Capítulo 37

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Assim que seus olhos se acostumam à luz e o garoto volta a enxergar o mundo ao seu redor, ele nota a enorme e mal iluminada garagem, com poucos carros à vista e muitos estacionamentos sobrando, mas mesmo assim Diego continuava a vagar pelo lugar. Willian não duvidava de que ele sabia exatamente o que estava fazendo.

 O lugar se assemelhava a um labirinto e Willian torcia para não precisar fugir por ali se algo desse muito errado e essa fosse a única alternativa. Se isso acontecesse, tinha certeza de que estaria perdido –e não somente no sentido literal. 

Finalmente o carro começa a subir uma rampa, parando para que Diego insira um código em um aparelhinho fixado à parede do lado do motorista. Outro portão se abre após o bip do aparelho e dessa vez é a luz do sol que cega o garoto. Willian nota um certo desconforto no homem ao seu lado, mas nem assim ele deixa de seguir em frente, como se já soubesse o caminho de cor, podendo fazê-lo mesmo vendado.

Dessa vez o lugar não é tão grande e nem tão assustador –ou talvez seja a luz do sol que o faça parecer melhor- e vários carros estão estacionados ali. Mesmo assim, não é difícil para Diego encontrar uma vaga e estacionar o Tesla.

-Talvez queira levar o casaco que está no banco de trás.

Willian se sobressalta com o comentário após tanto tempo de silêncio, mas tenta não demonstrar. Ele apenas dá um aceno ao homem e se vira para trás, a fim de localizar o casaco e pegá-lo.  

Um amontoado preto e cinza chama sua atenção e ele o pega, sentindo o tecido nem muito leve e nem muito grosso nas mãos. Willian lança um pequeno sorriso em agradecimento à Diego antes de abrir a porta do carro e sair para o ar um pouco abafado que os rodeava no pátio, fazendo-o se perguntar o porquê do casaco.

Mas não demorou muito para ele descobrir. 

Assim que entraram no imponente prédio no centro do pátio, e que as portas automáticas se fecharam, uma lufada de ar gelado o invadiu, fazendo-o colocar imediatamente o tecido macio que pendurara em seu braço. 

Quando já estava se sentindo confortável, mesmo com o forte cheiro de perfume impregnado no casaco, Willian se permitiu dar uma olhada no lugar. Diego havia se dirigido a uma bancada branca e moderna enorme no centro do que parecia ser uma recepção. Uma escada rolante mais aos fundos levava a um andar superior, do qual se podia ver apenas algumas pessoas transitando e duas portas de onde ele estava.

Na recepção haviam diversas poltronas de aparência confortável, uma televisão em uma das extremidades e muitas pessoas conversando, lendo ou simplesmente esperando. Ou tomando café. O aroma delicioso e calmante de café recém passado o atingiu em cheio, e Willian se perguntou se seria pedir muito uma xícara de café à Diego, mas, assim que esse se virou da bancada e veio em sua direção, teve certeza, pelo seu olhar, que o café ficaria apenas na vontade. 

Com uma última olhada para a recepção, Willian pensou que aquele certamente não era o lugar em que havia imaginado ser o cárcere de seus pais. Em sua mente, ambos estavam em algum galpão escuro e úmido, amarrados em cadeiras e com capangas vigiando. Talvez sua mente tivesse uma queda pela dramatização. Mesmo assim, ele não pôde evitar que um pouco de alívio se alastrasse em si, imaginando que aquele lugar ela bem melhor para a estadia de seus pais. 

Ou talvez o lugar possuísse um necrotério, e era lá que Lewis e Helen Turner estavam.

Willian sacudiu a cabeça, tentando expulsar tal pensamento, mas por alguma razão ele decidira se incrustar em sua mente, matando qualquer alívio que outrora estivera ali. 

Os dois já haviam subido dois lances de escada rolante e agora Diego o guiava entre corredores e portas e pessoas. Talvez fosse inteligente tentar gravar o caminho percorrido para o caso de uma emergência, mas Willian estava perdido demais em seus pensamentos e com medo demais do futuro próximo para se incomodar com isso.  

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