Capítulo 42

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Jonathan continuava encarando o pai e a irmã, que agora não estavam mais abraçados, mas o rosto de ambos permanecia inchado e com marcas aparentes de lágrimas.

O menino realmente queria sentir pena do pai ou alguma comoção, mas no momento ele sentia raiva. Mirabela poderia não conseguir enxergar, ou apenas não se importar, mas tudo aquilo poderia ter sido evitado. A morte da mãe deles poderia ter sido evitada. Tudo aquilo fora culpa do homem sentado no sofá à sua frente. O homem que se quer se importou de esperar que o filho acordasse para contar o que estava acontecendo.

Jonathan estava cansado de ser esquecido ou ignorado pelo pai.

-Pai, tem sido um momento muito difícil para todos nós, pode ter certeza. Principalmente se você considerar que passamos o tempo todo sentindo como se estivéssemos com os olhos vendados atravessando um despenhadeiro. Você simplesmente decidiu desaparecer sem explicar nada, pois achou que estaria nos protegendo. Bem, como pode ver não foi bem isso que aconteceu, afinal Mirabela e eu não temos mais nossa mãe aqui. E tudo culpa sua. –Mirabela o olhava com repreensão nos olhos cinzentos, dolorosamente parecidos com os de Eliza, enquanto Robert parecia apenas indiferente, fazendo o sangue do garoto fervilhar ainda mais- E, não bastando isso, tudo o que nos permitiu saber não passava de mais mentiras e segredinho –Seu pai arregala um pouco os olhos- Sim, pai, eu estava ouvindo a conversa, porque novamente parece que se esqueceram de me chamar, não é? Será que apenas minha irmã que merece respostas? Eu não estou envolvido nisso, não é? Acho que estou apenas delirando, talvez eu realmente devesse voltar para a cama e dormir, afinal é isso que esperam de mim.

Um músculo se contrai no pescoço de Robert. Nada a mais. Nenhum sinal a mais de que se sentia constrangido ou desconfortável do fato de ter deixado o filho de fora. Quase como se concordasse com todos os questionamentos e afirmações que Jonathan havia acabado de fazer. Ao menos sua irmã parece se importar, de forma que olha incrédula para a falta de reação do pai.

Mas, antes que Jonathan possa fazer qualquer coisa para extravasar a raiva que crescia dentro de si, como uma faísca transformada em fogueira, a campainha toca, fazendo todos os olhares se direcionarem para a porta que leva à cozinha.

-Bem, acho que nossas visitas chegaram. –Robert lança um olhar significativo para Mirabela- Depois terminamos- Voltando seu olhar para o menino que permanecia escorado no batente da porta, complementa- E quanto a você, também precisamos conversar, mas a sós, caso compreenda o que isso signifique.

Jonathan encara o pai sem saber o que expressar. A sua raiva pareceu ter sido duplicada com esse complemento, assim como estava curioso e um tanto ansioso para saber o que o homem teria a falar com ele. Isso se não fosse apenas mais uma bronca que ele não merecia.

-Agora, quero que venham comigo e sejam simpáticos com a visita, independentemente do que aconteceu entre vocês.

Falando isso, Robert se levanta e vai em direção à porta, sem se importar se os filhos o seguem ou não. Mirabela e Jonathan trocam olhares de dúvida antes de seguirem o pai em direção à cozinha.

O menino não tem muito tempo para se perguntar quem seria a visita com a qual "precisariam ser simpáticos independente do que acontecera entre eles", pois assim que se aproximam de Robert o mesmo abre a porta, revelando duas pessoas encarando-os do corredor do prédio.

Jonathan não sabe o que fazer, mas agora compreende exatamente o porquê da fala do pai. Ele encara aqueles tão familiares olhos castanhos e traidores, que o encaravam de volta, assustados assim como no dia em que o encontraram encolhido e sujo de sangue na sua antiga casa.

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