(sobre)viva

Capítulo 54

Um dia planejado para ser tranquilo, sem muitas preocupações além do treino com dois amigos, estava indo milhares de vezes pior do que muitos pesadelos que Mirabela já tivera.

Quando pensava que seu pai já havia desistido de seu resgate, ele aparece dando um showzinho de horrores, tentando, muito provavelmente, mostrar seu poder de destruição sobre Diego. A briga de território que se tornara aquele resgate a enojava.

Robert não tinha se importado com quantos inocentes ele colocaria em risco ao fazer seu número triunfal. Mirabela não tinha certeza de que conseguiria evitar brigar com o pai se o visse.

Felizmente não fora ele quem aparecera no saguão principal para busca-los. Do lado de fora da porta de vidro semidestruída estava Izzy e, logo atrás, escorado em um carro desconhecido, Will.

-O que toda essa gente está fazendo aqui? –Grita Isabelle.

Mirabela olha para trás pela primeira vez em algum tempo. Apesar de terem deixado várias pessoas quando a última bomba explodiu, ainda haviam várias seguindo-os.

-Não temos como dar carona para todos, Mira. –Jonathan enfim se pronuncia.

A menina olha do irmão para Izzy, e desta para todos que esperavam por uma decisão sua. Ela não conseguia acreditar que eles haviam chegado até ali para não poderem seguir em frente. Não, não poderia ser.

Dessa vez seus pensamentos são interrompidos por barulhos, não de bombas, mas de tiros. Os guardas estavam ali. Haviam os encontrado. Mirabela demorara demais para agir e agora todos estavam em perigo novamente. Outro tipo de perigo. Outro tipo de ataque.

Felizmente, a menina nota, são apenas soníferos que saem das armas, afim não de machucar ou matar, mas de imobilizar e evitar a fuga. Menos mau. Sem ter o que fazer agora para ajudar aos outros, Mirabela corre em direção à saída, decidindo que não valia a pena perder a oportunidade de sair dali por uma tentativa fracassada de ajudar a mais gente.

-CORRAAAA- Jonathan grita enquanto aparentemente outra bomba explode ali perto, jogando pessoas, concreto, mármore e bancos e sofás pelos ares.- CORRE MIRABELA- A garota não havia notado que ficara estática enquanto encarava o irmão e a situação de caos ao seu redor. Não notara que parara de correr assim que cruzara a porta de vidro estilhaçado.

Uma sirene começa a tocar, seu som diferente das que a acompanharam até ali. Algo começa a se mexer perto de seus pés. Prestando melhor atenção ela percebe ser uma porta. Uma porta de emergência se fechando, uma parte vindo debaixo para se encontrar ao centro com outra parte que vinha de cima. Muito rapidamente.

-JONATHAN! –Ela tenta correr para dentro novamente atrás do irmão, mas braços fortes a seguram no lugar- JONATHAN CORRE! VOCÊ NÃO PODE FICAR AÍ! –Aos prantos e finalmente sem forças, ela desiste de se desvencilhar do aperto de Isabelle.

-MIRA, EU VOU FICAR BEM, OK? –As portas estavam quase encostadas quando o irmão chega a elas. Seria impossível atravessar. –EU TE AMO, MANINHA!

-Eu também te amo, maninho. –Mirabela sussurra aos prantos enquanto o som oco da porta de ferro enfim se fechando preenche o ambiente.

-Bella, você não está sozinha, ok? –Murmura Izzy contra seu ouvido enquanto a abraça apertado- Seu irmão vai conseguir sair. Nós vamos dar um jeito, está bem?

Mas nada do que Izzy falava parecia fazer sentido. Ela estava sozinha. Mirabela nunca se sentira tão perdida e sozinha antes. Nunca imaginara que poderia perder o irmão. Nunca imaginara o quão terrível seria realmente perde-lo. 

A garota não conseguia dizer se era ela quem estava desmoronando ou se era a construção a sua frente. Ou ambos. Sabia apenas que estava sendo arrastada para dentro de um carro por mãos amigas enquanto seu mundo virava de cabeça para baixo.