Capítulo 36

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Tarde da Segunda-feira

Uma semana havia se passado, mas Willian acreditava que não importasse quanto tempo passasse, o peso e a culpa pelo que fez jamais diminuiria. Talvez ele realmente merecesse aquilo. E, o pior de tudo, é que depois de todo esse tempo ele ainda não tinha encontrado com sua família.

Agora, enquanto estava deitado na cama, que provavelmente costumava ser de Gustavo quando este ainda morava com o pai no sul do Brasil, ele encarava o teto e lembrava da segunda-feira passada. Lembrava do que fizera e do que deixara. De como havia mentido para todos sobre uma terrível dor de cabeça e ficara sozinho na casa para então colocar em prática o que vinha repassando na mente por algumas semanas. Não que fosse difícil, mas havia bastante coisa em jogo para deixar algo para trás.

Ele saíra do quarto de Jhon assim que ouvira a porta da cozinha bater e o silêncio dominar por mais de um minuto. Tendo absoluta certeza de que ninguém mais estava na casa, Will pegara os quatro pequenos aparelhinhos que haviam sido deixados para ele. Obedecendo as ordens de Diego de colocar as escutas nos quartos dos irmãos e na sala e cozinha, além de se certificar que pegassem sol –pois recarregavam com energia solar para poder durar mais tempo. Assim que essa parte estava concluída, o menino montara sua mala –pequena, para poder ser transportada em uma moto até o aeroporto- e então fora atrás do baú que descansava no quarto de Mirabela.

Ele notara que, caso fechasse o baú, não seria possível abri-lo novamente, pois estavam sem a chave, então decidira que era melhor pegar os cadernos e colocar em sua mala. Assim que havia pego tudo, escrevera uma pequena cartinha para a família e deixara a chave em uma das plantas de Eliza. Gideon já o estava esperando do outro lado da rua. Willian atravessara um pouco apreensivo e, sem trocarem mais de duas palavras, os dois foram para o aeroporto.

Willian nunca havia viajado de avião antes e, ao entrar no aeroporto, teve vontade de dar meia volta e sair correndo ao ver a quantidade de gente e a loucura que era lá dentro. Felizmente, havia outro homem o esperando, dessa vez um mais sociável que Gideon. O irmão do capanga que o trouxera, Cassian, ajudara-o a fazer tudo que precisava no aeroporto e explicara como fazer quando precisasse trocar de avião no meio da viagem. Ele também dissera que nenhum dos irmãos poderiam acompanha-lo, pois Gideon também viajaria em uma missão enquanto ele tinha coisas para resolver ali mesmo e, desejando boa sorte para o garoto, se fora.

Contendo o medo, Willian embarcou no avião e, para sua felicidade, pegara facilmente no sono. O resto da viagem não era muito nítido, afinal sua mente passara sonolenta durante quase todo o tempo em que estivera viajando. Apenas alguns minutos antes de pousar é que a ansiedade o acordou e não permitiu mais o sono.

Ao pousar, esperava que Diego estivesse ali para recebe-lo, mas claro que fora apenas um pensamento tolo e, quando chegou à terra firme novamente, mais um capanga, esse chamado Cauã e que mais tarde descobrira ser o de maior confiança de Diego, estava encarregado de o levar até um apartamento. E isso fora tudo que lhe informara.

Chegando ao apartamento, Willian ainda tinha uma chama de esperança de que seria recebido por seus pais e que ambos estariam bem e vivos, cumprindo-se a parte de Diego do acordo. Porém dessa vez fora o próprio Lobo quem o recebera.

Diego abrira a porta com uma calma graciosa e um sorriso felino nos lábios finos. O homem era muito diferente do que imaginara, mas a realidade fazia muito mais sentido que suas fantasias, considerando que a pessoa à sua frente era pai de Gustavo. Os orbes azuis safira o encararam friamente e Willian sentira um arrepio lhe atravessar enquanto era analisado pelos olhos inquisidores do Lobo.

Depois do que pareceu uma eternidade, ele passara as mãos pelos cabelos pretos como nanquim e sinalizara para que entrasse no apartamento. Não era muito grande, nem parecia pertencer a alguém com uma mente tão perturbada quanto certamente era a de Diego.

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