Capítulo 8

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Havia se passado um mês desde que a vida de Gustavo mudou completamente- e não se pode dizer que tenha sido para melhor. Há exatos 30 dias atrás sua mãe morrera em acidente de trânsito (que ele ainda achava muito mal explicado) e então o garoto passara a morar com seu pai no outro lado do país.

Ele realmente não estava acostumado ao frio que fazia no Rio Grande do Sul no mês de junho, afinal ele morara quase sua vida inteira no Nordeste, mais especificamente na cidade de Bom Jesus do Piauí, conhecida por suas temperaturas elevadas. Apesar do choque cultural, o de temperatura era o mais doloroso. Mas essa nem era a pior parte. Na verdade, não era nada quando comparado com tudo que mudou em sua vida em apenas um mês. 

A primeira coisa que Gustavo precisou fazer ao ir morar com o pai, em Porto Alegre, foi parar de frequentar a escola para ficar enclausurado no escritório do pai "ajudando-o". O garoto ficava furioso ao pensar que logo agora, quando finalmente estava no Ensino Médio, quase terminando o colégio, teria que perder seu tempo escolar fazendo algo que certamente Diego teria pessoal suficiente e qualificado para fazer. 

Talvez o que o deixasse ainda mais bravo era o fato de que o homem praticamente o deixava isolado de qualquer possível amizade, pois ele só podia interagir com três caras que montam guarda próximo à sala onde ele "trabalhava". O garoto jurava que, se tivesse que ficar mais tempo vivendo daquele jeito, ele entraria em depressão. Segundo Diego, o menino deveria se concentrar no que lhe fora confiado e esquecer a vida de moleque que tinha antes, porque aquilo não lhe levaria a nada. Obviamente Gustavo não conseguia entender o que tinha de tão genial em separar relatórios e pesquisas que eram entregues todas as horas e computá-las, assim como não entendia em que momento aquilo lhe acrescentaria mais do que terminar o Ensino Médio.

A realidade é que até agora todos os relatórios não pareciam fazer sentido, além de serem, a maioria, quase sempre iguais ou muito semelhantes. Até agora nenhuma tinha chamado sua atenção. Mas então um endereço que ele ainda não tinha visto em nenhum dos emails recebidos no último mês envia uma mensagem bem diferente das quais Gustavo estava acostumado a reescrever e repassar para seu pai. 

"Foram encontrados resquícios do que provavelmente seria um novo método de desenvolver você-sabe-o-quê em seu laboratório durante a última checagem. Não houve nenhuma informação obtida nas últimas horas, mas ainda não vamos desistir. Seu paradeiro é desconhecido e nenhum registro foi encontrado sobre a fórmula ou sobre ele. Por favor nos repassar o próximo método de ação o quanto antes para que possamos agir."

Gustavo teria rido com a referência provavelmente acidental a Harry Potter caso não fosse um relatório mais estranho do que os habituais e enviado por um endereço anônimo dos Estados Unidos, quando tudo que ele recebia sempre vinha de dentro do próprio Centro. 

O garoto pensou no mínimo dez vezes antes de enviar a mensagem que possuía como título urgente para o pai. Apesar de ter quase certeza de que algo errado estava acontecendo dentro da própria estrutura em que se encontrava, ele teve um sentimento de que permitir que Diego colocasse os olhos naquele relatório em específico não era algo nada bom. 

Apesar disso, ele enviou. Talvez sua intuição apenas estivesse sobrecarregada pela raiva e medo que ele carregava todos os dias no último mês. Mas certamente não parecia coincidência o fato de seu pai entrar pouco tempo depois na sala em que o garoto ficava. Muito menos a decepção estampada no rosto e um brilho de maquinação no olhar. Ele estava bolando um plano. Infelizmente o menino conhecia aquela expressão.

-Guga, tenho uma ótima notícia para você –O sorriso que ele acabara de abrir era obviamente forçado. Gustavo admirava que seu pai conseguisse fingir simpatia, por mais patético que fosse, porque ele apenas tentava não mostrar os dentes de forma ameaçadora ao ouvir Diego o chamar pelo apelido dado pela mãe. Porque, ao contrário do amor que sentia por ela, Gustavo odiava o pai. 

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