Capítulo 1

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-CORRAAAA- Jonathan grita enquanto aparentemente outra bomba explode ali perto, jogando pessoas, concreto, mármore e bancos e sofás pelos ares.- CORRE MIRABELA- A garota não havia notado que ficara estática enquanto encarava o irmão e a situação de caos ao seu redor. Não notara que parara de correr assim que cruzara a porta de vidro estilhaçado.

Uma sirene começa a tocar, seu som diferente das que a acompanharam até ali. Algo começa a se mexer perto de seus pés. Prestando melhor atenção ela percebe ser uma porta. Uma porta de emergência se fechando, uma parte vindo debaixo para se encontrar ao centro com outra parte que vinha de cima. Muito rapidamente.

-JONATHAN! –Ela tenta correr para dentro novamente atrás do irmão, mas braços fortes a seguram no lugar- JONATHAN CORRE! VOCÊ NÃO PODE FICAR AÍ! –Aos prantos e finalmente sem forças, ela desiste de se desvencilhar do aperto de Isabelle.

-MIRA, EU VOU FICAR BEM, OK? –As portas estavam quase encostadas quando o irmão chega a elas. Seria impossível atravessar. –EU TE AMO, MANINHA!

-Eu também te amo, maninho. –Mirabela sussurra chorando ainda mais enquanto o som oco da porta de ferro enfim se fechando preenche o ambiente.

Era difícil imaginar que tudo aquilo estava acontecendo por conta de uma maldita carta recebida pela família a apenas alguns meses atrás. Se ela parasse para pensar, pareceria muito mais tempo. Se ela pudesse voltar no tempo, queimaria aquela carta.


Washington, julho de 2013

    Mirabela, apesar de seus 15 anos era dona de uma personalidade forte, mas ao receber a carta que o pai deixara, e apesar de já ter uma vaga ideia do que se tratava, ficou completamente desesperada. Não queria falar para a mãe que já sabia do segredo do pai (ou achava que sabia), muito menos que havia entrado escondida no laboratório dele, e da esperança que Robert, seu pai, não tivesse realmente se matado, afinal ele não aparentava ter motivos para tal, a menos que no tempo em que ele passou "sumido" tenha feito algo realmente ruim, que pudesse justificar seu ato. E era isso que ela mais temia. Não tinha dúvidas de que o pai era realmente incrível, a dúvida era até que ponto "ser incrível" era uma coisa boa, já que agora sobrara a responsabilidade dos atos dele para ela e o que restou de sua família. 

     Talvez isso fosse um pouco demais para a cabeça de alguém tão jovem, mas o que mais ela poderia pensar? A garota não podia negar que sua família era um tanto estranha, o que se comprovava ao observar a quantidade quase nula de amigos que os gêmeos tinham, isso porque quase todos tinham receio em se aproximar deles. Mas para os dois isso não tinha a menor relevância, na verdade acreditavam que a amizade era uma perda de tempo e que não precisavam mais do que ter um ao outro. Sua mãe vivia viajando a trabalho e, mesmo dizendo dar tudo de si para ajudar a cuidar dos filhos, não pode-se afirmar que aparentava se importar mais com eles do que com um animalzinho de estimação. Talvez fosse por ela se ausentar por meses a fio desde a infância dos irmãos, que estes criaram uma relação mais forte com o pai, que era um cientista e pesquisador, além de amante de ficção científica, segundo o que conversara com a filha, com quem tinha ainda mais proximidade. 

    Depois de criar muitas"paranoias" – como dizia seu irmão – ela decidiu compartilhar com Jonathan seus pensamentos antes que eles a enlouquecessem.  Mirabela chamou o garoto para seu quarto para tentar contar o que vinha a atormentando desde que lera a carta naquela manhã, fechando a porta de forma que sua mãe e nenhuma outra pessoa que pudesse estar na casa escutasse o que estava para ser dito. O lugar era mais ou menos comum para uma adolescente: paredes brancas, cama de solteiro com colcha que representava o universo, uma bancada de madeira com um notebook e uma cadeira de rodinhas preta, vários livros de ciência e tecnologia, além livros de romance e fantasia, em uma estante do lado oposto da cama. Apesar da quantidade de coisas presentes no quarto e no tamanho do mesmo,a garota se orgulhava em dizer que possuía um quarto limpo e organizado. 

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