As cores em você |H.S| 🦋

Capítulo 30

 
     Mesmo com o silêncio que ficou no caminho em direção ao restaurante, sentia no fundo que não havia nada de estranho entre Harry e eu. Provavelmente pelo fato do mesmo resolver fazer graça em relação ao terrível acontecimento com o tal de Kaio e me provocar, dizendo que tenho um gosto particularmente inapropriado por homens comprometidos. Deveria ficar brava, pelo menos tentei demonstrar, mas era capaz de rir de minhas próprias idiotices e eu estava fazendo isso por dentro. Mesmo me sentindo levemente culpada.

   No entanto, toda essa confusão  sumiu de minha cabeça quando notei que estávamos perto o suficiente do restaurante. Que em poucos minutos, iria enfrentar meu chefe. Não sabia o motivo de me sentir tão nervosa, se parecia algo simples a ser feito.

     Deveria me demitir, lhe dizer o quão foi errado me deixar presa naquele restaurante e como o homem estava sendo insuportável como chefe. Havia treinado na frente do espelho. Imaginei a discussão ontem enquanto tomava banho e eu me imaginava gloriosa saindo do restaurante. Mas agora me sentia uma completa idiota. Com medo de  talvez ouvir os gritos do homem e lidar com seus surtos. Não trouxe uma toalhinha para me secar , já que quando ele falava, gostava de fazer isso cuspindo.

    Harry havia parado o carro a alguns minutos e tinha sua atenção na entrada do lugar. Estávamos a alguns passos do local.  Já eu, me mantive quieta. Sabendo que era necessário acabar com isso logo, ou morreria de ansiedade.

— Você quer entrar comigo? - chamei a atenção de Harry assim que afastei o cinto de segurança.

  Ele me olha parecendo acordar de um devaneio, e apenas nega.

— Acho que melhor não. - explica, mas logo molha os lábios, virando levemente seu corpo -  A menos é claro, que você queira que eu vá.

   Queria muito dizer sim, mas me sentia estúpida. Harry estava me ajudando mais do que em milhões de sonhos, pensei que ele faria. Sentia que estava abusando de sua boa vontade, e isso era tudo que eu não queria. Pensando bem, deveria o agradecer mais do que com uma simples sopa, mas era o que eu podia lhe oferecer. Dessa forma, deixar o mesmo em paz, era o mínimo para que não me sentisse culpada por não retribuir da melhor forma.

— Está tudo bem, eu posso ir sozinha. Não vou demorar.

  Sorri para ele acenando com as mãos, tentando passar um pouco de confiança e eu me julgava estar me saindo bem. Assim que sai do carro, não enrolei nos passos, segui direto para restaurante ou do contrário, eu sabia muito bem que não iria conseguir fazer o que queria. Precisava ser direta e reta. E eu sentia a coragem vir aos poucos.

   Antes de subir o degrau para dentro do enorme salão, pude observar o  movimento em que estava. O Sr. Ragi estava com uma bandeja nas mãos andando em passos rápidos enquanto outras meninas corriam de um lado para o outro. Aquilo estava um inferno, movimento típico em que enfrentamos todos os dias. Não pensei que seria assim, já que faltava algum tempo para a hora do almoço. Podia ver no enorme quadro, as famosas rodelas de cebolas riscado. E eu sabia que tudo isso, todo esse movimento e o fato de eu não ter comparecido está manhã, deixaria o homem ainda mais furioso.

   No momento em que finalmente entrei na loja, o homem pareceu sentir minha presença. Me olhou rapidamente e seu sorriso se desfez de imediato. Meu coração acelerou. Ele deixou a bandeja com uma das meninas e seguiu para trás do balcão  em passos largos. 

— Oi Sr. Rag...

— Me espere na dispensa. - sua voz saiu baixa, mas a forma em que suas veias saltaram podia ver que ele estava reprimindo a raiva - A g o r a!