Capítulo 4

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A manhã custou a chegar e, para piorar o humor de Mirabela, estava extremamente quente e abafado, sinalizando que o dia seria chuvoso. Ainda por cima era terça-feira, o que significava que ela precisaria levantar-se logo para se arrumar e ir para a escola. O que ela mais queria era ficar no quarto o dia inteiro perdida em seus pensamentos. Era um ótimo dia para fingir uma terrível enxaqueca e poder aproveitar em casa.

Mas, para a infelicidade da garota, seu irmão não havia esquecido da conversa da noite anterior. Antes que ela sequer pudesse levantar da cama, Jonathan já estava adentrando o quarto e abrindo as cortinas. Com a entrada repentina de luz, a garota piscou os olhos e virou a cara.

-Bom dia, irmãzinha linda! Dormiu bem? –Obviamente ele estava sendo irônico, não só pelo fato de elogiá-la, mas também por ele ter notado as olheiras enormes e o ódio no rosto dela. –Levante rápido, nossa mãe sairá daqui uma hora e precisamos perguntar para ela ainda hoje sobre Sunny. Sabe, para continuarmos a investigação.

-Se está tão curioso, por que simplesmente não foi e perguntou? Não poderia me deixar dormindo e depois me contar? –Com uma revirada de olhos ela se levantou e começou a arrumar a cama- Eu teria mais 15 minutos de sono antes do despertador tocar!

-Talvez eu tenha pensado que você também gostaria de ouvir a história, mas se quiser que eu pergunte e relate mais tarde... -Ele dá de ombros, provocando a irmã conforme caminhava em direção à porta.

-Agora que você já me acordou vamos juntos perguntar, obviamente. -Ela respirou fundo antes de complementar:

-Estou curiosa também, mas tenho medo do que ela possa dizer. Isso se aceitar falar alguma coisa.

-Em primeiro lugar, você nem se quer estava dormindo. Está, literalmente, estampado no seu rosto que você passou a noite inteira acordada, assim como eu. –Ele não deu tempo para a irmã perguntar o que tinha acontecido para ele não ter dormindo, pois certamente não era pelo mesmo motivo que ela- Segundo, como assim você está com medo? -Um enorme sorriso debochado brilha no rosto de Jonathan.

-Não me olhe com essa cara como se fosse algo extraordinário! -Mirabela bufa, enquanto abria as portas do armário a procura do uniforme- Sim, eu estou com medo, mas não da forma que você está pensando. -Ela finalmente vira para encarar o irmão novamente- Estou com medo de estarmos criando muitas expectativas sobre o assunto e, ou Eliza não saber de nada, ou realmente não ser nada demais. -Ela engole em seco e complementa em um sussurro para si mesma:

-Ou ser algo que não queiramos saber.

-Achei que já estivesse tão acostumada com decepções que não se importaria com mais uma. –O menino certamente não havia ouvido o que a deixava verdadeiramente temerosa e muito menos notara a expressão em seu rosto pálido e, caso ele não tivesse rido, talvez fosse possível ter evitado que um tênis voasse em direção ao irmão, o atingindo em cheio e deixando uma marca avermelhada e um garoto totalmente surpreso. -Calma aí, maninha, estava apenas brincando!

Mirabela se arrepende de ter jogado o tênis no momento seguinte, a raiva agora querendo se derreter em lágrimas, as quais ela treinadamente não permitiu que saíssem.

O barulho da batida chamou a atenção de Eliza, que tomava seu café tranquilamente quando o ouviu. Sem saber o que estava acontecendo, ela saiu correndo para o quarto de sua filha e ficou perplexa com a cena que viu. Bella estava com um tênis em uma das mãos, os cabelos castanhos em uma trança desleixada e destruída, e ainda vestia seu pijama de corujas. Sua expressão era de raiva, certamente destinada ao garoto espantado em sua frente. Diferentemente da irmã, Jhon estava prontamente vestido para o dia escaldante, com os cabelos, da mesma tonalidade da irmã, cuidadosamente penteados. A única coisa que não estava certa no menino era a enorme marca vermelha em seu rosto, que tinha o formato da sola do tênis que estava caído a seus pés.

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