Capítulo 19

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       Meus dedos estavam doloridos, meus olhos cansados e ardendo a cada dois minutos. Jurava que havia me acostumado e que, a dor nos dedos e os olhos lacrimejando não iriam mais acontecer. Mas pelo visto eu estava completamente errada. Estava completamente quebrada. Ficar com os curativos nos dedos, mesmo bem higienizados, estava se tornando nojento em meio a tantas cebolas que cortava. Mesmo conversando com meu chefe, e tentando argumentar sobre o uso de minhas luvas, ele simplesmente se negou a me ouvir e deixou claro que seu posicionamento iria ser contra. No fim das contas, mesmo realmente chateada, resolvi me manter quieta. Havia ficado dois dias  ausente, ele perdoou minhas faltas e de forma bondosa sequer descontou de meu salario. Não podia reclamar.

     E hoje em especial era um dos dias em que ele estava de péssimo humor. A correria começou logo de manha quando esqueceram de entregar as batatas junto as cebolas. Tive que correr no supermercado junto a ele, onde na hora de pagar as compras, o cartão dele sequer passou. Ele achou que a culpa fosse da atendente, gritou com ela e fomos expulsos. Se eu pudesse expressar minha vergonha, provavelmente estaria morta. Voltei lá na hora de meu almoço pra me desculpar com a moça. Ela sempre era tão gentil comigo quando ia comprar coisas básicas que faltavam, que ouvir meu chefe gritar com ela e não ter feito nada, me deixou péssima. As coisas apenas ficaram piores quando o carro do homem quebrou, daquele momento em diante, sorrir perto de meu chefe era considerado um insulto pelo mesmo.

 As coisas parecem ter mudado e começava a repensar se o indiano estressado era tão quanto eu afirmava para Anne.

  Ouvir ele gritar se tornou apavorante. Estava tão exausta, completamente destruída. Duas semanas sem folga, levando trabalho para casa e dormindo pouco. Hoje foi o ápice, estava esgotada. Havia acabado de terminar meu trabalho, estava saindo do restaurante de fininho, não queria levar trabalho para casa. Preciso ficar longe de cebolas por uma noite apenas. 

   O caixa estava vazio, livre para sair.

 Pisar para fora daquele restaurante pareceu ser libertador. Correr para longe daquele lugar foi o que eu fiz, antes de meu chefe pudesse me ver. Resolvi que hoje iria trocar de rota e ir pelo caminho mais próximo. Era meio escuro e eu confesso ter um pouco de receio, mas assim não corria o risco de meu chefe me alcançar e me entregar um saco cebola, assim como fez na semana passada quando tentei fugir. Eu sabia que levar as coisas para casa, iria aliviar meu trabalho de amanhã, mas eu precisava dormir por uma noite inteira, ou do contrário não iria conseguir dar conta até minha folga de terça e hoje ainda era quinta. Jurava para mim mesma que jamais iria faltar novamente. Não sabendo que teria que repor em minhas folgas ou do contrário seria descontado.

— Willou. 

   Me virei assim que ouvi meu nome. Estava tão apavorada que quase me joguei para trás na possibilidade de ser meu chefe. Mas a voz de Miguel era única e a forma na qual ele praticamente cantava meu nome, era o que me fazia reconhecer a quilômetros. Nessas duas semanas, nas sextas Miguel disse que iria me acompanhar até em casa, já que era o dia em que ele dormia na casa de sua mãe. No entanto hoje ainda era quinta e eu realmente não esperava. De qualquer forma eu gostava.

  Assim que ele se aproximou, sorri ficando ao seu lado. Iria continuar a caminhada, mas ele segura meu ombro me impedindo.

— O que foi?

— Por que está indo por aqui?- ele pergunta mostrando seu incomodo.

  Olhei para rua praticamente deserta tentando achar um bom argumento que não parecesse ridículo como dizer,  " Estou fugindo de meu chefe que quer me ver trabalhando em casa também". Me sentiria mais patética do que já era. Pelo que contava a Miguel, ele provavelmente pensava que meu trabalho era incrível, e eu não queria desfazer esse pensamento. Já bastava ter que receber os olhares de reprovação de Harry, os de Miguel seria demais.

As cores em você |H.S| 🦋Onde histórias criam vida. Descubra agora