Capítulo 48

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Willian passara as últimas horas tentando evitar precisar falar com Jonathan, pois se fosse necessário, ele certamente não saberia o que falar ou como agir. Contudo era inevitável ficar olhando para o garoto, quando ele menos esperava, se pegava encarando os olhos amendoados e os cabelos castanhos claro, que agora estavam quase na altura do ombro. Quando fora a última vez que ele próprio havia cortado os cabelos?

Após algum tempo, Willian notara que Jonathan provavelmente estava tentando fazer a mesma coisa que ele, pois até então não tentara se aproximar ou puxar assunto, mas muitas vezes ambos cruzavam o olhar sem querer, desviando logo em seguida e corando.

Não sabia por quanto tempo aguentaria ficar fazendo isso.

Willian estava escorado na pia da cozinha, tomando um copo de água e pensando no que a irmã mais velha dos gêmeos relatara, quando a mesma aparece cruzando a soleira da porta que dava para a sala.

Sunny entra na cozinha com um sorriso no rosto, mas assim que o nota, o sorriso se esvai, assim como o brilho que antes tomava seus olhos acinzentados, quase idênticos aos de Mirabela. Como ele não a reconhecera antes? A semelhança entre as duas era indiscutível.

A mulher começa a se aproximar devagar e a baixar o olhar para o chão, como se estivesse temerosa em olhá-lo nos olhos.

-Will?

-Oi...? Está tudo bem, Helo... Sunny?

-Na verdade, eu preciso conversar sobre algo, digamos, delicado com você.

Sunny agora o encara profundamente, preocupação e algo a mais pairando em seu olhar. Willian não sabe bem ao certo se realmente quer ouvir mais notícias ruins, mas entende que uma hora ou outra vai precisar saber do que quer que Sunny tenha a dizer. Sendo assim, o garoto apenas acena afirmativamente com a cabeça e fala:

-O que for, siga em frente. Pode falar, por favor.

-Apenas esteja ciente de que não será nada bom, ok? Eu sugiro irmos à sala, é bom que esteja sentado –ela lança um olhar na direção de seu copo- E de preferência sem nada nas mãos, muito menos de vidro.

Will a seguiu até a sala, arrependido de ter aceitado ouvir as más notícias. Sua cabeça estava tão confusa que ele não fazia ideia do que poderia ser, o que apenas o deixava ainda mais preocupado. Ele sentou-se no sofá branco, como Sunny sugerira, e agora a encarava confuso e temeroso.

-E então?

-Bem, como posso dizer isso...-Ela passa as mãos pelos cabelos loiros e então rói as unhas- Lembra quando eu falei que havia guardado energia para no dia em que eu voltasse para cá pudesse mudar algumas coisas na mente de Diego? Acredito que minhas habilidades tenham falhado em algum ponto, ou que alguém tenha conseguido reverter –Ela esfrega as duas mãos no rosto, atordoada- Eu realmente não sei como isso foi acontecer Will, eu juro que tentei evitar, mas eu não sabia –Lágrimas começaram a escorrer freneticamente em seu rosto- Eu não sabia que seus pais estavam lá, Will. Mas Diego soube que você fugiu antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, aparentemente.

-Por favor, pare.

Ele não queria mais ouvir. Não conseguia. Sabia exatamente o que tinha acontecido e o que Sunny tentava contar entre soluços e lágrimas. Diego matara seus pais. Não sabia como, mas não estava tão abalado quanto imaginou que estaria nesta situação. Talvez uma parte de si soubesse que, assim que fugira do Brasil, aquela consequência estava óbvia. Seus pais também sabiam, eles o advertiram.

-Como... como você soube? –Sua voz não passava de um sussurro.

Sunny, que havia se sentado no sofá também e chorava encarando o chão, levantou o olhar para ele e disse:

-Um homem, no avião, me entregou uma fita. Ele disse que não sabia o que era, apenas que o haviam mandado entregar para mim. Ainda acredito que ele não soubesse nada... mas isso não importa. A fita era uma gravação de –Ela engole em seco, sem conseguir continuar.

-Ok, já entendi. Obrigada, Sunny. –Ele pensa por um momento antes de complementar- Você poderia me emprestar essa fita?

-Você tem certeza de que a quer? Eu te dou ela, na verdade ela te pertence de certa forma, mas não aconselho a assistir. Pelo seu próprio bem.

Por favor.

Ela tenta esboçar um sorriso enquanto se levanta e vai atrás da fita. Willian não sabia ao certo porque a queria, mas sentia que precisava ver, que de certa forma aquilo aclamaria algo inquieto dentro de si.

Sunny volta do quarto de Mirabela com algo retangular e preto nas mãos e o alcança para Will. O menino sente o braço tremer enquanto o ergue para pagar a fita que contém os últimos momentos de seus pais. Ele encara o objeto com certa curiosidade e então uma lágrima escorre por sua bochecha.

-Obrigado, Sunny.

Ele não nota quando a mulher sai da sala, ou quando Jonathan entre e senta-se ao seu lado e o abraça, seu cheiro de baunilha o acalmando.

-Ela te contou, não é?

Jonathan fica um tempo em silêncio antes de responder:

-Sim, Sunny estava mostrando para meu pai quando entrei no quarto de Mira. –Ele se afasta o suficiente para encarar os olhos do amigo- Quer uma dica? Não tente assistir. Por favor, não faça isso. –Havia também uma lágrima caindo de seus olhos.

O que poderia ser tão ruim? 

-Se você for assistir, promete que vai me chamar? Que não vai passar por isso sozinho? –Jonathan sussurrara contra sua orelha- Eu não quero mais te ver guardando toda a dor para si, por favor, me deixa compartilhar ela com você, aliviar esse peso. Eu estou aqui, estou com você, Willian Turner.

Jonathan se inclina e deposita um rápido beijo em seus lábios ressecados. Willian fica sem reação. Ali, sentado ao lado de Jhon e encarando o brilho de preocupação em seus olhos castanhos, tendo absorvido cada palavra que saíra daquela boca macia, Willian conseguia não pensar no que Sunny acabara de lhe dizer. Conseguia esquecer a fita que ainda estava em suas mãos. Porque ali, naquele momento, ele se sentia em casa.

Sentia que, apesar de tudo, não estava mais sozinho. Que nunca estivera sozinho, apenas não enxergara isso antes, infelizmente.

Eles teriam ficado eternamente naquela posição, abraçados, caso Robert não tivesse entrado pisando estrondosamente e falando de forma desesperada:

-Alguém viu a Mirabela? 

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