Capítulo 5

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A semana pareceu durar uma eternidade para passar e, por mais que Mirabela tentasse se concentrar na aula, nada do que era explicado parecia entrar em sua cabeça. Seus pensamentos insistiam em permanecer na lembrança do laboratório do pai e em tudo o que a mãe falara sobre Sunny. A menina ainda se perguntava se o corpo coberto por uma lona que vira há sete anos era a irmã, ou se seu pais teria causado a morte de mais uma criança. Não conseguia decidir qual das opções era pior. Independente da verdade, Eliza estava certa ao duvidar do que realmente atingiu a menininha, pois era óbvio que o pai mantivera um corpo para estudar o que quer que tivesse atingindo a criança.

O único dia daquela semana que não passou em vão foi a quarta-feira, quando os irmãos decidiram fazer uma visita ao hospital em que o pai costumava trabalhar e tentarem recolher alguma informação antes da ida a casa dos Turners no sábado. Mirabela sentia que Jonathan teria um ataque de nervos se eles não descobrissem mais nada até o final de semana.

Os dois saíram logo após o almoço, o qual milagrosamente tiveram na companhia da mãe, e pegaram um metrô para chegar lá. A cidade estava movimentada, mas ao se aproximarem do hospital, o movimento se reduziu drasticamente por ser em uma rua afastada do centro da cidade e um tanto quanto abandonada. Assim como o próprio hospital.

Talvez fosse por conta da pintura externa descascada e das árvores secas que o cercavam, ou do mofo que cobria boa parte da construção, qualquer um que passasse por lá tinha certo receio em entrar no lugar. O hospital parecia emanar morte. A falta de investimento e o descaso com a estrutura era visível.

Mirabela e o irmão já não se importavam mais com a aparência física do local, ou com o cheiro estranho que inundava suas narinas ao passarem pela porta de entrada, ou mesmo com a velha rabugenta que trabalhava na recepção. Depois que se acostumava, o lugar nem parecia ser assim tão ruim, apesar de nunca se tornar agradável ficar lá por muito tempo.

A garota sempre se perguntava como o pai conseguia suportar trabalhar lá, mas esse pensamento ruía quando entrava na sala de atendimento dele, onde era possível sentir um ar de familiaridade e acolhimento- talvez o único lugar dentro do hospital capaz de despertar tais sentimentos. Robert pintara as paredes de um azul claro, e nelas estavam pendurados quadros coloridos e alegres, assim como um dos próprios filhos ainda bebês. Ao contrário de todo o resto do hospital, as cadeiras sujas e desconfortáveis tinham sido trocadas por poltronas macias e bonitas. Havia ainda, em cima da mesa de madeira, uma orquídea branca que Mirabela dera a ele em seu último aniversário. Ao menos até a última vez que estivera lá, a sala era assim.

Mesmo odiando entrar no hospital, a garota não podia negar que sentiria falta de passar horas e horas, depois da escola, conversando com o pai, empoleirada nas poltronas e com um café quente nas mãos, que sempre trazia para eles. Quando foi finalmente tirada de seu devaneio por um cutucão do irmão, os dois já estavam adentrando a portaria:

– Olá, Senhora Katherine –Cumprimentou Jonathan.

– Boa tarde, garoto Blake – respondeu a senhora com um indício de sorriso no rosto, algo raro e que só podia significar que ela estava esperando por uma fofoca, afinal provavelmente teria notado a ausência de Robert no trabalho – Onde está seu pai? Percebi que ele não veio trabalhar nesses últimos meses e pelo o que eu sei, não tinha sido demitido nem havia pedido demissão -A mulher para um pouco, pensando- Mas acredito que agora, após tanto tempo sem aparecer, certamente será demitido. Posso não ser jovem, mas minha memória ainda está boa.

– Na verdade, é exatamente sobre isso que queremos falar com a senhora. -Respondeu Mirabela dessa vez. Ela não demonstrou, mas ficara muito chocada com a notícia de que fazia mais de mês que seu pai não aparecia para trabalhar. Faziam duas semanas apenas que eles não tinham notícias dele e um mês que ele saíra de casa, falando que estava que saíra em uma viagem a trabalho. Cada vez mais Mirabela sentia a imagem de confiança que tinha do pai ruir aos poucos.

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