Capítulo 44

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Sophia Blake estava aguardando seu voo há mais de uma hora, tendo se certificado de não deixar nenhuma suspeita para trás quando deixou a casa de seu "marido" algumas horas atrás. Na verdade, Diego provavelmente nem se lembraria dela se tudo ocorresse conforme o planejado.

Mas ela preferia não contar com a sorte.

-Última chamada para o voo com destino final à Washington DC.

A mulher se apressa em recolher sua bolsa e casaco que deixara praticamente jogados no banco ao seu lado e corre para o terminal, ansiosa para finalmente começar sua jornada de volta para casa e para sua família. Sunny não via a hora de enfim poder conhecer os irmãos mais novos e rever os pais. E o Sr. Gato.

-Identidade e passagem, por favor –A mulher no balcão pediu, o rosto marcado pelo sono e presença de olheiras, além do mau humor que a deixava assustadora. Sophia entregou a identidade, a passagem e o passaporte, mesmo que não solicitado- Heloísa Bezerra, pode passar. Próximo!

Aquele nome ainda lhe causava arrepios, mas ele era a menor das preocupações da garota enquanto permanecia em solo brasileiro. A identidade falsa e todos os outros documentos foram entregues a ela no dia em que seu pai lhe ofereceu a missão, a qual ela não pensou duas vezes antes de aceitar. Sabia do perigo que corria caso fosse descoberta, mas ainda era melhor do que permanecer naquele apartamento se sentindo inútil. Além disso, Sunny possuía uma carta na manga.

E era exatamente essa "carta na manga" a causa de tudo o que estava acontecendo. Ou talvez tenha sido apenas a consequência das ideias malucas de Robert. Fosse o que fosse, ainda era um perigo e uma proteção para ela.

Sunny percorreu o corredor do avião procurando o número indicado no papelzinho amassado em sua mão. Uma mulher de meia-idade, pele alva e cansados olhos castanhos estava sentada na poltrona da janela e olhando para os pés como se já estivesse passando mal.

-Com licença, acho que vamos ser companheiras nessa viagem- A mulher ergueu o olhar e deu um sorriso murcho para ela antes de responder:

-Querida, você se incomodaria de trocar de lugar comigo? Pensei que seria legal ficar na janela, mas acho que precipitei.

Sunny concorda com a cabeça e espera a senhora sair antes de se acomodar no assento. Não era como se ela não gostasse de ver a vista sem obstruções. Ela sorri para a mulher ao seu lado antes de estender seu casaco sobre as pernas e abrir seu livro.

Depois de umas cinco tentativas de ler o mesmo parágrafo, Sunny desiste e se volta para a janela, onde as cidades se tornam pequenas enquanto passam rapidamente lá em baixo, assim como seus pensamentos começam a voar pela sua mente e voltando para o passado. A mulher a seu lado já dormindo há alguns minutos e sem outra coisa para fazer, ela se permite recordar.

O reflexo que a encara do vidro é tão desanimado e tão diferente da jovem que chegara naquele país dois anos antes, ansiosa por uma aventura e finalmente poder colocar em prática o que vinha treinando por mais de quinze anos. Os poderes que ela finalmente controlara e já conseguia usar a seu favor. 

Ela ainda se lembrava de quando era pequena e tomou um experimento do pai pensando ser água, do desespero dele, pois ainda não estava pronto e Robert não fazia ideia dos efeitos em humanos. Foi a partir do acaso e da sorte que o sonho dele de infância se tornou realidade.

Os primeiros anos foram aterrorizantes e enlouquecedores. Robert a afastou do resto da família assim que percebeu que ela poderia se tornar um perigo. Até hoje ela não sabia ao certo qual fora a desculpa que ele dera para seu desaparecimento. Não tinha certeza se ainda queria saber.

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