Capítulo 27

181 34 70
                                    


Um mês atrás...

Durante algum tempo ele apenas ficou lá observando enquanto o carro sumia no horizonte, levando Mirabela e aquele baú dentro dele, para algum lugar desconhecido ao garoto. Quando já não enxergava nada além de um minúsculo ponto no horizonte, Gustavo se vira para a casa de Cassian e Gideon, pensando se realmente era necessário entrar lá, ou se fora uma burrice ter deixado Mirabela ir embora sem embarcar no carro numa tentativa estúpida e provavelmente falha de fugir dali.

Sabia que, não importava onde tentasse se esconder, Diego o encontraria. E as consequências não seriam nada agradáveis.

Cassian descia a pequena escadinha da varanda com ar de despreocupado, mas seus olhos demonstravam irritação. Não que fosse novidade, ou que ainda assustasse ao garoto, ao menos não como no início.

-E então, descobriu algo? –Pergunta Cassian em português, para se certificar que ele entenderia.

Por um momento Gustavo quase fala um estúpido sim, mas então segura a língua e pensa melhor. Infelizmente para Cassian, o menino gostara muito mais de Mirabela do que dos irmãos ou do próprio pai.

-Não, encontramos apenas diversos tipos e tamanhos de aranhas. Acho que terei pesadelos por algum tempo. –Só de lembrar, um arrepio sobe por sua espinha, o fazendo se sacudir todo e arrancando um brilho de diversão dos olhos de Cassian, que ainda o observava com seriedade.

-Não está mentindo, não é, garoto? –Ele lança um olhar desafiador para Gustavo, que apenas encara de volta- Sabe que descobriremos se estiver escondendo ou tramando algo...

Gustavo apenas parou de prestar atenção ao sermão de Cassian, tentando se concentrar em não revirar os olhos para aquelas tentativas de amedrontamento. Não funcionaria com ele. Sabia que seu pai era capaz de conseguir tudo o que queria e descobrir tudo o que duvidava, mas a não ser que pudessem ler sua mente, ninguém saberia se estava mentindo ou não. Sendo assim, apenas deu de ombros quando o homem a sua frente finalmente parara de falar e se seguiu para dentro da casa de madeira. 

Dirigiu-se para o quarto em que dormia e se atirou sobre cama, bagunçando as cobertas cuidadosamente arrumadas por ele mais cedo. Olhou para a escrivaninha do lado oposto, onde pilhas de cadernos e um notebook descansavam. Em poucas horas precisaria se debruçar sobre aquela tela, que agora o encarava negra e infinita, e mandar o maldito relatório para Diego. Sabia que não poderia esconder sobre Mirabela, pois Cassian certamente comentaria com ele mais tarde, mas poderia misturar mentiras e verdades e criar uma história e uma tarde convincentes e que não gerassem problemas para Bella. 

Gustavo gostaria muito de encontrar com a garota novamente, mas ao mesmo tempo não queria que isso acontecesse, pois infelizmente estava sendo constantemente vigiado e, quanto mais sabia, mais perigoso era para aquela família que tanto interessava seu pai. E se ele tinha certeza de uma coisa, é a de que não queria contribuir com os planos de Diego. Ao menos não se pudesse evitar.

                                                           *************

Fazia quase um mês, ou talvez mais –Gustavo já perdera a noção do tempo a essa altura- que ele conhecera Mirabela e, desde então, os dias têm sido terrivelmente entediantes. Fazer nada já havia se tornado rotina e ele não aguentava mais ficar preso naquela casa sem ninguém para conversar. Ou ao menos ninguém com quem quisesse conversar.

Cassian e Gideon ficavam quase o dia inteiro fora de casa, o que lhe dava muito tempo para pensar, falar sozinho, fantasiar outras realidades... tentar não enlouquecer. Fazia também muito tempo desde que não pegava em um livro, o que o estava deixando quase louco. Mas ele não arriscaria pedir material de leitura para os dois brutamontes com quem dividia a casa. Com toda certeza não.

(sobre)vivaOnde histórias criam vida. Descubra agora