Capítulo 19

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Washington, 2005

Saindo pesarosamente do laboratório, Robert decidiu levar a mãe e o tio da criança até lá para vê-la. Não sabia como suas pernas conseguiram leva-lo até o andar de cima e, depois, até a cozinha, onde estavam todos aguardando ansiosos, sem falharem. Sua mente trabalhava a todo instante, tentando entender como poderiam ser possíveis todas aquelas coincidências.

Ao colocar o pé na soleira da porta, ele foi surpreendido por Cassandra, que o encarava com uma exigência silenciosa nos olhos cor de mel. Robert não sabia como dizer o que tinha acontecido. Várias vezes já dera notícias como essa, mas nunca tinha sido com crianças... nunca nessa situação.

-Cassandra, Cassian, preciso que me acompanhem. –Tentou manter a voz o mais firme e confiante possível, evitando deixar transparecer o que realmente sentia.

Os dois adultos o seguiram até o porão, onde o alçapão se encontrava aberto. Os irmãos encararam aquela abertura no chão e, assim como a maioria das pessoas, devem ter achado estranho o fato de haver um alçapão em um porão. Robert fez sinal para que eles descessem, tomando a frente e se dirigindo ao laboratório.

Assim que viu a maca no canto do ambiente, Cassandra saiu correndo em direção à filha e, ao constatar que essa não mais respirava, pôs-se a chorar descontroladamente. Essa com certeza não era a forma como Robert planejara dar a notícia, mas também não tinha planejado como fazê-la. Um aperto enorme se deu no peito do homem, e lágrimas quentes desciam por seu rosto. Não conseguia evitar se lembrar de quando ele mesmo passara por aquilo, a dor que parecia nunca ter fim, a perda insubstituível, a vontade de desistir.

Enquanto ele e Cassandra estavam com os rostos marcados pelas lágrimas, Cassian parecia uma muralha em frente a porta. O homem não demonstrava sentimento algum, os olhos sem nenhum brilho, o rosto em um semblante sério. Parecia ser sobrenatural que ele não pudesse expressar absolutamente nada diante daquela situação, mas talvez fosse apenas o choque do momento. Robert realmente esperava que fosse isso.

-Eu... eu sinto muito. Não teve nada que eu pudesse fazer para ajudá-la.

Cassandra se virou para ele, secando as lágrimas que lhe escoriam pela face. Ela apenas puxou o ar e começou a passar as mãos pelos cabelos molhados de suor da filha.

-Não direi que está tudo bem, porque essa seria a maior mentira que eu diria, pois sinto como se não conseguisse respirar, como se fosse desabar em um buraco sem fundo, como se tudo tivesse sido tirado de mim de repente –Ele fez que sim com a cabeça. Ninguém melhor que ele para saber o que a mulher estava sentindo- Mas entendo que não teve culpa, senhor Robert. Sei que não tinha muita coisa que pudesse fazer aqui e às pressas e... –Ela se vira, dirigindo um olhar de raiva em direção ao irmão parado na porta- Na verdade, se for para culpar alguém, deve ser Cassian, que não me deixava levar Gabi até um hospital, ou mesmo pedir ajuda antes.

Cassian, para aumentar a raiva da mulher e ascender o sentimento em Robert também, apenas deu de ombros, como se não se importasse que sua teimosia tenha custado a vida da sobrinha.

Por que negar leva-la a um hospital? Ou pedir por ajuda?

Não tinha cabeça para lidar com isso agora e, vendo o desespero de Cassandra, dirigiu-se para a porta e levou Cassian consigo para fora do laboratório. Os dois ficaram um momento se encarando, sem saber o que dizer. Robert não sabia se deveria dar as condolências ao homem, não quando ele deixou bem claro que não se importava.

-Por que não quis leva-la a um hospital? –Decidiu testar a sorte. Quem sabe ele se dignaria a falar alguma coisa.

-Tenho meus próprios motivos, dotorzinho –Os nervos de Robert se ascenderam em fúria e ele teve que se segurar para não socar a cara do homem, principalmente porque sabia que perderia em uma briga com ele. Respirando fundo e tentando manter a calma, Robert falou:

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