio tempo encontrasse outro melhor. Precisava dele para ficar melhor, o suficiente para que eu pudesse me sustentar. Mas acima de tudo, um trabalho que eu posso esfregar na cara de Harry que eu estava bem e que não era um problema.


•••


Foram trinta minutos escutando o homem falar. Ele tinha um sotaque estranho e se chamava Rage. Era indiano e sua família vivia ali a cerca de trinta anos. Mesmo não querendo muito ouvir sua autobiografia, escutei atentamente cada palavra. O momento mais esperado por mim, era para saber o que iria fazer e se realmente estava contratada. Quando ele disse que ganharia um bom dinheiro por dia, meus olhos brilharam, mas quando ele explicou minha função eu não podia estar mais contente. Longe de pratos, copos e pessoas. Eu iria apenas descascar cebolas, e podia até levar o meu trabalho para casa. Mais feliz impossível

As cores em você |H.S| 🦋Onde histórias criam vida. Descubra agora